Portas Abertas • 13 fev 2019
Conclusões e recomendações sobre o caso Koh devem ser apresentadas ao parlamento da Malásia ainda este ano
Hoje, 13 de fevereiro de 2019, completa-se dois anos desde que o pastor da Malásia, Raymond Koh, foi sequestrado em plena luz do dia por pelo menos 15 homens mascarados. O incidente foi gravado por câmeras de vigilância e mostram o carro do pastor sendo cercado por três veículos pretos 4x4 e forçado a parar. Koh foi tirado de seu carro e levado embora. O veículo dele também foi tirado do local.
A última vez que a esposa, Susanna Koh, viu o marido foi na manhã do sequestro, na casa de uma amiga, onde trabalhava como babá. As últimas palavras trocadas entre o casal foram “eu te amo”. O pastor Raymond Koh realizava atividades voltadas à evangelização de adolescentes muçulmanos, considerado crime de acordo com a legislação do país. Após o sequestro, diversos grupos comunitários se uniram, formando o Grupo de Ação Cidadã sobre Desaparecimento Forçado (CAGED, da sigla em inglês) visando buscar ajuda internacional para pressionar o governo do país a dar respostas sobre o desaparecimento de Koh e outros cristãos.
A polícia levou dez dias para montar a força tarefa que investigaria o sequestro. Outras três pessoas foram sequestradas na mesma época do desaparecimento de Koh. O casal cristão, Joshua Hilmy e Ruth Sitepu, que foi visto pela última vez em novembro de 2016, e o ativista muçulmano xiita, Amri Che Mat, sequestrado em uma operação altamente profissional, muito parecida com a do pastor Koh. Cristãos e muçulmanos xiitas são minorias na Malásia, onde islâmicos sunitas representam a fé majoritária. No segundo semestre de 2017, a Comissão de Direitos Humanos da Malásia (Suhakam) deu início a uma investigação pública sobre os desaparecimentos.
Antes do sequestro do pastor Koh, ele e sua esposa, eram com frequência abordados pela imigração e por uma divisão especial da polícia depois que autoridades islâmicas fizeram uma batida na igreja, em 2011. Na ocasião, a ONG fundada pelo pastor organizou um jantar de ações de graças na igreja com participação de malaios. As autoridades invadiram o evento por suspeitarem que Raymond estava compartilhando sua fé cristã com muçulmanos, o que é proibido no país.
No início de 2018, a Suhakam informou a interrupção do inquérito sobre o desaparecimento do pastor Koh a pedido da polícia, já que um suspeito fora preso e estava sendo acusando na justiça pelo sequestro.
Após um ano do desaparecimento do pastor Raymond Koh, em fevereiro de 2018, cristãos de diversas denominações organizaram uma reunião para lembrar e orar por ele, além de demonstrar apoio a família. Em maio de 2018, uma nova esperança surgiu. A Suhakam decidiu retomar o inquérito, um novo governo foi eleito, parecendo ser mais receptivo a fés minoritárias, e um informante apareceu, implicando Bukit Aman, uma divisão especial da polícia, no desaparecimento de Raymond Koh. O informante alegou que o sequestro foi conduzido com total conhecimento e aprovação do inspetor geral da polícia, Khalid Abu Bakar.
Em junho de 2018, uma ação global teve início a fim de sensibilizar autoridades mundiais para o caso e assim encontrar os quatro desaparecidos. No Brasil, teve início uma petição de assinaturas para que o embaixador da Malásia no Brasil intervisse no caso. Na Malásia, ocorria mais uma vigília solidária, com cerca de 100 pessoas, para demostrar apoio às famílias envolvidas. No mês de outubro, a Portas Abertas foi à embaixada da Malásia no Brasil para entregar a petição assinada por mais de 14 mil pessoas.
O inquérito do desaparecimento do ativista Amri Che Mat foi encerrado em novembro e o do pastor Raymond Koh concluído em dezembro. Ainda se espera que sejam apresentadas as conclusões e recomendações sobre o caso ao parlamento em 2019. Na época do sequestro, Susanna disse: “Nós desejamos e temos uma grande expectativa que Raymond e os demais sejam soltos e que os culpados sejam trazidos à justiça”, mas Raymond Koh continua desaparecido e sua família continua sem respostas e sem justiça.
Mesmo em meio as dores, Susanna é capaz de ver como Deus tem trabalhado desde que o marido desapareceu. Em novembro, um grupo de cristãos da Suécia se encontraram com ela para encorajamento e oração, e ela disse ao grupo: “Eu não entendo porque isso está acontecendo, mas Deus tem propósito”. Ela compartilhou que igrejas na Malásia se uniram para dizer que esses desaparecimentos não são aceitáveis. “Esta é a primeira vez que vemos cristãos se unindo. Eles uniram as mãos e oraram. E eu sei que Deus se agrada disso”, afirmou.
Ela também compartilhou sobre as vigílias de oração que ocorreram. Essas foram frequentadas por cidadãos comuns, não-ativistas, e alguns não eram nem cristãos. “Uma pessoa me disse que ora por Raymond toda noite, mesmo não sendo do tipo que ora. Outros perguntam quem é esse Raymond que tantos oram por ele. Esta é uma oportunidade para que cristãos compartilhem o evangelho. Nós também recebemos relatos de que alguns têm achado fé em Deus”, conta.
Na época do sequestro do pastor Koh, Susanna se tornou próxima da esposa do ativista muçulmano xiita Amri Che Mat, Norhayati, e elas têm dado grande suporte uma a outra. Um participante de uma das vigílias comentou: “É realmente bom ver cristã e muçulmana juntas em apoio e encorajamento uma a outra, já que nos últimos anos, houve um grande número de incidentes que aumentaram a tensão religiosa no país”.
Quando Susanna encontrou o grupo da Suécia, ela pediu por orações contínuas, especialmente por paciência, já que, às vezes, fica irada com a polícia por não ter atualizações sobre o caso. Ela falou: “Por que está demorando tanto? Se ele está morto ou vivo, nós não sabemos. Uma fonte disse que Amri Che Mat foi agredido. Eu acho que Raymond também foi. Se foi martirizado, ele é meu herói. E sei que Deus estará com ele onde quer que esteja”. Que você continue orando e intercedendo pelo pastor Raymond Koh, Susanna, os demais desaparecidos e suas famílias.
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