Fracassei como professor e exemplo

Portas Abertas • 21 abr 2004


Quando foi dada uma batida policial em uma escola bíblica secreta na China central, o Irmão Ging não conseguiu escapar com a maioria de seus colegas professores. Ele, outro professor e nove estudantes foram detidos e ficaram presos em um centro de detenção local durante quase um mês aguardando a sentença. Solto depois de 23 dias, Ging conta-nos sua dura experiência de prisão.

Quando chegamos ao centro de detenção, os oficiais fizeram-nos tirar nossos relógios, cintos e dinheiro. Eu tinha vinte yuan (2,40 dólares) escondidos no sapato que eu achei poder ficar com eles, mas foram descobertos quando fizeram uma revista no corpo. Como punição, fui chutado pelo oficial.

Um por um, fomos interrogados. Quando fui levado para a sala de interrogatório, passei por minha irmã, uma das alunas, que rapidamente me cochichou que eles perguntaram se ela tinha Bíblias ou hinários. Meus interrogadores começaram perguntando o meu nome, endereço, número do cartão de identidade e nacionalidade. Depois tentaram me fazer confessar que eu ensino a Bíblia. Mas antes de sermos transportados para o centro, os alunos concordaram que não me entregariam dizendo que eu era professor deles, e me pediram para que não admitisse isso tampouco. Caso contrário, o meu castigo seria mais severo.

Após uma rodada de interrogatório, todos nós fomos transferidos para outro centro de detenção nas primeiras horas da madrugada. Para me dar uma lição por querer ficar com o dinheiro anteriormente, fui mandado para uma cela onde havia criminosos instruídos a me espancar. Assim que passei pela porta da cela, encontrei-os esperando. Eles me deram socos na boca para que eu não pudesse comer e também fui chutado no peito. Passei minha primeira noite com dores terríveis.

No dia seguinte, fui designado para dobrar trezentas caixinhas por dia. Logo fiquei sabendo que essa era uma quota impossível de ser atingida, especialmente porque eu estava com muitas dores. Mas se eu me queixasse, seria imediatamente espancado pelos criminosos. Assim, para evitar ser espancado, tive de me esforçar para continuar. Quando chegamos ao segundo centro de detenção, vi uma tabuleta na parede onde havia o que podia e o que não podia para os oficiais. Uma das coisas era Não espancar prisioneiros. Ao usar os internos nas celas para fazer isso por eles, ficam isentos de má conduta.

Em toda a minha vida, fui espancado e xingado muitas vezes, mas meus 23 dias no centro de detenção foram os piores. Fui forçado a tentar e alcançar minha quota de trabalho sem qualquer intervalo ou cochilo. Tínhamos três refeições de arroz por dia, mas era uma comida de péssima qualidade. Meus colegas de cela sempre batiam em mim. Meus dedos estavam inchados e doloridos, o que fazia o trabalho de dobradura ficar ainda mais lento. Cheguei ao ponto de tanta exaustão, que me dei conta de que nunca conseguiria minha quota não importava o quanto tentasse, por isso decidi ir em frente e dormir. Recebi outro espancamento antes de ter permissão para dormir.

Ao todo, fui interrogado três vezes durante a detenção. Uma vez, os oficiais fizeram a ameaça que se eu não pagasse uma multa de dez mil yuan (1.200 dólares), seria sentenciado a três anos de prisão. Em outra ocasião, foi-me dito que se eu escrevesse uma confissão de que estivera lecionando coisas divergentes, poderia ser solto. Mas eu me recusei porque isso teria dado a eles a prova que precisavam para me condenarem como parte de uma seita.

Sempre tive uma saúde fraca. Todos os espancamentos e as duras condições de vida no cento de detenção pioraram-me fisicamente. Tive de lidar com sentimentos iniciais de medo dos criminosos, raiva dos meus perseguidores e desânimo pelo fato de estar separado dos outros crentes. Não adiantou o fato de eu ter anteriormente lido a respeito de outro irmão que morreu na prisão. Apesar de eu ficar mais em paz com o passar dos dias, uma visita de minha chorosa esposa que havia pago 1.500 yuan (180 dólares) aos oficiais apenas para me ver reduziu-me a pedaços. Senti que, para preservar o que restava da minha saúde, valia mais a pena pagar o que eles pediam e sair imediatamente do que sofrer todos os espancamentos e tortura e ainda acabar sentenciado a três anos. Comuniquei aos meus alunos: Peço desculpas por ter de sair antes de vocês. Meus alunos responderam: Nós vamos continuar. Com a ajuda financeira da minha igreja, pagamos outros 4.500 yuan (450 dólares), um total de seis mil yuan (720 dólares) em vez dos dez mil yuan que havia sido anteriormente determinado, e tornei-me um homem livre depois de 23 dias.

Hoje, luto com a minha falta de fé. Eu fui aquele que encorajou meus alunos a serem fortes e a não desistirem. Ao contrário eu, o professor deles e aquele para quem eles olhavam como modelo, saiu deixando para trás nove moças estudantes, incluindo minha própria filha e outra professora. Lembrando dos meus dias na detenção, me dou conta de que Deus me conservou com boa saúde apesar de toda tortura. Sinto que também falhei para com meu Deus.

Pelos irmãos e irmãs como Ging que precisam ter a experiência da total graça perdoadora do nosso Senhor e aprender a viver livre da autocondenação apesar do que passaram. Ore para que Deus os fortaleça novamente em sua fé.

Os líderes de sua igreja também precisam aceitá-lo depois de seu momento de fraqueza e dar-se conta de que Deus pode usar para o bem o que pareceu um fracasso. Ore para que eles restaurem amorosamente o Irmão Ging ao seu ministério quando ele estiver pronto.

Agradeça ao Senhor porque os crentes restantes foram libertos depois de 29 dias sem pagar qualquer multa.

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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