Portas Abertas • 1 dez 2017
No dia 15 de agosto desse ano dois homens (pai e filho) foram mortos na pequena e isolada aldeia de Tuku, em Tudun Wada, no estado de Kano. No mesmo dia, três mulheres e um bebê foram sequestrados. Cerca de 40 dias depois, elas foram soltas mediante pagamento de resgate. Recentemente, a Portas Abertas visitou o remoto vilarejo, que consiste apenas de poucas casas e duas igrejas. A maioria dos moradores são agricultores cristãos que cultivam grãos.
Conversamos com Sofia*(54), a mais velha das mulheres sequestradas, e ela relatou como tudo aconteceu. “Meu marido tinha ido a uma reunião na casa do pastor. Por volta das 20h, eu ouvi um barulho do lado de fora, e quando saí para ver o que estava acontecendo, vi um grupo de fulanis no meu terreno. Eu fechei a porta rapidamente e pensei: estamos acabados”. Ela diz que os homens, então, arrombaram a porta e mandaram-na pegar o cobertor e segui-los. Eles deixaram com as crianças um número de telefone para o pai ligar e negociar a libertação.
“Depois eu encontrei o resto da gangue com as outras duas mulheres e o bebê. Nós andamos por dois dias na floresta, sem comida nem água, sem saber para onde eles estavam nos levando”, relembra Sofia. Enquanto isso, seu marido estava negociando o resgate. Primeiro, eles haviam pedido 3 milhões de nairas (cerca de 27 mil reais). Após uma semana de negociações, eles concordaram com um milhão de nairas (9 mil reais) por vítima. “Meu marido e a família das outras mulheres saíram pegando dinheiro emprestado de todos os lados, mas ainda não haviam conseguido o montante. Então tiveram que vender parte de suas terras e da safra e, no dia 24 de agosto, levaram o valor acordado para um lugar de encontro e nós fomos libertas”, conta a cristã.
Yaha*(20), que foi levada com sua bebê de oito meses, ainda está traumatizada. Ela diz que a irmã Sofia sempre encorajava as mulheres mais jovens a se apegar a Deus. “Essa experiência fortaleceu minha fé, pois Deus foi fiel às suas promessas. Apesar de ficar com fome por mais de uma semana, eu ainda tinha leite para amamentar minha filhinha. Mesmo dormindo na floresta, com tantas picadas de insetos, meu bebê e eu sobrevivemos e estamos bem. Eu agradeço a Deus por ter nos preservado e, apesar de termos vendido tudo o que tínhamos para pagar o resgate, creio que o Senhor abrirá uma porta para nós”, conta a jovem mãe.
As duas expressam a gratidão aos cristãos de todo o mundo que oraram por elas. “Deus realmente ouviu suas orações. Agora estamos livres e em casa com a nossa família. Muito obrigada”, diz Sofia. Continue orando por elas e por todos os cristãos perseguidos nessa região da Nigéria.
Sequestro das mulheres não foi incidente isolado
Testemunhas afirmam que essas mortes e sequestros foram realizados por fulanis muçulmanos, que tem atacado comunidades cristãs no Cinturão Médio da Nigéria. Embora fatores socioeconômicos também motivem a violência, cristãos e especialistas dizem que as motivações religiosas não podem ser ignoradas. Os ataques são parte de um esforço concentrado para islamizar os cristãos e expulsar aqueles dessa região estratégica que se recusam.
Em Tudun Wada, especificamente, tem se tornado comum os sequestros com pedido de resgate. Eles acontecem geralmente entre junho e setembro, na época da colheita. Assim, ao invés de colher, estocar e vender seus grãos, os agricultores são forçados a pagar altos resgates. Para tanto, são obrigados a vender suas fazendas e safras, sendo gradualmente removidos de sua terra.
*Nomes alterados por motivos de segurança.
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