Portas Abertas • 3 out 2017
Em Kerala, estado no sudoeste da Índia, uma moça de cerca de 20 anos disse que foi trancada e assediada por 22 dias num centro de yoga. A moça, chamada Shweta, disse que foi forçada por seus pais a buscar aconselhamento nesse centro de yoga dez meses após seu casamento com um cristão, Rinto Isaac. Lá, ela participou de aulas sobre contradições presentes na Bíblia e no Alcorão. Quando se opôs, suas mãos foram amarradas e ela foi forçada a dormir no chão dos dormitórios, onde as portas dos banheiros não tinham fechaduras.
Shweta, que conseguiu escapar em agosto, disse que havia pelo menos outras 65 mulheres detidas ilegalmente com ela, todas pelo mesmo motivo: ter se casado com homens de outras religiões que não o hinduísmo. “Havia muitas mulheres que estavam confinadas há anos. A maioria delas estava doente e não recebia nenhum tratamento”, disse ela. Segundo Shweta, as mulheres também eram assediadas sexualmente.
Uma outra moça de Kerala, Athira, de 22 anos, deu uma entrevista coletiva em setembro, na qual explicou por que retornou ao hinduísmo após ter se convertido ao islamismo, em julho, quando deixou sua casa. Ela disse que foi visitada por membros do fundo de caridade Arsha Vidya Samajam, que a levaram para aconselhamento em um dos centros de yoga administrado por eles.
No caso de Shweta, a polícia abriu uma investigação, e uma queixa contra cinco pessoas foi registrada, incluindo o diretor do centro de yoga Siva Sakthi, também administrado pelo fundo de caridade Arsha Vidya Samajam. Nos últimos quatro anos, este fundo de caridade afirma que já reconverteu 2 mil garotas que haviam se convertido a outras religiões.
O Movimento de Mulheres da Índia, a ala feminina do Partido Social Democrata indiano, disse que todas as ações desse centro de yoga têm a mesma marca das cerimônias hindus em que pessoas que tinham se convertido a outras religiões são recebidas de volta ao hinduísmo.
Mês passado, mulheres de diferentes igrejas de Kerala lançaram o Movimento de Mulheres Indianas Cristãs. O propósito é “mudar crenças injustas, práticas e estruturas que perpetuam o patriarcalismo e acentuam a exploração de mulheres, atuando nas igrejas e em vários níveis da sociedade”. Omana Matthew, presidente da comissão de mulheres do Conselho de Igrejas de Kerala, diz que um aspecto que desencadeou a formação desse movimento foi a questão de segurança que as mulheres enfrentam, bem como discriminação e falta de acesso ao desenvolvimento pessoal.
O estado de Kerala tem um alto índice de cristãos – cerca de 20% da população. Sete estados indianos proibiram por lei o proselitismo e tem havido esforços para impor as chamadas “leis anti-conversão” em nível nacional. Tal atitude pode levar ao aumento de ataques contra minorias religiosas, como cristãos e muçulmanos, por parte de militantes que querem que a Índia se torne um Estado hindu.
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