Portas Abertas • 30 set 2005
Três mulheres acusadas de "cristianização" apelaram da sentença imposta a elas em 1º de setembro.
Rebekka Zakaria, Eti Pangesti e Ratna Bangumn foram sentenciadas a três anos de prisão depois que membros do clero muçulmano em Indramayu, Java Ocidental, acusaram-nas de tentar converter crianças muçulmanas.
Os juizes consideraram as professoras culpadas de violarem o Ato de Proteção da Criança, alegando que elas teriam se utilizado de "conduta enganosa, uma série de mentiras e incitamentos para seduzir crianças a mudarem de religião contra a própria vontade".
O apelo, feito na Suprema Corte em Bandung após uma semana da sentença, dará ao governo e à Suprema Corte uma oportunidade de "tornar-se transparente quanto aos direitos constitucionais, condenando a perseguição religiosa e promovendo a justiça", disse Elizabeth Kendal, da Aliança Evangélica Mundial.
Um dos opositores, membro do Corpo de Comunicação de Jovens e Adolescentes Muçulmanos, disse, depois da sessão da corte de 1º de setembro, que o veredicto foi recebido muito bem por ele. Ele também informou que a sua organização e outras continuariam em campanha contra atividades cristãs e igrejas ilegais no distrito de Indramayu nos próximos meses.
Extremistas muçulmanos forçaram o fechamento de pelo menos 60 igrejas domésticas em Java no último ano. Um decreto ministerial requer que todas as igrejas indonésias obtenham permissão de atuar. Na prática, a maioria dos conselhos locais se recusa a garantir essas autorizações.
Muitos grupos de igreja, portanto, se reúnem em casas - incluindo a Igreja Cristã do Campo de Davi, pastoreada por Rebekka Zakaria e freqüentada por Eti Pangesti e Ratna Bangun, até que também foi forçada a fechar, em dezembro do ano passado.
Testemunhas ausentes
Rebekka, Eti e Ratna lançaram seu programa de ensino cristão "Domingo Feliz", em setembro de 2003, a pedido de uma escola no distrito de Harguelis, em Indramayu. A escola tinha pedido para dirigir um programa para crianças cristãs atendendo ao Projeto de Lei do Sistema Educacional, que passou a vigorar em junho de 2003.
O programa demonstrou-se popular, e as crianças muçulmanas logo pediram para participar. Jeff Hammond, da Bless Indonésia Today, explicou numa reportagem em 2 de setembro que, inicialmente, uma senhora muçulmana pediu para que seus netos pudessem comparecer ao programa. Essa mulher e sua filha eram prostitutas, e ela não queria que as crianças seguissem o mesmo caminho.
Na medida em que mais crianças muçulmanas pediam para entrar no programa Domingo Feliz, Rebekka, Eti e Ratna insistiam que para participar elas tivessem a permissão da família. Essa condição foi aceita, embora o consentimento fosse verbal em vez de escrito.
Alguns pais muçulmanos compareceram a algumas reuniões, tendo suas fotos tiradas com seus filhos para registro. Quando começou o julgamento, esses pais foram intimidados pelo furor geral de muçulmanos radicais da região e se recusaram a testificar em apoio às acusadas.
Várias testemunhas chamadas pela promotoria testemunhar acabaram não aparecendo, incluindo a mulher muçulmana que mandou os netos para o programa educacional.
A cada audiência, vários jovens muçulmanos faziam manifestações, tanto dentro como fora da corte. Muitos carregavam faixas pedindo para que fossem condenadas. Quando seus líderes falavam em megafones, a multidão respondia: "Matem! Enforquem Rebekka!".
Com aproximadamente 85% da população do país muçulmana, a percentagem sobe para 99% em Indramayu - embora a região outrora tenha sido predominantemente cristã.
De acordo com ativistas de direitos humanos, uma igreja em Harguelis foi destruída em 1947 e o pastor executado. Após esse incidente, muitas casas cristãs foram queimadas na década de 50, levando a um acentuado declínio na população cristã.
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