Portas Abertas • 23 jan 2006
As autoridades de Bandung, Java Ocidental, deram ordens para que oito igrejas domésticas no complexo residencial Rancaekek Kencana encerrassem suas reuniões em casas em dia 15 de janeiro.
Cada igreja recebeu a ordem por meio de uma carta, depois de uma reunião em dia 12 de janeiro, da qual participaram funcionários públicos, a polícia, o comandante do exército local e o líder de um fórum muçulmano local.
As cartas, emitidas pelo Gabinete de Unidade Nacional e Proteção Pública em Bandung, instruía as igrejas a não usarem mais casas particulares como locais de encontro para os cultos.
Mas mesmo assim, algumas das oito igrejas no complexo Rancaekek se reuniram para o culto matutino no domingo, 15, dizendo que eles não tinham um lugar alternativo. As igrejas pediram autorização em 1993, quando o complexo residencial foi construído, mas seus pedidos foram rejeitados diversas vezes.
Sob um decreto ministerial emitido em 1969, todos os grupos religiosos devem pedir autorização antes de criar salões de culto. Já que os vizinhos devem dar sua aprovação antes da autorização ser concedida, o decreto é um obstáculo enorme para as igrejas se reunirem em comunidades com maioria muçulmana.
A "Huria Kristen Batak Protestan" (HKBP) é a maior igreja em Rancaekek, com quase 250 membros. A igreja começou a se reunir em uma casa na rua Gradiol antes de se mudar para a rua Teratai Raya, em 2000.
De acordo com o diácono Jawadi Hutapea, não foi apenas um vizinho que reclamou das reuniões no lugar onde a HKBP está agora. Quando a agência de notícias Compass visitou a igreja no domingo, não havia qualquer sinal de que o prédio era usado como uma igreja: não havia carros estacionados e as músicas mal podiam ser ouvidas na rua.
O diácono disse: "Vamos continuar a orar aqui. Para onde mais podemos ir? Bandung e Jatinangor estão muito distantes, e fica muito caro viajar para lá todo domingo." As duas cidades ficam a cerca de 20 quilômetros de Rancaekek.
"Tudo que queremos é que nos deixem comprar um terreno com o preço do mercado, e nós iremos construir uma igreja", acrescentou Jawadi.
O reverendo Filemon Sirait da "Gereja Pantekosta Tabernakel", na rua Gradiol, disse que sua igreja também iria continuar se encontrando. "Temos boas relações com a vizinhança e achamos que não tem problema", ele disse ao Compass antes do culto de domingo.
Na mesma rua, 20 pessoas sentaram em cadeiras plásticas, arrumadas em torno de um pequeno púlpito na "Gereja Kemah Injil Indonesia".
"Não tenham medo", a dona da casa e pastora Margaret (muitos indonésios possuem apenas um único nome) disse ao seu rebanho. "Deus nos ajudará nessa situação difícil. Não parem de orar".
A pastora Margaret disse que sua igreja tem se reunido na área por 12 anos, sem nenhuma objeção por parte dos vizinhos. "Na noite passada eu me reuni com os vizinhos, e eles estavam com medo de falar em nosso favor", ela disse.
A "função" de uma casa
Outra casa normalmente usada como igreja na Rua Teratai Raya estava vazia; não havia cruz, nem piano, nem púlpito, nem pessoas - apenas cinco longos bancos de madeira. "Nós decidimos encerrar as reuniões aqui em 8 de janeiro", disse o líder da igreja, Yohanes Pangarso.
Na congregação, que começou ali em julho de 1993, não havia acontecido nenhum atrito ou incidente até setembro de 2004. Nesse mês, um grupo de fora da área cercou a casa e exigiu que os membros da igreja interrompessem seus cultos, alegando falta de autorização.
A igreja continuou a se reunir, mas depois de uma advertência das autoridades, "decidimos não usar mais essa casa", Yohanes disse.
Edin Hendradin, chefe do Gabinete de Unidade Nacional e Proteção Pública, negou as afirmações de que seu departamento estava fechando igrejas. "Por favor, sejam justos. O que aconteceu em Rancaekek não é fechamento de igreja; estamos tentando restabelecer a função de uma casa", disse ele ao Compass.
Ele também apontou que o prefeito de Bandung emitiu uma carta, em 3 de setembro de 2004, proibindo o uso de casas particulares como lugares de culto, em resposta aos protestos de um fórum muçulmano local.
O Fórum Silaturahmi Ulama dan Cendekiawan Muslim (FSUCM ou Aliança para Estudiosos e Intelectuais Muçulmanos) protestou contra as igrejas desde que o primeiro pedido de autorização foi feito em 1993. A pressão consistente levou ao fechamento forçado de quatro igrejas em setembro de 2004.
Os membros do FSUCM enviaram mais duas cartas aos funcionários do governo, em 28 de dezembro de 2005 e em 9 de janeiro. Os funcionários prometeram desde então confiscar ou vender qualquer casa usada para culto particular. Conforme o regualmento n.º 24/2000, os transgressores podem ser presos por seis meses ou multados em cinco milhões de rúpias (500 dólares).
Edin, o chefe do Gabiente, disse que o governo tem tentado encontrar uma solução: "Há muitas fábricas em Rancaekek. Nós oferecemos um galpão de uma dessas fábricas para ser usado, mas a idéia não foi aceita".
Edin também disse que foi requerido da construtora do complexo residencial reservasse áreas para as atividades sociais, incluindo lugares de culto. Mas um membro do Perum Perumnas Regional Jabar-Banten, a construtora do complexo residencial Rancaekek, disse ao Compass que os usos sociais do local eram de determinação do governo local.
"Se esse for o caso, vou ter que checar", Edin disse.
O reverendo Simon Timorason, presidente do Fórum de Comunicação Cristã de Java Ocidental, disse que os funcionários do governo, e não a vizinhança, eram os responsáveis pela falta de autorização das igrejas.
Ele ainda disse que as igrejas de Rancaekek rejeitaram a oportunidade de usar os galpões de fábrica porque isso poderia criar mais problemas no futuro. "E se os trabalhadores das fábricas protestarem?" disse o reverendo Simon. "E se o dono quiser vender o terreno ou o galpão?"
O reverendo Simon disse que o ideal seria se as oito igrejas tivessem permissão para comprar um terreno dentro do complexo residencial e construir um local de culto em associação.
Até que uma solução permanente seja encontrada, os cristãos de Rancaekek se encontrarão em pequenos grupos para orar.
"Por enquanto, essa talvez seja a única forma de manter suas congregações" disse o reverendo Simon.
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