Portas Abertas • 19 jan 2005
Autoridades da Eritréia estenderam sua repressão contra organizações religiosas na semana passada para cidadãos católicos, prendendo 25 membros da Igreja Católica durante o ensaio de um casamento em Asmara.
A noiva e o noivo tinham se encontrado na festa do casamento na manhã de domingo, no dia 09 de janeiro, para ensaiar duas semanas antes. Mas a polícia inexplicavelmente entrou no prédio alugado por um grupo católico carismático com o nome de Tebadasso, interrompendo o ensaio.
O grupo inteiro presente, incluindo o casal, foi preso na delegacia em Asmara, onde permaneceram presos até o dia 13 de janeiro.
A prisão marcou a primeira repressão contra a comunidade católica no país, que desfruta de reconhecimento "oficial" pelo governo, junto com cristãos ortodoxos, luteranos e muçulmanos.
Em um discurso transmitido pela televisão desde Roma um dia após as prisões em Asmara, o Papa João Paulo II listou a liberdade religiosa como um dos quatro maiores desafios a ser enfrentado no mundo neste ano. "É necessário que a liberdade religiosa seja proporcionada em todas as partes com uma garantia constitucional eficaz", disse o papa.
No mesmo domingo, a polícia interrompeu uma cerimônia de casamento em Barentu, ao oeste do país, prendendo 67 evangélicos. Os participantes tinham acompanhado a noiva até a igreja quando a polícia interveio e os levou até a delegacia, incluindo o casal.
Os dirigentes da cerimônia foram identificados como pastores Oqbamichel e Simon, da igreja de Kale Hiwot, e Hagos Tuomai da Igreja Evangelho Pleno.
Os 67 prisioneiros foram levados até o Centro de Treinamento Militar de Sawa para "punição militar".
Fontes locais disseram que foi muito perturbador o número de idosos e crianças detidas, pedindo aos cristãos do mundo inteiro para "orarem e protestarem".
A terceira ocorrência foi registrada no dia 09 de janeiro no distrito de Beleza, norte de Asmara, onde quatro homens se reuniam para reunião de oração matinal. Todos da igreja de Hiwot Kale, estavam no momento sendo detidos sob confinamento militar no campo de Mai-Serwa.
Neste mesmo período, a CompassDirect confirmou que 25 dos 60 membros da Igreja Carismática Rema, presos na véspera do ano novo em Asmara, foram soltos depois de assinarem que não mais participariam de tal tipo de reunião. A esposa do pastor tinha previamente sido liberada no dia 04 de janeiro, deixando seu marido, Habteab Oqbamichel, e outros 33 membros da Rema ainda em custódia em Mai-Sewa.
Curiosamente, quando os cristãos do país celebraram o natal no dia 07 de janeiro desse ano, a mensagem anual transmitida pelo patriarca da Igreja Ortodoxa não foi ao ar.
O lapso inexplicável foi atribuído às tensões crescentes entre o governo e Abune Antonios da igreja ortodoxa, que foi acusado pelas autoridades do governo de interferir nos assuntos religiosos da igreja. Recentemente Abune manifestou suas objeções sobre a prisão de membros de sua igreja a Medani Alem, instituição religiosa que faz parte da Igreja Ortodoxa.
Tradicionalmente, metade da população nacional é cristã e outra metade, muçulmana. A maioria dos cristãos pertence à Ortodoxa, fundada na região no século IV, com católicos e protestantes representando 5% e 2% respectivamente.
Desde maio de 2002, o governo tem ido atrás das igrejas protestantes, fechando seus templos, prendendo e torturando centenas de membros envolvidos em "religiões ilegais".
Três grandes pastores estão incomunicáveis desde maio de 2004 pelo governo, e centenas de soldados evangélicos permanecem presos por recusarem a renunciar o cristianismo.
Apesar de ser nomeado há alguns meses pelo Departamento do Estado Americano como "um país de preocupação específica" por suas severas violações à liberdade religiosa, a Eritréia nega que haja perseguição religiosa.
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