Portas Abertas • 26 mai 2007
Cerca de 15 mil palestinos ainda estão no campo de refugiados Nahr el Bared, que abriga um total de 40 mil pessoas
Um grupo que afirma ser ligado à rede terrorista Al Qaeda ameaçou bombardear o Líbano e atacar cristãos libaneses se Beirute continuar a cercar o campo de refugiados palestinos de Nahr el Bared (norte), onde o Exército se confronta há dias com radicais islâmicos do movimento Fatah al Islam.
O grupo, chamado Al Qaeda do Al Sham (nome arábico para a região normalmente associada à Síria, Líbano e Jordânia), afirmou que nenhum cristão estará seguro no Líbano depois de hoje. Quem atingir será atingido. A mensagem foi atribuída ao líder militar do grupo em um vídeo publicado na internet e recuperado pelo instituto Site, baseado em Washington, que monitora postagens de grupos radicais.
O que queremos é que vocês ordenem ao Exército cristão libanês que retire seus homens do entorno de todos os campos palestinos, e do Nahr el Bared em particular, afirmou o narrador no vídeo, que tem duração de sete minutos.
Se vocês não pararem, continua a mensagem, vamos arrancar seus corações com bombas. Não se sabe se o grupo já executou algum ataque antes. A autenticidade da mensagem não pôde ser confirmada independentemente.
Os cristãos formam uma grande minoria no Líbano.
Situação humanitária
Segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA, em inglês), cerca de 15 mil palestinos ainda estão no campo, que abriga um total de 40 mil. A situação humanitária em Nahr al Bared se deteriora, disse a porta-voz da agência, Hoda Elturk. Nossos caminhões com comida e água estão prontos, mas nossas equipes não podem entrar porque não é seguro, afirmou ela.
O Ministério da Defesa libanês estima que cerca de 50 ou 60 membros do Fatah al Islam morreram nos confrontos que, segundo o governo, tiveram início após ataques deliberados do grupo contra soldados libanesas. Os radicais negam, dizendo que agiram em auto-defesa.
O Fatah al Islam é acusado de manter vínculos com a rede terrorista Al Qaeda. Autoridades libanesas alegam ter detido integrantes sauditas, argelinos, tunisianos e sírios do grupo.
O Líbano acusa a Síria de apoiar o grupo, acusação que é negada pelo governo de Damasco.
Combate ao terror
O premiê libanês, Fouad Siniora, afirmou ontem que irá erradicar o terrorismo. Em discurso exibido na TV libanesa, Siniora afirmou que o Fatah al Islam é uma organização terrorista, e acusou o grupo de tentar usar o sofrimento e a luta do povo palestino.
Nós trabalharemos para erradicar e derrotar o terrorismo, mas protegeremos nossos irmãos nos campos, afirmou Siniora, reforçando que os combates não se dirigem aos cerca de 400 mil palestinos que vivem em todo o Líbano.
Suas declarações ocorrem um dia depois que o ministro da Defesa libanês, Elias Murr, fez um ultimato ao Fatah al Islam, dizendo que eles deveriam se render ao Exército .
Preparações estão sendo feitas com seriedade para pôr um fim a esta situação, disse Murr nesta quarta-feira. O Exército não vai negociar um grupo de terroristas e criminosos. Seu destino é a prisão ou, se eles resistirem, a morte, completou.
Campos de refugiados
O Líbano possui 12 campos de refugiados, onde vivem milhares de palestinos que enfrentam problemas como a pobreza e a superlotação.
O Exército libanês não tem permissão para entrar nos campos, segundo um acordo com a Autoridade Nacional Palestina (ANP) que data de 1969.
Os atuais confrontos, os piores enfrentamentos internos desde o final da Guerra Civil (1975-1990), mataram ao menos 81 pessoas - 22 membros do grupo radical, 32 soldados e 27 civis -, de acordo com a agência de notícias Reuters.
Os palestinos que deixaram suas casas nesta quarta-feira descreveram cenas de violência. Todas as casas foram destruídas. Estamos indo embora e não sabemos o que será de nós, disse Nizar Sharaf, 35, à agência Reuters. Ele carregava no colo o filho de quatro anos.
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