Portas Abertas • 24 fev 2006
Forças de segurança protegiam igrejas e mesquitas e patrulhavam as ruas de várias cidades da Nigéria, na quarta-feira, depois de episódios de violência alimentados pela crescente tensão política e religiosa terem matado dezenas de pessoas e terem obrigado milhares a fugir de suas casas.
As recentes charges sobre o profeta Maomé, rumores sobre o desrespeito ao Alcorão e a oposição a uma reforma constitucional serviram como estopim para quatro dias de conflitos entre muçulmanos e cristãos em cidades no norte do país, uma área de maioria islâmica.
Depois, seguiram-se ações de represália em uma cidade do sul nigeriano, majoritariamente cristão.
Mas, no país mais populoso da África, as causas dos embates são frequentemente políticas e, segundo observadores, essa rodada de violência não era diferente.
A atmosfera política já estava muito carregada no país, que possui altos índices de pobreza e muitos jovens desempregados. É por isso que esse tipo de crise eclode facilmente, disse Adamu Abubakar, uma autoridade da Cruz Vermelha na cidade de Bauchi (nordeste).
No necrotério de um hospital de Bauchi, havia 18 corpos, afirmou Abubakar, e outras pessoas teriam morrido e já teriam sido enterradas por parentes nos dois dias de lutas entre os grupos rivais que também deixaram 110 pessoas gravemente feridas.
Temos 600 famílias, ou cerca de 3.000 pessoas, que foram tiradas de suas casas e agora buscam abrigo em barracas do Exército, em uma delegacia e em duas igrejas. Elas contam com a proteção de policiais e soldados, disse Abubakar à Reuters.
Na cidade de Onitsha, no leste do país, pelo menos 20 pessoas, a maior parte muçulmana, foram mortas nesta quarta-feira por cristãos, numa ação de vingança pela morte de cristão no fim de semana no norte do país.
Segundo o integrante da Cruz Vermelha, muitos ficariam sem casa por muito tempo já que suas habitações acabaram sendo totalmente destruídas. A entidade deve montar um acampamento de longo prazo para os refugiados.
Duas igrejas e uma mesquita foram incendiadas durante os distúrbios, acrescentou. Todos os locais de culto religioso estavam sendo protegidos agora e as forças de segurança estavam encarregadas de dissolver quaisquer multidões.
Os conflitos em Bauchi aconteceram depois de distúrbios terem matado ao menos 28 pessoas (o número real pode ultrapassar a casa dos 50), durante o final de semana, em Maiduguri e Katsina, duas cidades no norte da Nigéria.
Represália
Os 140 milhões de moradores do país estão divididos quase igualmente entre os muçulmanos do norte e os cristãos do sul, apesar de haver grandes comunidades de ambos os grupos em quase todas as cidades nigerianas.
A violência religiosa em uma parte do país costuma provocar assassinatos de represália na outra. E, na terça-feira, também houve atos de vingança em Onitsha (uma cidade comercial), onde cristãos mataram muçulmanos e incendiaram mesquitas.
Orebiyi Abiodun, secretário-geral da Cruz Vermelha, afirmou ter recebido informações sobre 325 pessoas feridas e cerca de 2.000 expulsas de suas casas em Onitsha. Muitas delas estavam abrigadas em barracas do Exército e em delegacias.
Tanto Katsina quanto Maiduguri devem realizar, a partir de quarta-feira, audiências públicas sobre uma reforma constitucional.
Muitos pontos estão sendo discutidos como parte do pacote de alterações, mas, para muitos nigerianos, a meta principal do governo é permitir que o atual presidente do país, Olusegun Obasanjo, concorra a um terceiro mandato.
Há muita oposição, no norte, a um novo mandato dele porque muitos moradores da região sentem que a Presidência deveria ser ocupada por um muçulmano em 2007 depois de oito anos de governo de Obasanjo, um cristão do sul.
O dirigente promete obedecer à Constituição, que permite apenas uma reeleição. Mas ele não fez comentários sobre os esforços de alguns de seus partidários para alterar as leis atuais permitindo a busca de um terceiro mandato.
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