Portas Abertas • 4 abr 2006
O conflito religioso aparece na elaboração de leis, na distribuição injusta da riqueza e do trabalho, no ensino, na pesquisa científica e tecnológica, na comunicação
A intolerância religiosa engendra o ódio e a insegurança, e dá lugar a fundamentalismos e preconceitos contra os que são diferentes, muitas vezes recorrendo à violência e com o apoio do Estado, disse o presidente do Conselho Evangélico de Madri, Máximo García Ruiz.
Ruiz participou da mesa que tratou o tema Conflitos Religiosos no IV Fórum Cidades contra a Pobreza (Wacap, da sigla em inglês), encerrado hoje, nesta cidade. A história demonstra que por detrás da intolerância, das perseguições, da tortura e da guerra sempre aparece como causa alguma crença religiosa, assinalou.
O paradoxo está em que a religião sempre é percebida como o caminho para a paz, com refúgio para todo ser humano, mas nem sempre tem sido assim, apontou o presidente do Conselho Evangélico.
Com a cruz, ou com o símbolo aplicável a cada religião, se pretendeu legitimar a espada. E não é estranho que os combatentes de um ou outro bando se irritem, invocando um mesmo Deus, embora com nome distinto, apontou.
García classificou a intolerância religiosa como um velho fenômeno que persegue a humanidade e explicou que todas as religiões que se autoconsideram como as únicas verdadeiras e reclamam uma superioridade em relação às outras reproduzem um quadro de intolerância.
Conflito de interesses
Contra o fundamentalismo, García recomenda como antídoto o diálogo inter-religioso. Na medida em que se é capaz de aceitar o pluralismo religioso e a tolerância, também começa a ser visto como coisa natural a igualdade entre todos os seres humanos, assegurou, sem considerar as diferenças como ameaças, mas como oportunidades.
Para García, o conflito religioso também aparece na elaboração de leis, na distribuição injusta da riqueza e do trabalho, no ensino, na pesquisa científica e tecnológica, na comunicação. A religião manifesta-se com freqüência como um freio às aspirações de progresso do homem e isso se converte num sério conflito de interesses, afirmou.
Sem capacidade para desterrar a pobreza material que engendra conflito, o papel das igrejas é contribuir para resolver a pobreza espiritual, que é a que, em última instância, provoca o conflito entre as pessoas e conduz à destruição.
Eliminar a pobreza espiritual é contribuir para converter o coração egoísta em um coração compassivo, desenvolvendo a teologia do compromisso e da generosidade. A compaixão e o amor ao próximo vão de mãos dadas, a injustiça e a paz são inseparáveis, declarou.
Em qualquer caso, a resposta à pobreza não é a caridade continuada para que o pobre continue sendo pobre, mas terminar com a síndrome da dependência.
A solução do conflito social, capaz de arrancar da raiz a violência, o terrorismo e a fome, passa por assumir valores religiosos e colocá-los em prática, assinalou.
Se as religiões têm algum papel social, é precisamente o de incentivar esses valores capazes de introduzir o sentimento de compaixão para as duas terceiras partes da humanidade excluídas do estado de bem-estar, enfatizou.
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