Fé posta à prova na prisão na Coreia do Norte

No Dia Internacional em Apoio às Vítimas de Tortura, conheça a história de uma prisioneira na Coreia do Norte

Portas Abertas • 26 jun 2021


A cristã compartilha o testemunho sobre os dois anos que passou presa na Coreia do Norte

A cristã compartilha o testemunho sobre os dois anos que passou presa na Coreia do Norte

Hee-Yol* é uma cristã refugiada da Coreia do Norte que escapou do país por causa da Grande Fome que afetou a região nos anos 1990. Ela conheceu a palavra de Deus e se converteu enquanto morava na China, mas foi enviada de volta para a Coreia do Norte e detida. Na prisão, a fé da cristã foi posta à prova, mas ela encontrou vida e luz para permanecer firme na fé.

A seguidora de Jesus adora cantar, sempre cantou enquanto estava presa e continua a cantar em liberdade. Agora, ela vive na Coreia do Sul como uma mulher livre. Ela costura para viver e estuda. Vendo a cristã hoje, ninguém imaginaria que Hee-Yol foi vítima de tráfico humano e é uma ex-prisioneira norte-coreana que sofreu todo tipo de abuso.

 

Vivendo um pesadelo

Hoje é comemorado o Dia Internacional em Apoio às Vítimas de Tortura e muitos cristãos e cristãs ao redor do mundo são torturados por não renunciarem ao evangelho. Tortura é qualquer imposição de dor física ou psicológica por crueldade, como maneira de intimidação e punição. O principal objetivo dessa data é tentar combater essa prática, além de oferecer total apoio às vítimas de tortura.

Quando Hee-Yol conheceu a palavra de Deus e começou a crescer na fé, ela foi enviada de volta para a Coreia do Norte e viveu um pesadelo vivo. “Um dia, a polícia chinesa invadiu a empresa em que eu trabalhava. Os policiais exigiram ver meu cartão de identidade e, quando eu não pude mostrar um, eles me levaram para a delegacia local para eu provar minha identidade chinesa e, contra minha vontade, fui enviada para a Coreia do Norte”, relembra.

Nos anos 2000 ela foi enviada de volta para a Coreia do Norte e os colegas de igreja na China tentaram ajudá-la, mas não puderam fazer muito. De volta ao país, Hee-Yol foi enviada para um centro de detenção por dez dias. “Depois de dez dias, eu estava em um trem para outra área e fui enviada para a Agência Estadual de Segurança. Sem promessa para o futuro, eu não conseguia dormir à noite, eram dias tão difíceis”, conta.

Hee-Yol foi enviada para outra prisão, onde as paredes eram escuras e a cela era fria. O único aquecimento era um cobertor fino que a separava do chão de madeira. A pequena cela da prisão tinha nove prisioneiros e não era confortável. Os prisioneiros tinham que se deitar lado a lado, mas não podiam ficar muito perto, o que não os esquentava durante o duro inverno.

Como Hee-Yol tinha um sotaque sul-coreano, que ela praticava quando estava na China, os guardas abusavam muito dela. “Se as câmeras nos pegavam conversando com prisioneiros ao nosso lado, a punição era chamada de pompu, em que colocamos as mãos para trás e temos que agachar e depois nos levantar mil vezes. Se o guarda estivesse de bom humor naquele dia, nos daria uma pausa de cinco minutos”, compartilha a cristã.

“Agora sou um animal”

Na primavera seguinte, a cristã foi transferida para outra prisão para cumprir a sentença de quatro anos. Quando ela chegou lá, pensou: “Não há promessa para o futuro. Eu poderia sobreviver?”.

Na Coreia do Norte, você recebe recibos quando vende animais como porcos ou gado. Para os prisioneiros, após o julgamento, eles perdem a cidadania e se tornam animais, sendo tratados como menos do que humanos. “Quando cheguei à cadeia, lembro que recebi o recibo com minha impressão digital. Eu pensei: ‘Agora sou um animal’.”

