Portas Abertas • 21 set 2005
Em Istambul, o estado ordenou uma perícia médica para fornecer um segundo parecer determinando se Yakup Cindilli continuava a apresentar as seqüelas provenientes dos ferimentos que recebeu e que o levaram ao coma ao ser agredido por nacionalistas há quase dois anos.
Mas como Cindilli, 34 anos, está desaparecido de sua casa há três meses, não se sabe se os especialistas conseguirão encontrar e examinar a vítima para fornecer conclusões finais perante a Corte Criminal.
Em uma audiência no dia 8 de julho, médicos forenses de Bursa apresentaram os resultados dos exames físicos de Cindilli. Solicitados depois de um período de 15 meses para permitir um tempo adequado de recuperação, os testes concluíram que ele ainda não estava plenamente recuperado dos ferimentos graves e do trauma psicológico.
Mas os advogados de defesa dos três agressores - o presidente de uma ala local do Partido do Movimento Nacionalista e dois outros jovens - fizeram objeções aos resultados médicos apresentados à Corte.
Um novo juiz assumiu o caso e solicitou que novos exames fossem efetuados por especialistas em Istambul para serem apresentados na próxima audiência, no dia 6 de outubro.
Ex-muçulmano, convertido ao cristianismo há quatro anos, Cindilli ficou foi submetido a um severo espancamento em outubro de 2003, ficando em coma por seis semanas. Quando recuperou a consciência e obteve alta, ele não tinha condições de andar sem ajuda e às vezes deixava de reconhecer seus parentes mais próximos.
Cindilli não compareceu à audiência de julho, e seu paradeiro permanece desconhecido desde então.
A família já confirmou que ele deixou a residência onde viveu nos últimos dezoito meses. Ele ainda não voltou para Orhangazi, cidade onde fica sediada a Corte Criminal, ou entrou em contato com eles desde então. A família dele, muçulmana tradicional, ainda permanece radicalmente contra a sua conversão ao cristianismo.
Nem mesmo com o seu pastor, Ismail Kulakcioglu, da Igreja Protestante de Bursa, Cindilli tem mantido contato. Ele esteve por lá algumas vezes durante julho e agosto, e em várias reuniões cristãs em Istambul.
Através de exercícios e terapia iniciados em janeiro desse ano, Cindilli readquiriu o controle sobre a maioria de seus movimentos físicos, mas ainda não consegue utilizar plenamente o braço direito. Embora sem condições de estar trabalhando em tempo integral, por alguns meses ele conseguiu um emprego em sua igreja.
De acordo com os cristãos que conviviam com Cindilli até o início de junho, ele demonstrava a maturidade emocional de um adolescente. Entretanto, seu compromisso com a igreja parecia bem forte.
"Não sabemos onde ele está morando no momento", admitiu o pastor Kulakcioglu. Mas pessoas próximas que o viram em Istambul disseram que ele aparentava estar sem dinheiro, morando nas ruas.
Um evangélico que o viu por várias vezes nos últimos dois meses disse que ele falava sobre a necessidade de ter um dinheiro e encontrar um jeito de sair da Turquia. "Ele apenas vinha e ia embora. Conversamos com ele, mas é difícil entendê-lo, e ele não diz o que pensa".
"Ele está agindo de forma independente", continuou o pastor Kulakcioglu. "Ele não fala com sua família, e quando encontra outro cristão que é seu conhecido, Cindilli não consegue estabelecer um relacionamento".
Pelo fato de Cindilli não ter comparecido na audiência em 8 de julho, ele pode não ter conhecimento de que a corte ordenou que ele fosse reexaminado, e que tem outra audiência marcada para analisar os resultados.
Na época em que foi agredido, os jornais locais relataram que os agressores tinham acusado Cindilli de distribuir o Novo Testamento e promover propaganda missionária em sua cidade. Nenhuma das duas acusações é considerada um crime de acordo com a lei civil turca.
Embora os três agressores ainda tenham que enfrentar sérias acusações, o pastor Kulakcioglu disse que acreditar que Cindilli estava sob pressão de sua família para retirar o caso da justiça.
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