Portas Abertas • 31 mai 2005
Um tribunal islâmico no sul do Irã absolveu o pastor leigo Hamid Pourmand das acusações de apostasia e proselitismo declarando: "Debaixo da sharia (lei islâmica), não existem acusações contra você".
Durante uma audiência no dia 28 de maio em Bandar-i Bushehr, o juiz disse a Hamid: "Eu não sei quem é você, mas aparentemente o resto do mundo sabe. Você deve ser uma pessoa importante, porque muitas pessoas do governo me ligaram dizendo para eu cancelar seu caso". Mas ao invés de cancelar o caso, o juiz absolveu porque ele "não fez nada de errado" de acordo com a lei islâmica.
A surpreendente absolvição de Hamid em única audiência foi noticiada ontem pela agência de notícia de língua ISNA, citando o advogado de Hamid como fonte. Desde então a notícia está aparecendo em muitos websites em farsi.
Apesar da absolvição, o pastor continua preso, cumprindo uma sentença de três anos relacionada a uma pena dada por um tribunal militar, também relacionada à sua conversão religiosa.
Hamid, 47, foi preso em setembro do ano passado pela polícia iraniana enquanto participava de uma conferência de igrejas perto de Teerã. Coronel do exército, ele também era pastor de uma das congregações das Assembléias de Deus na cidade portuária Bandar-i Bushehr, no sul do país. Depois de cinco meses de interrogatório em confinamento solitário, Hamid foi julgado por um tribunal militar em fevereiro, acusado de "enganar as Forças Armadas do Irã" por não ter comunicado sua conversão ao cristianismo. Apesar das provas claras em favor do réu, ele foi considerado culpado, dispensado do exército sem honras e condenado à penas máxima de três anos pelo seu "crime".
O advogado de Hamid apelou da sentença emitida pelo tribunal militar com base em documentos assinados pelos antigos superiores do coronel, provando que eles sabiam que ele tornara-se cristão. O tribunal militar que sentenciou Hamid em fevereiro considerou falsos os documentos apresentados. Fontes ligadas ao caso dizem que é difícil saber se a sentença pode ser revogada pelo Supremo Tribunal Iraniano, mas eles demonstraram esperança que a sentença diminua para apenas um ano ou menos. "Ele já está preso por mais de nove meses, se a sentença dele for reduzida, ele pode ser solto logo", um cristão iraniano comentou.
Depois de passar os próximos dois meses numa cela comunitária na Prisão Evin, Hamid foi transferido em 16 de maio para uma prisão em Bandar-i Bushehr, pois deveria ser julgado por em um tribunal islâmico por apostasia e proselitismo. Nos últimos nove meses, o pastor foi submetido a forte pressão para negar sua fé cristã e retornar ao islã, podendo assim escapar da pena de morte por apostasia, como pode acontecer debaixo da sharia. Falando do seu confinamento em Bandar-i Bushehr, Hamid disse que ele foi preso com criminosos comuns, incluindo mafiosos, assassinos e traficantes de droga. "Mas agora estou de volta com os chamados espiões em Evin", brincou ele depois de ter chegado em Teerã ontem.
Desde fevereiro, o pastor divide a cela com o jornalista Akbar Ganji e outros dissidentes políticos proeminentes presos em Evin por expressar suas opiniões pró-reforma. Líderes políticos europeus juntamente com o governo norte-americano pediram repetidas vezes para que o Irã liberte o jornalista e outros prisioneiros políticos, incluindo Hamid. Durante o final de semana, protestos sem precedentes continuaram em frente ao prédio do parlamento iraniano, onde estudantes e líderes civis levantaram placas e faixas pedindo a libertação de Ganji, que está seriamente doente depois de cinco anos preso.
"Não sabemos o que acontecerá com Hamid nas próximas semanas, mas temos provas irrefutáveis da sua inocência e existe uma pressão internacional muito forte agora, na medida que nos aproximamos da eleição presidencial". Rodeado pela polícia enquanto era escoltado para a prisão Evin, ontem Hamid sorriu e acenou para sua família dizendo: "Não se preocupem comigo. Essa prisão é como minha casa agora, vocês sabem!"
Hamid é um ex-muçulmano que se converteu ao cristianismo há 25 anos. Ele é casado com Arlet, cristã Síria. O casal têm dois filhos adolescentes, Davi e Emanuel.
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