2004, O ano das mesquitas demolidas

Portas Abertas • 11 jan 2005


Em 2004, o mesmo ano em que o presidente autocrata do Turcomenistão, Saparmurat Niyazov, inaugurou a mesquita oficial descrita como "a maior mesquita da Ásia Central" na vila de sua casa em Kipchak, as autoridades demoliram no mínimo sete outras mesquitas, aparentemente para prevenir cultos muçulmanos não-aprovados de se realizarem. Muitas fontes muçulmanas e não-muçulmanas de dentro do Turcomenistão, as quais preferiram não serem identificadas, têm dito ao Fórum 18/News service de sete específicas demolições de mesquitas.

As fontes disseram que acreditam que outras não-aprovadas mesquitas podem também ser derrubadas vítimas do desejo do governo de reprimir cultos muçulmanos não-autorizados. Cristãos e membros de outras crenças estão tentando conseguir permissão para abrirem lugares de cultos, recuperar aqueles confiscados ou reconstruir os demolidos nos últimos seis anos.

A mesquita de Kipchak - construída pela companhia francesa Bouygues e inaugurada com grande pompa, em 22 de outubro de 2004 - irritou alguns muçulmanos por incorporarem nas paredes da mesquita, não apenas citações do Alcorão, mas também do Ruhanama (livro do sul), um falso trabalho espiritual escrito pelo presidente Niyazov. Muçulmanos consideram o uso de tais citações - e o requerimento que copia do Ruhnama estar localizado em pé de igualdade com o Alcorão, bem como as instruções para os líderes religiosos citarem abundantemente nos sermões o trabalho do presidente - como blasfêmia.

Segundo consta, poucos muçulmanos participam na mesquita de Kipchak de orações regulares, embora ela possa abrigar 10 mil cultuadores. Aparentemente, como parte da política de isolamento, muçulmanos não-estrangeiros não foram permitidos participar da inauguração.

Islamismo é tradicionalmente a crença da maioria dos turcomenos, e é também a crença sob mais rígido controle do governo. O presidente instalou um novo chefe - Rovshen  Allaberdiev - no último mês de  agosto, depois de remover seu precedente, enquanto o Conselho do governo para assuntos religiosos nomeia líderes religiosos por todo país. Apenas cerca de 140 mesquitas - todas delas sob o controle de estado do líder religioso nomeado pelo governo - têm registro estadual, apenas uma fração do número de uma década atrás, quando a prática religiosa era mais livre.

Mesquitas independentes têm sido demolidas nos últimos anos - tais como aquelas contruídas pelo líder religioso Ahmed Orazgylych, no subúrbio de Ashgabad e na vila de Govki-Zeren, próximo a Tedjen, no sul do Turcomenistão, ambas derrubadas em 2000 - enquanto outras que rejeitaram a imposição forçada do Ruhanama têm sido fechadas - tal como a mesquita fechada por ordem do Ministério Nacional de Segurança no fim de 2003, depois que os líderes da mesquita recusaram colocar o Ruhanama em lugar de honra.

Outras crenças também enfrentam muitas dificuldades em manter lugares de culto. As autoridades têm recusado permitir dois templos Hare Krishna derrubados na região de Mary, no verão de 1999, de serem reconstruídos, e têm recusado pagar qualquer indenização. Nenhuma comunidade tem sido permitida encontrar-se publicamente para cultos, apesar de ambas terem recuperado o registro legal em 2004.

Tampouco as igrejas Batista e Pentencostal em Ashgabad - fechadas e confiscadas em 2001 - têm sido devolvidas, deixando ambas comunidades com nenhum culto. O governo tem também recusado devolver uma Igreja Apostólica Armeniana no Porto de Caspian, na cidade de Turkmenbashi, confiscada durante o período soviético, apesar dos constantes apelos da comunidade armeniana local. Outras comunidades religiosas as quais têm sido negados os registros - incluindo outras igrejas protestantes, as Testemunhas de Jeová e a Nova Igreja Apostólica - da mesma forma não têm lugar para encontros.

As demolições de mesquitas em 2004 parecem ter ocorrido em duas etapas, com três demolições na primeira etapa, no começo de 2004, e uma mais distante, com quatro demolições numa segunda etapa, em Ashgabas, desde outubro. Duas das demolições foram na véspera do jejum muçulmano do mês de Ramadan.

"As mesquitas demolidas na primavera tinham sido construídas sem permissão", contou uma fonte ao Fórum 18. "As demolições não foram noticiadas na mídia, mas também não ocorreram secretamente".

