Portas Abertas • 7 nov 2017
Há gerações, cristãos e muçulmanos vivem na pequena cidade de Boda, na República Centro-Africana. Os muçulmanos vivem na parte central da cidade, onde há duas mesquitas, enquanto os cristãos ocupam todo o entorno dessa área. Os muçulmanos trabalham no comércio de diamantes, e os cristãos, na mineração e fazendas. Em 2012, a milícia muçulmana Seleka tomou praticamente todo o país, e alguns muçulmanos de Boda juntaram-se a eles. Até 2014, quando foram forçados a se retirar, eles haviam causado muitas mortes, saques e destruição entre cristãos e animistas.
Com a derrota do Seleka, uma milícia animista (Anti-Balaka) se levantou, buscando vingança pelos danos causados pela milícia islâmica. Os muçulmanos de Boda temiam alguma revanche por parte dos cristãos e animistas da cidade, e sua fronteira na cidade passou a ser protegida por soldados internacionais. Em 2014, a Portas Abertas promoveu um seminário sobre reconciliação para os pastores de Boda. Os ensinamentos inspiraram dois pastores a dar um grande passo de fé ao afirmar que perdoavam os muçulmanos. Eles estavam dispostos a esquecer o passado e iniciar um relacionamento com seus vizinhos islâmicos.
Como dois pastores romperam o muro de separação
Havia uma espécie de “linha vermelha” invisível separando a parte muçulmana da parte cristã da cidade., Jean e Pierre (foto), dois pastores, ousadamente decidiram cruzar essa linha. O pastor Jean disse: “Todo mundo sabia que cruzar a linha sem proteção era arriscar a própria vida. Você poderia levar um tiro ou ficar preso do lado deles. Mas nós caminhamos calmamente, com nossas Bíblias nas mãos, e nada aconteceu”. Líderes muçulmanos vieram ao encontro deles, e eles estenderam a mão para cumprimentá-los. Eles aceitaram o cumprimento, e então os pastores os abraçaram. Jean continua seu relato: “Nós dissemos para eles que os perdoávamos e os amávamos, e pedimos que aceitassem nossa oferta de paz, o que eles prontamente fizeram”.
A história se espalhou rapidamente pela cidade, mas nem todos ficaram felizes. Foi então que os dois pastores decidiram criar uma feira na “linha vermelha”, onde os cristãos poderiam vender seus produtos (comida e lenha) para os muçulmanos, que tinham dinheiro, mas não tinham comida. Aos poucos, com essa convivência, a paz começou a tomar o lugar do ódio. Em seguida, Jean e Pierre também criaram uma plataforma em que os líderes religiosos (católicos, protestantes e muçulmanos) podiam dialogar e discutir ideias para o restabelecimento da paz.
O processo não foi fácil e o pastor Pierre chegou a ser ameaçado de morte durante as negociações de paz. Até hoje há animistas e cristãos que querem tirar os muçulmanos da cidade. Mas em sua maioria, as pessoas estão felizes com a paz. Mas a tranquilidade de Boda ainda é uma exceção no contexto do país, onde a situação entre os grupos religiosos continua tensa. Diante de tudo isso, a coragem desses dois pastores e a confiança em Deus provam que é possível para cristãos e muçulmanos viverem lado a lado em paz.
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