Portas Abertas • 01 out 2020
Os cristãos chineses que desejam viver a fé cristã precisam agir em segredo para não atrair atenção do governo
No dia 1º de outubro de 1949, Mao Tsé-tung proclamou a República Popular da China. Nessa data começaram as principais transformações consequentes da implantação do comunismo no território. Um dos resultados foi a perseguição a crenças que pudessem contradizer as ordens dadas pelo Estado.
Sim, principalmente quando a religião prega algo diferente da ideologia do Partido Comunista. Mas a hostilidade aos seguidores de Jesus no país comunista é mais antiga e há anos preocupa a igreja de Jesus ao redor do mundo. Já na dinastia Ming, entre 1368 e 1644, os cristãos foram banidos do país. Mas a perseguição atual começou em 1949, quando a República Popular da China foi criada. Todas as religiões que exigiam a lealdade dos chineses em detrimento do Estado foram violentamente combatidas. Forçando, assim, a fuga de missionários cristãos estrangeiros do país.
Apesar da Revolução Cultural, que ocorreu entre 1966 e 1976, ter transformado toda a sociedade chinesa nos padrões desejados pelos comunistas, a igreja de Jesus sobreviveu de maneira clandestina. Havia, sim, uma igreja permitida pelo Estado chinês, mas essa deveria excluir qualquer ensinamento bíblico que fosse contra os ideais do Partido Vermelho, jurar lealdade aos governantes, ter uma bandeira da China em exposição e cantar o hino nacional em cada encontro.
As igrejas chinesas permitidas pelo governo comunista são monitoradas em todo tempo e qualquer crítica ao sistema pode resultar em sérias consequências
Acredita-se que existam 97,2 milhões de cristãos na China, que enfrentam a hostilidade vindas de oficiais do governo, partidos políticos e líderes religiosos não cristãos. A opressão comunista e pós-comunista é um instrumento para que o governo mantenha o poder e a harmonia na sociedade. O atual presidente, Xi Jinping, tem se mantido no poder por meio de um forte combate a qualquer ideia que possa ameaçar a autoridade máxima dele. Nesse cenário, os cristãos convertidos e de minorias religiosas, como os muçulmanos de Xinjiang, também são alvos de ações mais diretas.
Em 2005, a Portas Abertas publicou um posicionamento sobre a China. O documento reconhecia que o país aparentava estar mais acessível ao cristianismo, já que tinha aberto as portas para fazer negócios com países ocidentais. “A igreja cristã na China pode não ter tantos mártires como a Colômbia, enfrentar tantas restrições quanto as irmãs na Arábia Saudita, ou lutar com tantas multidões extremistas como os irmãos na Indonésia, mas os milhões de cristãos na China permanecem como a maior comunidade perseguida hoje”, dizia a carta.
Desde 2021, a China está no Top20 da Lista Mundial da Perseguição. As ações contra os cristãos chineses podem variar de acordo com a região onde eles vivem e atuam. Alguns líderes são presos e condenados quando descobertos, como foi o caso do pastor Wang Yi no início de 2020. Na região centro-leste do território, em 2019, as autoridades removeram cruzes, fecharam escolas pertencentes à igreja e exigiram que os cristãos de uma cidade se registrassem.
Uma igreja doméstica foi atacada por oficiais do governo após os seguidores de Jesus desobedecerem a ordem de registro
No dia 18 de junho de 1981, a Missão Portas Abertas entregou um milhão de Bíblias, por meio do projeto Pérola, na praia de Swatow, atualmente Shantou, ao sul do país.
Desde 1965, a Portas Abertas atua para o fortalecimento dos cristãos chineses. Mais tarde, 30 mil Novos Testamentos foram entregues, mas não foram suficientes para as necessidades dos cristãos no território. A missão passou a ser entregar um milhão de Bíblias. Este foi o projeto Pérola em 1981, definido pela revista americana Time como "a maior operação de sua categoria na história da China".
“Tenho certeza que não tinham ideia do pedido de um milhão que faziam. Eu também não tinha ideia de quanto era um milhão de Bíblias, senão teria dito não. Felizmente, nós fizemos a entrega em obediência à vontade de Deus”, concluiu o Irmão André, fundador da organização internacional sobre a ação. Assista ao vídeo e veja os detalhes da ação.
Hoje, além de fornecer literatura bíblica, a Portas Abertas trabalha no fortalecimento da liderança cristã e treinamento bíblico. Os jovens das igrejas domésticas também podem participar de acampamentos. “Amamos a Jesus, mas também amamos nosso país e respeitamos a lei. O governo sabe que a comunidade nos respeita muito, que ouve a nós ao invés do governo. Alguns anos atrás, começamos com alguns cristãos e agora somos milhares. Os governantes estão realmente preocupados”, explicou o pastor Timothy* à Portas Abertas.
Apesar do Estado comunista não querer que a população tenha uma religião, o confucionismo foi reconhecido como uma crença nacional e tem 40% da população como adepta. A religião tradicional chinesa abrange a mitologia nacional e prevê o culto a diversas divindades que podem ser fruto da natureza, guardiões de clãs, heróis nacionais e espíritos de ancestrais. Na realidade, a crença tradicional é um sincretismo religioso que abrange elementos da fé budista, confucionista e de superstições populares.
O governo chinês investe na desradicalização dos muçulmanos, que muitas vezes lutam pela independência e separatismo
O budismo tibetano e o islamismo também alcançaram muitos chineses, e são malvistos pelo governo chinês, por isso, em províncias ao noroeste, como Xinjiang, as restrições são mais severas. Na região considerada mais volátil do país vivem 10 milhões de uigures muçulmanos. Eles são considerados vulneráveis e propensos ao extremismo e separatismo, por isso, a China está gastando bilhões para assegurar que esse povo não seja impedido do desenvolvimento econômico regional.
Uma maneira encontrada de enfraquecer a ideologia islâmica foi a criação de centenas de centros de reeducação. Lá, os detidos são obrigados a falar chinês, cantar hinos patrióticos e assistir às aulas diárias de propaganda para “limpar as mentes uigures”. Além de literatura cristã, os alunos precisam deixar de lado elementos da cultura religiosa como barba e roupas islâmicas. Alguns cristãos ex-muçulmanos já passaram pelos campos de reeducação e a Portas Abertas esteve ao lado das famílias para encorajá-las naquele momento repleto de incertezas.
Agradeça a Deus porque a obra dele tem sido realizada na China, apesar da perseguição. Fortaleça também os cristãos chineses por meio de oração. Com uma doação, você garante que um cristão ex-budista receba uma Bíblia digital para conhecer mais a Deus.
*Nome alterado por segurança.
© 2024 Todos os direitos reservados