As três mesquitas conhecidas que foram demolidas na primeira onda, foram uma mesquita Shia, usada por grupos étnicos locais iranianos, na vila de Bagyr, próxima a Ashgabad, bem como uma pequena mesquita Sunni no centro de Serdar (antiga Kyzyl-Arvat) no oeste do Turcomenistão, e na vila de Geoktepe, a 45 quilometros a nordeste de Ashgabad. "A mesquita de Geoktepe estava no meio de velhas fortalezas", uma fonte contou ao Fórum 18. "As autoridades queriam que todos os muçulmanos fossem à principal mesquita, construída recentemente".A enorme mesquita de Saparmurat Haji, nomeada após o presidente e terminada nos anos 1990, foi, como a mesquita de Kipchek, construída pela companhia francesa Bouygues. A construção custou 86 milhões de dólares.

A onda de outono de demolições começou com a demolição de duas mesquitas em Ashgabad - uma na Rua Bitarap Turkmenistan e outra na parte sul da cidade, próxima a alfândega, na estrada para a turcomena-iraniana Howdan-Bajgyran, na fronteira de controle. Ambas foram demolidas em 15 de outubro, um dia antes do começo do Ramadan.

"Cultuadores contaram que as mesquitas foram demolidas porque o governo local está planejando construir uma nova estrada e alargar a já existente", uma fonte contou ao Fórum 18 de Ashgabad. "Mas é claro, nada foi construído ainda lá".

Um visitante da mesquita da Rua Bitarap Turkmenistan, em agosto, a achou "linda", com pessoas reparando e pintando por dentro da relativamente grande construção. Fontes contaram ao Fórum 18 que as pessoas locais estavam "realmente insatisfeitas" quando as autoridades informaram a elas que a mesquita seria demolida.

"De acordo com alguns rumores inconformados, as construções destas mesquitas foram financiadas por algumas não-identificadas entidades beneficentes árabes", uma fonte acrescentou. "Esta poderia ter sido uma das razoes para as demolições delas". Alguns líderes religiosos locais referiam à mesquita da Rua Bitarap Turmenistan como uma mesquita Wahhabi, uma referência à marca do Islamismo Sunita que predomina na Arábia Saudita, embora o termo "Wahhabi" seja mais usado (e freqüentemente de maneira errada) na Ásia Central como um sinônimo de "Muçulmano extremista".

Logo depois, uma mesquita de construção privada localizada na Avenida Garashsyzlyl, na área de Garadamak, no sul de Ashgabad, foi demolida juntamente com um grande número de casas na mesma área. "No entanto, eu duvido que esta foi a principal razão para livrar-se dela", uma fonte contou ao Fórum 18 de Ashgabad. A fonte, que visitou a mesquita em julho, disse que o líder religioso que costumava morar em uma casa próxima parecia estar inconsciente dos iminentes planos do governo de demolir a mesquita dele.

A mais recente demolição, em novembro, foi de uma mesquita particular localizada na área de Choganly, ao norte de Ashgabad, próxima ao maior mercado da cidade (Tolkushka). Ela também não era registrada pelo governo, mas diferente da mesquita da avenida Garashsyzlyk, não poderia operar devido forte oposição das autoridades locais. Não se sabe de outras casas ao redor da mesquita em Choganly que foram demolidas, só mesmo a mesquita. Embora a enorme reconstrução tem se realizado em outras partes de Ashgabad nos últimos anos, o governo não parece ter planos de reconstruir nada em Choganly.

Um muçulmano local sugeriu que todas as quatro mesquitas demolidas em Ashgabad no outono foram alvo porque seus líderes religiosos recusaram ler em suas mesquitas o Ruhanama de Niyazov.

Outros muçulmanos apontam o começo da última onda de demolições das mesquitas privadas para uma reclamação da fala presidencial que alegou que tentavam semear discórdia no país. "Algumas pessoas estão vindo aqui e pegando nossos rapazes para ensiná-los",  Niyazov contou num encontro na cidade de Turkmenbashi, em 22 de setembro de 2004. "Oito rapazes têm sido pegos neste caminho para serem feitos Wahhabis. Este é o meio pelo qual depois eles voltarão e começarão disputas entre nós. Portanto, vamos treiná-los aqui, em Ashgabad, na faculdade de teologia".

Fontes têm dito ao Fórum 18 que Khezretkuli Khanov, cabeça do conselho do governo na capital Ashgabad, tem se queixado para visitantes de seu escritório nos últimos meses que ele enfrenta constantemente o problema de tratar com o funcionamento de mesquitas sem a permissão requerida. Atividade religiosa não registrada é ilegal no Turcomenistão, em desafio às leis de direitos humanos internacionais.

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