Os guardas cortaram o cabelo de Hee-Yol. Ela viu que as cabeças dos homens estavam completamente raspadas. E como o dela, o cabelo das mulheres foi cortado acima das orelhas. Isso significa que quando os prisioneiros têm a chance de escapar, já que ninguém lá fora usa tais cortes de cabelo, as pessoas pegarão o fugitivo imediatamente.

Se isso não bastasse, os guardas também os fizeram usar “roupas tricolores”. “Eu peguei metade das roupas do prisioneiro ao meu lado e uma parte de outro prisioneiro para a roupa ficar tricolor. Então, quem visse os fugitivos saberia que são prisioneiros.” Os prisioneiros também foram orientados a espionar uns aos outros. “Uma das regras é chamada de três em um. Três estão posicionados para vigiar um ao outro. Não podíamos falar ou nos mover livremente, não poderíamos sequer olhar para o céu azul”, relembra Hee-Yol.

 

“O túnel do inferno”

Todos os dias na prisão eram torturantes para a seguidora de Jesus, principalmente pela comida. A comida tinha fungos e a sopa era feita com as camadas duras de repolho, temperada com um pouco de sal. Todos chamavam de “asa do corvo”.

Os prisioneiros não podiam tomar sopa com água salgada, porque as autoridades não queriam que eles comessem algo temperado para fortalecer as pernas e escapar. A sopa era temperada apenas com água, um pouco de sal e uma pedra. Hee-Yol ainda tem os dentes desgastados por comer arroz com pedras e lembra que muitos prisioneiros desenvolveram apendicite e alguns chegaram a morrer de fome.

“Estava passando pelo túnel do inferno, vivendo todos os dias na prisão. Em uma pequena cela, vivia cerca de 50 a 60 prisioneiros. O banheiro ficava dentro da cela. O cheiro horrível do banheiro não permitiu que meus olhos se abrissem, mas tínhamos que ficar na cela. Piolhos, percevejos, baratas e até ratos, eles nos atormentavam à noite. Os prisioneiros chamavam sua agenda diária de ‘dia da louca’”, relembra.

A fé fortalecida

Durante a detenção, Hee-Yol conheceu Lydia, uma outra cristã que também estava presa. Através da amizade delas, Hee-Yol foi abençoada e fortalecida na fé, se mantendo firme no evangelho durante a condenação.

Embora ela tenha sido condenada a quatro anos de prisão, Deus respondeu às orações do cristã e ela foi libertada dois anos antes. Não foi fácil para Hee-Yol se adaptar à vida na Coreia do Norte. “Eu não via minha família há seis anos. Meus filhos tinham três e cinco anos quando fugi. Eles tinham agora nove e doze anos de idade. As crianças me viam como uma estranha. Meu filho não se lembrava de mim porque tinha apenas três anos quando fugi. Embora minha família tenha ficado unida, todos nos sentimos muito estranhos, e eu estava muito sensível e não foi uma reunião feliz”, compartilha.

Fora da prisão e de volta à vida norte-coreana, Hee-Yol ainda tinha que manter sua fé em segredo. “Não foi possível expressar minha fé, tinha que orar sozinha”, diz ela. Ela ficou em casa por três anos, mas uma vez que se experimenta a liberdade, não é possível mais viver na Coreia do Norte. Então Hee-Yol decidiu fugir novamente, desta vez para a Coreia do Sul, cruzando o rio Tumen.

Atualmente, a cristão está na Coreia do Sul, trabalha como costureira e estuda psicologia. Alegre compartilha conosco sua liberdade de adorar e exaltar o nome de Jesus. Ela intercede por cristãos como ela que enfrentam situações difíceis e abusos em países extremistas. Olhando para trás, Hee-Yol conclui: “No momento mais difícil da minha vida, encontrei Deus no meio do sofrimento”.

*Nome alterado por segurança.

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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