Portas Abertas • 31 mar 2004
Santos Salvatierra cumpria uma sentença de vinte anos de prisão por terrorismo na famosa prisão Castro Castro quando um amigo deu-lhe uma Bíblia. O presente simples mudou sua vida.
Nascido e criado nas montanhas dos Andes, Santos mudou-se para Lima com a idade de dezenove anos. Trabalhou como operário da construção civil, garçom de bar e agente de viagens antes de tornar-se líder de um sindicato de trabalhadores da indústria do turismo. Lá, diz ele, foi exposto a fortes influências da ideologia marxista. A influência marxista o colocou em contato com o Sendero Luminoso, o violento grupo guerrilheiro que promoveu uma guerra terrorista contra o Estado peruano durante quase quinze anos nos anos 80 e 90.
Em agosto de 1993, a temida polícia da Diretoria Nacional Contra o Terrorismo deu uma batida na casa de Santos e descobriu panfletos de propaganda e explosivos que ele havia escondido ali a pedido de conhecidos do Sendero Luminoso. Santos nunca tivera a intenção de usar os itens ali escondidos, diz ele, mas simpatizava com os objetivos do Sendero Luminoso, de alterar radicalmente a sociedade peruana.
Santos, então com 31 anos, e seis colegas, foram presos.
Enquanto aguardava o julgamento numa cela, Santos conheceu Juan Mallea, um motorista de táxi cristão que havia sido acusado injustamente de ter assassinado nove estudantes e um professor da Universidade Cantuta*. Quando Mallea falou a Santos a respeito de um Deus que o amava e de um salvador que morreu por ele, o jovem riu. Como marxista convicto, Santos considerava o cristianismo o ópio para as pessoas que não tivessem nada melhor no que acreditar.
Depois de alguns meses na prisão, Santos foi levado perante os juízes sem rosto, um tribunal especial antiterrorista cujas identidades se escondiam sob pesados capuzes. O tribunal o condenou por terrorismo, perturbação da ordem pública e de pertencer ao Sendero Luminoso, acusações consideradas como traição sob as duras leis antiterroristas em vigor no Peru na época.
Quando fui para a prisão, minha vida foi destruída, recorda Santos. A existência de Deus não se encaixava em meu pensamento. Ao contrário, eu me apegava a uma série de ideais materiais e filosofias vazias que o diabo oferece através do marxismo.
Juan Mallea continuou a falar a respeito de Deus para Santos e a cada prisioneiro de Castro Castro que cruzasse seu caminho. Outros cristãos foram à prisão para falar do evangelho. Jorge e Nelsa Solezzi levaram folhetos e livros cristãos para os internos. Jose Regalado, Jose Vinces e Geman Vargas da organização cristã Paz e Esperança ajudaram a defender os internos que, a exemplo de Juan, viam-se falsamente acusados sob as severas leis antiterroristas. Os advogados da Paz e Esperança acabaram conseguindo a absolvição de Juan.
Após sua libertação, Juan mandou uma Bíblia de presente para Santos. Quando leu as Escrituras, Santos começou a experimentar uma mudança em seu modo de pensar que fatalmente levou a uma profunda mudança em sua vida.
No meu terceiro ano de prisão, tive um encontro com o Cristo da glória que resultou numa completa reviravolta em minha vida, diz ele. Quão grande e misericordioso é o Autor da Vida, que me deu a oportunidade de ser salvo!
A prisão deixou de ser prisão para mim. Vim a conhecer a genuína liberdade que está em Cristo.
Quando ele falou a seus antigos colegas de sindicato a respeito de seu novo relacionamento com Deus, alguns disseram que ele tinha ficado doido. Outros o acusaram de confessar a Cristo para sair mais depressa da cadeia. Alguns de seus colegas pensaram que ele se tornaria um informante.
Mas quando se passaram dois ou três anos e eu ainda estava andando com o Senhor na prisão, eles disseram: Bem, achamos que você não está fingindo. Mais tarde, muitos deles também aceitaram a Cristo.
Santos serviu ao Senhor dentro da prisão Castro Castro durante sete anos depois de sua conversão, ajudando a começar uma igreja entre os internos. Na época em que recebeu liberdade condicional, a freqüência média à capela era de 150 pessoas, apesar da natureza bastante transitória da população carcerária. De fato, os cristãos que foram transferidos para fora de Castro Castro às vezes plantaram novas igrejas nas novas cadeias para onde foram mandados.
O que conseguimos foi algo milagroso, diz Mallea. Eu cria na promessa do Senhor: Buscai primeiro o reino de Deus e a Sua justiça , diz Santos, e minha liberdade física veio como uma bênção adicional.
De acordo com a lei peruana, os prisioneiros ganham o direito à liberdade condicional quando cumprem metade da sentença original. Graças aos esforços dos advogados da Paz e Esperança, Santos conseguiu aproveitar-se desse dispositivo legal para sair de Castro Castro no dia 16 de julho de 2003.
Hoje ele está de volta ao trabalho de construção em Lima enquanto estuda para conseguir sua credencial ministerial. Santos volta para a prisão de tempos em tempos - para pregar o evangelho.
Um dia ele procurou o escritório do seu antigo sindicato, pensando em falar do evangelho aos antigos associados de lá. Mas descobriu que o prédio havia sido transformado numa igreja.
Para mim, é um privilégio conseguir escrever estas linhas para agradecer pelo tremendo interesse que vocês mostraram por mim, escreveu Santos recentemente à Portas Abertas. Deus enriqueceu o coração de vocês com o Seu amor. Estou em débito com Portas Abertas, um ministério que conheci através de vários servos de Cristo enquanto estava na penitenciária Castro Castro.
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