Portas Abertas • 3 jun 2004
Em meio à investigação do Forum18 na pressão contínua contra estudantes cristãos do Instituto Médico Pediatra de Tashkent, na república autônoma de Karakalpakstan, nordeste do Uzbequistão, o reitor da universidade, Oral Ataniyazova, admitiu ao Forum18 que um professor não tinha o direito de buscar no alojamento um grupo de mulheres evangélicas e forçá-las a se retirarem do alojamento para a entrada da residência, onde a atividade religiosa passaria a ser supervisionada mais de perto. Ele também pediu para que os professores não mais restringissem a liberdade dos estudantes.
Um cristão que preferiu não ser identificado, disse ao Forum18 no dia 25 de maio que Alima Urazova, professor na universidade, organizou a busca nos apartamentos em que as estudantes Shirin Artykbayeva, Maksuda Bekniyazova, Zukhra Muriyeva e Aliya Sherimbetova tinham alugado. Alima confiscou literatura cristã delas e as fizeram deixar o apartamento e mudarem para a entrada da residência dos estudantes, alertando-as que passariam a ser vigiadas para que não continuassem a ler literatura cristã. "Seria melhor se vocês trabalhassem como prostitutas do que ficarem lendo esses livros", disse Alima.
Essa não é a primeira vez que estudantes cristãos passam por situações como essa na universidade de medicina. No dia primeiro de abril, o promotor municipal escreveu à Ataniyazova para informa-lo que o estudante último-anista Iklas Aldungarov, fazia parte de uma "seita religiosa ilegal", a Igreja de Cristo, pedindo que ele fosse retirado da universidade até o dia dez de abril. Ataniyazova disse ao Forum18 que tinha rejeitado tal pressão, mas ao mesmo tempo assumiu que Iklas era um estudante muito fraco.
Entretanto, falando ao Forum18 no dia 26 de maio, Ataniyazova inicialmente adotou um tom mais sarcástico do que anteriormente. Alegou que a estudante tinha se mudado para a entrada da residência a pedido de seus pais, que estavam tristes em verem sua filha pregando o cristianismo dentro da faculdade. Ataniyazova admitiu que as estudantes tinham sido procurados. "É verdade que durante a mudança delas, a professora achou que elas tinham literatura cristã, mesmo que elas tivessem negado anteriormente de que estavam pregando a palavra de Deus".
Quando o Forum18 comentou que as estudantes, como todos os uzbeques, possuem o direito de liberdade de religião e de que os professores não tinham o direito de restringi-los, Ataniyazova respondeu: "os pais dessas jovens pediram a nós para exercer influência nelas. Isso aqui não é a Europa, e os pais interferem na relação de seus filhos até ficarem adultos". Ela alegou que as jovens são fracas e que "seus pais tem as persuadido de que isso está relacionado ao envolvimento não esperado com o cristianismo".
Ataniyazova alegou que os estudantes evangélicos estavam explorando a fé. "Os evangélicos entenderam que tinham o apoio de organizações ocidentais e passaram a tirar vantagem disso. Por exemplo, embora a maioria deles seja estudantes com médias insatisfatórias, tememos que tenhamos que exclui-los pelo fato deles assumirem que estão sofrendo por causa da religião!" Mas então ela emitiu uma garantia para que haja respeito na liberdade de religião.
Esses são os últimos incidentes no regime de linha dura frente aos cristãos em Karakalpakstan.
A pressão sobre os cristãos também continua em outras partes do Uzbequistão. No dia 23 de abril, a corte distrital de Yaksarai em Tashkent sentenciou dez cristãos com multas de USD 5,00 cada, de acordo com o as leis do código administrativo de ofensas, que pune violações na lei por parte das organizações religiosas. A polícia já tinha detido os cristãos realizando reuniões em apartamentos residenciais.
No dia 13 de maio, a polícia comum e a polícia secreta do Serviço de Segurança Nacional, invadiram uma residência particular onde seis cristãos realizavam uma reunião na vila de Gagarino, perto da fronteira com o Afeganistão, na região de Surkhandarya. Eles confiscaram a literatura e os advertiram que, em breve, eles seriam multados de acordo com o Artigo 240 do código administrativo de ofensas.
O Uzbequistão, como o Turcomenistão e a Beilo-Rússia, especificamente proíbem atividades religiosas que não estejam registradas, desafiando assim os acordos de direitos humanos internacionais.
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