Portas Abertas • 24 jan 2006
Quase 21 meses depois do assassinato de um estudante cristão na região de Punjab, Paquistão, a polícia prendeu um clérigo muçulmano suspeito de torturar o jovem para que ele se convertesse ao islamismo.
Umar Hayat foi preso no início de janeiro sob acusações de que ele e outros dois membros do seminário islâmico na cidade de Toba Tek Singh teriam torturado Javed Anjum durante cinco dias, até que o cristão se "convertesse" ao islamismo. Outro suspeito, Maulvi Ghulam Rasool, foi preso em novembro, depois que a Suprema Corte do Paquistão negou sua fiança.
O policial Rana Habib ur-Rehman confirmou a prisão de Umar, mas se recusou a dar mais detalhes. De acordo com uma fonte em Toba Tek Singh, falando sob condição de anonimato, os líderes muçulmanos estavam fazendo uma campanha pela liberação de Umar durante toda a semana que se seguiu à prisão, visitando a delegacia e pressionando os policiais encarregados do caso.
O juiz Javed Iqbal Warraich ordenou a proteção para o pai do falecido Javed Anjum, Pervez Masih, e para seu advogado, depois que Pervez registrou uma queixa, dizendo que membros armados das "madrassas" (escolas islâmicas) de Rana e Umar o estavam perturbando durante as audiências.
O advogado de Pervez, Khalil Tahir Sindhu, disse que o principal objetivo desses clérigos é perturbá-los e forçá-los a abandonar o caso. Khalil se queixou de que os clérigos nunca foram revistados, em uma busca por armas, quando entraram no tribunal. Ele se sentiu "realmente preocupado" com sua vida "nas mãos desses homens".
De acordo com o advogado Khalil, dois policiais foram designados para acompanhá-los no caminho de ida e volta ao tribunal. Falando de Toba Tek Singh depois da audiência de 17 de janeiro, o advogado confirmou que quase 40 líderes muçulmanos e estudantes do seminário de Maulvi se reuniram mais uma vez do lado de fora do tribunal.
Embora os membros da madrassa não tenham ameaçado física e verbalmente Pervez e Khalil, a promotoria continua a arranjar religiosos cristãos do lugar e líderes políticos para acompanhá-los ao tribunal.
O padre James Paul disse: "Eu geralmente vou com o sr. Khalil Tahir porque sempre há um perigo". Ejaz Jacob Gill, da Assembléia do Distrito, que acompanhou Khalil à audiência de 14 de janeiro, concorda que Khalil e Pervez ainda enfrentam problemas com os líderes muçulmanos.
Confissão no leito de morte
Em 15 de janeiro, Pervez apelou da decisão da corte em rejeitar a confissão em leito de morte de seu filho como parte das provas oficiais. Uma data para a audiência de apelo ante a Alta Corte de Lahore ainda está para ser marcada.
Na declaração de abril de 2004, feita à polícia em seu leito no hospital, Javed identificou Maulvi como um dos homens da madrassa que o agarrou quando ele parou para tomar água no bebedouro da escola.
O testemunho, que foi filmado, conta como os membros da escola espancaram Javed, de 19 anos, e lhe aplicaram choques elétricos em uma tentativa de convertê-lo ao islamismo. Depois de cinco dias de tortura, Javed disse o credo islâmico na presença de seus raptores. A repetição desse credo na presença de duas testemunhas muçulmanas é um meio válido de conversão, de acordo com lei islâmica, embora Javed tenha dito depois aos seus pais que ele não renunciou à fé cristã.
Os alunos da madrassa levaram Javed imediatamente para a polícia, afirmando que eles pegaram o rapaz tentando roubar o bebedouro da escola. Com 26 ferimentos, incluindo dedos e um braço quebrados, unhas arrancadas, queimaduras na pele e sérios ferimentos em seus rins e na bexiga, Javed foi encaminhado imediatamente ao hospital.
Ele morreu por causa de sua situação no Hospital Faisalabads Allied, em 2 de maio de 2004. Horas depois, a polícia prendeu Maulvi. Depois de nove dias de interrogatório, Maulvi, guardião da madrassa e líder de oração, entregou Muhammad Tayyab e Umar como seus cúmplices.
Madrassa associada a foras-da-lei
As autoridades mantêm Umar e Maulvi detidos na cadeia de Jhang Sudr, a 35 quilômetros de Toba Tek Singh. Muhammad, um professor da madrassa, foi libertado mediante fiança em dezembro de 2004.
A madrassa de Maulvi tem laços informais com o grupo fundamentalista islâmico "Sipah-e-Sahaba", de acordo com declarações de fontes locais em Toba Tek Singh, feitas sob anonimato. A organização era um dos cinco grupos extremistas banidos pelo presidente Pervez Musharraf em janeiro de 2002, mas que continua a atuar sob outros nomes.
Depois que foi descoberto que um dos homens-bombas responsáveis pelas explosões de 7 de julho, em Londres, havia estudado em uma madrassa do Paquistão, o presidente Musharraf prometeu deportar quase 1,4 mil estudantes estrangeiros de seminários islâmicos em todo o país. Ele também exigiu que todas as 13 mil madrassas do Paquistão se registrassem até o fim de 2005.
Mas nas últimas semanas, o governo voltou atrás em seu ultimato, permitindo que alunos estrangeiros renovassem seus vistos e prolongou o prazo de registro das madrassas. O acordo do governo foi feito depois que muitos seminários se recusaram a retirar os estrangeiros.
Tentativas de retirar alunos estrangeiros à força "poderiam irritar o restante de nossos alunos, o que dificultaria o nosso controle sobre eles", disse um líder de uma coalizão de madrassas de Paquistão, o Ittehad Tanzimat Madaris Deeniya, de acordo com o Daily Times de 4 de janeiro.
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