Portas Abertas • 22 jan 2006
Protestantes e testemunhas de Jeová de Ashgabad, capital do Turcomenistão, e de outras cidades do país se queixaram à agência de notícias Forum 18 sobre o que eles chamam de "ódio religioso" das autoridades pelos seguidores de religiões não-islâmicas.
O incidente mais recente é a pressão feita por autoridades em dezembro de 2005 a um recém-convertido ao cristianismo. O homem, que não quer ser identificado por motivos de segurança, se uniu a uma congregação protestante em Ashgabad no final de 2005. O convertido logo foi espancado por parentes e foi expulso de casa. A família chamou então representantes da polícia e do 6º Departamento do Ministério do Interior para localizar o convertido. O 6º Departamento é responsável pela luta antiterrorista, crime organizado e atividade religiosa.
Quando o homem foi encontrado, a polícia o levou a duas delegacias para interrogá-lo, e depois para a administração local. Por uma hora, 12 representantes da comissão que cuida das violações da lei ficaram dizendo ao convertido que ele era um traidor de sua fé, um dos cristãos contou ao Forum 18. Ele também disse que, na presença de alguns parentes, esses homens disseram ao convertido que, se ele renunciasse ao cristianismo e voltasse ao islamismo não iria acontecer mais nada. Mas o homem se recusou. Ele pôde ir, apesar dos representantes dizerem: Você está doente e Sua cabeça não está funcionando. Os cristãos disseram ao Forum 18 que, depois dessa intimidação, o convertido foi deixado sozinho.
A agência de notícias tentou descobrir porque os membros de minorias religiosas sofrem insultos por sua fé e são pressionados a se converter a outra religião. E tudo isso tem acontecido dentro da proclamação do país de separação oficial entre Estado e religião. Entretanto, Forum 18 não obteve nenhum retorno em suas pesquisas.
Membros de minorias religiosas continuam preocupados, pois, enquanto a política oficial proclama harmonia inter-étnica e inter-religiosa, a realidade é outra. Há hostilidade, ameaças e pressão para os convertidos voltarem ao islamismo. Essa atitude dupla vem lá de cima, os protestantes se queixam. Por um lado o presidente proclama que o registro de comunidades religiosas é possível e que a garantia constitucional de liberdade religiosa será honrada. Mas, por outro lado, ele fala na televisão de pessoas traindo sua religião."
Os que foram detidos em uma reunião de oração, na Igreja Batista de Deynau, também ouviram os funcionários do governo insultar sua fé, e receberam ordens de não realizar mais reuniões públicas na vila, onde os cristãos são pessoalmente chamados de e denunciados como "traidores". A igreja batista de Deynau era registrada e foi invadida dia 17 de dezembro de 2005.
Os detidos nessa reunião ouviram: Vocês são turcomanos - deveriam ser muçulmanos". Os policiais ameaçaram intimar toda a população do lugar e colocar o grupo de protestantes no meio dela. Segundo um dos cristãos, a idéia era envergonhá-los e humilhá-los, para intimidar os outros que pensassem em se tornar cristãos. Apesar de terem marcado uma data, os cristãos puderam ir embora, mas só depois de assinarem uma declaração de que eles iriam ler o livro do presidente, o Ruhnama, em vez do Novo Testamento. Os "escritos espirituais" do presidente Niyazov são uma parte compulsória na vida do Turcomenistão.
Nos últimos anos, as autoridades têm insultado e hostilizado com freqüência a fé dos membros de minorias religiosas, em especial os protestantes, testemunhas de Jeová e seguidores de Hare Krishna. Essas expressões de ódio religioso são em geral acompanhadas por ameaças, agressões e multas. Há uns cinco anos esse tipo de hostilidade e pressão eram geralmente inflamadas depois que os membros da igreja assinavam os pedidos de registro religioso. Esse registro nunca era dado, mas as autoridades usavam as listas de nomes para oprimir os turcomanos ou uzbeques que assinavam os pedidos, um protestante disse ao Forum 18.
Esse tipo de pressão é bem comum nas vilas, ele acrescentou. As autoridades, junto com um líder islâmico, vão às casas dos membros de igreja e os ameaçam em público de serem traidores, e avisam os vizinhos para não se relacionarem com eles. O protestante também disse que há hoje casos em que os protestantes são repreendidos pela polícia, mas ela prefere fazer isso particularmente. Elas não querem nenhuma testemunha para o que estão fazendo.
A queixa das minorias religiosas é de que a posição oficial dada aos clérigos muçulmanos na administração de assuntos religiosos do governo, e a proximidade de muitos deles às autoridades - em especial nas vilas - ajuda a promover a intolerância religiosa contra elas.
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