Portas Abertas • 16 jul 2019
O que atraiu Lina para o cristianismo foi a Bíblia (imagem representativa)
Enquanto Lina, uma síria de quem nós já falamos por aqui, estava de luto pela perda do marido, pessoas começaram a interferir em sua vida, exigindo, de forma rude, que ela deveria seguir as regras islâmicas do “que uma viúva deveria fazer”. “Eles disseram que eu deveria cobrir meu cabelo o tempo todo e ficar em casa por quatro meses, o chamado tempo de Al Edda, mencionado no Alcorão. Eu não teria permissão para falar no telefone ou conversar pessoalmente com nenhum homem com mais de 12 anos. Para mim, isso era ridículo, então não deveria ser a forma certa de viver a vida”, disse com irritação na voz.
De acordo com Lina, na sociedade islâmica, mulheres são consideradas inferiores. Um homem tocado por uma mulher se torna impuro. “Isso significa que mulheres são menos que animais”, declara. Além disso, ainda segundo ela, os muçulmanos em Ar-Raqqah sempre foram mais extremos em suas interpretações do islã, mesmo antes da guerra. Porém, quando a guerra começou, eles expuseram seus verdadeiros pensamentos e sentimentos, mostrando o que realmente pensavam. Os extremistas transformaram suas crenças em ações e tornaram aceitável violência sexual e matanças. “Um dia, quando ainda vivíamos lá, eu andava pacificamente perto de casa com minha filha mais nova. Um carro se aproximou de nós e um homem gritou para mim: ‘Nós viemos matar você’. Eu fiquei com tanto medo que peguei minha filha e comecei a correr. Eu não o conhecia e ele não me conhecia. Então por que ele pensaria que era certo me matar? Talvez apenas porque sou mulher”, explica.
As mulheres no islã são muito vulneráveis. Um exemplo é que quando uma mulher cristã se separa do marido muçulmano, as crianças ficam com o marido muçulmano. “Mulheres são sobreviventes na Síria, mas filhos são o ponto fraco das mães. Quando meu marido morreu, eu tive sorte de ter um salário de quando trabalhava. Mulheres no islã são inválidas. Outros podem discordar, mas eles estão iludidos”, afirma.
Ainda segundo Lina, em uma sociedade islâmica, é mais aceitável quando um homem se torna cristão. A sociedade está sempre com o homem. “Nós somos uma sociedade masculina. Tudo o que uma mulher faz é considerado errado”, disse. Por causa da pressão sobre ela como uma viúva, decidiu deixar Ar-Raqqah com as filhas e foi para uma cidade mais liberal do ponto de vista religioso.
Na nova cidade, Lina vivia com as duas filhas em uma casa onde sempre havia pessoas e discussões sobre religião, livros e Deus. “Eu comecei a comparar o que eu costumava ver e ouvir em Ar-Raqqah e o que via e ouvia das pessoas que viviam ao meu redor na nova cidade. Até comecei a visitar igrejas. Eu estava buscando”. Em Ar-Raqqah, participar de uma igreja não era uma opção para Lina e as filhas. “Havia uma igreja lá, mas tinha apenas algumas famílias. Quando alguém novo chegava, todos questionavam”, conta.
O que atraiu Lina para o cristianismo foi a Bíblia. “Quando segurava a Bíblia Sagrada e lia, havia sempre uma grande sensação de segurança e conforto. Quando você lê o Alcorão, sente como se estivesse entrando em uma guerra. É tudo sobre bater e matar. Quando li a Bíblia, senti que era mais espiritual. A mensagem é tão diferente. A Bíblia fala sobre perdão e cura. Na cura de uma mulher, Jesus não estava olhando de cima, como se a mulher fosse inferior. No islã, mulheres são odiadas”.
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