Portas Abertas • 15 ago 2020
Os muçulmanos de todo mundo, assim como os do Irã, seriam liderados pelo califa
Califado é uma forma de governo monárquico islâmico, totalmente aprovada pela teologia muçulmana tradicional. O novo sistema de governo surgiu após a morte do profeta Maomé e significa “sucessão” em árabe. Para os sunitas, o califa deve ser membro da tribo dos coraixitas e eleito pelos muçulmanos ou representantes deles. Já os xiitas, acreditam que o líder supremo deve descender diretamente da família do fundador da religião.
Dentre as funções do califa estão a aplicação da sharia (conjunto de leis islâmicas) e a expansão do islamismo pelo mundo. Para isso, ele deve ser reconhecido por todos os povos muçulmanos. Segundo os mais ortodoxos, o califado durou até o fim do Império Otomano, com a abolição na Turquia, após o fim da Primeira Guerra Mundial.
Para os muçulmanos mais ortodoxos, a Turquia foi o último local onde havia o califado. Ele foi abolido nos anos 1920
Porém, há uma vertente que acredita que o califado tenha durado apenas três décadas após a morte de Maomé. Os líderes sucessores são conhecidos na religião como os Quatro Califas Bem Guiados. Muitas dinastias do Império Otomano se referiam aos seus monarcas como califas, mas os processos de sucessão de poder nesses casos eram hereditários.
O principal objetivo do califado é regressar ao islamismo pregado por Maomé e pelos principais líderes posteriores. É uma representação de unidade muçulmana, em que a lei sagrada imperaria e traria justiça social. Na versão extremista, não há espaço para vertentes islâmicas como os sufis, ahmadis e xiitas, por isso eles são combatidos por radicais que desejam implementar a monarquia islâmica.
Há jihadistas que pretendem criar um califado mundial como a Al-Qaeda e a Irmandade Muçulmana. Outros têm objetivo regional, como o Estado Islâmico, Talibã e Hamas. Mas todos desejam a obediência das leis islâmicas. “A sharia instrui o homem quanto à maneira de se alimentar, receber visitas, comprar e vender, matar animais, lavar-se, dormir, ir ao banheiro, governar, praticar a justiça, orar e realizar outros atos [de culto]”, explicou um estudioso da religião. Dentre elas está o hadud, que é um conceito de dura punição para pecados como adultério, estupro, homossexualidade, roubo e assassinato.
Porque no califado há a imposição da sharia. Nesse contexto, os cristãos costumam ser perseguidos e considerados cidadãos inferiores. Em países como Arábia Saudita, Afeganistão, Sudão e Líbia, os seguidores de Jesus estão proibidos de viver a fé livremente, não devem manter contatos com cristãos ex-muçulmanos e muitas vezes são acusados falsamente de blasfemar contra o islamismo, para que sejam presos ou até mortos. Nos territórios, também é crime entrar com material cristão e não há igualdade entre a população, já que o conceito de democracia é algo criado pelo mundo ocidental. As leis são diferentes e mais brandas para homens muçulmanos.
Nos locais onde os jihadistas impõem a sharia, como na Nigéria, milhões de cristãos estão deslocados para salvar as próprias vidas
Os califados criados pelos extremistas nunca foram reconhecidos por todas as nações islâmicas do mundo. Então, é difícil que a monarquia seja recriada com um apoio unânime de todos as correntes teológicas muçulmanas. Porém, há líderes que gostariam de reviver a glória do Império Otomano, como o atual presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
Ele tem procurado desfazer as mudanças que Mustafá Kemal Ataturk fez no país com a fundação do Estado turco moderno, na década de 1920. Uma das atitudes mais controversas do antigo líder foi a abolição do califado. Outro ponto foi a secularização da Hagia Sophia, que tinha sido transformada em mesquita desde a invasão otomana.
A Portas Abertas noticiou algumas decisões do atual executivo, como a deportação de cristãos estrangeiros que já viviam no país há anos, e a transformação novamente da Hagia Sophia em um templo islâmico. Entretanto, nenhuma dessas ações garantem que o mundo muçulmano se uniria e reconheceria um líder turco como califa.
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