Portas Abertas • 17 mar 2006
Ataques planejados aos orfanatos, às escolas e aos outros ministérios da Missão Internacional Emanuel (EMI, sigla em inglês), em Rajasthan, intensificaram-se nesta semana quando o ministro do Bem-estar do Estado, Madan Dilawar, disse que ele deveria ser apedrejado até a morte se o esforço de seu governo fracassasse em assumir as propriedades da Missão.
A declaração veio menos de um mês depois de o Estado indevidamente revogar as licenças de um instituto bíblico, um orfanato, um hospital e uma igreja da EMI, no norte do Estado. De acordo com o diário hindu "Rajasthan Patrika", Dilawar também disse, no dia 13 de março, que ele deveria ser apedrejado, se não "tomasse uma atitude" contra o fundador da EMI, o arcebispo M.A. Thomas, e o seu filho, o reverendo Dr. Samuel Thomas.
Em 3 de março, os extremistas hindus ofereceram uma recompensa de 26 mil dólares pelas cabeças do arcebispo Thomas e de seu filho. No mesmo dia, M.S. Kala, diretor do Departamento do Bem-estar Social de Rajasthan, ordenou que a coletoria da região assumisse as instituições da EMI e congelassem suas contas bancárias, de acordo com "Rajasthan Patrika".
Entretanto, no dia seguinte, o Ministro Chefe de Rajasthan, Vasundhara Raje, impediu a tentativa de posse da missão.
Um representante da EMI, em Nova Déli, que pediu anonimato, disse ao Compass que o Registro de Sociedades entregou uma notificação três dias antes de revogar os registros de suas instituições, em 20 de fevereiro, "sob o pretexto de violação dos procedimentos solicitados pelas leis relacionadas às sociedades".
Depois que os responsáveis pela EMI terem respondido às alegações, eles souberam que sua resposta não havia sido satisfatória e todas as licenças foram revogadas.
A EMI opera com cinco sociedades registradas: Instituto Bíblico Emmanuel de Samiti, Emmanuel Anath Ashram (Orfanato), Sociedade da Escola Emmanuel, Emmanuel Chikitsalaya (Hospital) de Samiti, e Comunidade de Cristãos Emmanuel. A EMI lidera um movimento da igreja nativa, recebendo ajuda da Hopegivers International, com sede nos EUA, que exerce um trabalho educacional e humanitário, atendendo mais de dez mil crianças.
As autoridades tomaram medidas para proteger as instituições da EMI.
"A administração estatal agora dispôs policiamento em todos os institutos da missão, a fim de assegurar proteção aos seus funcionários", contou Jacob Matthew, administrador do hospital Emmanuel.
Jacob também disse que o coletor do distrito de Kota, Niranjan Arya, garantiu, em 15 de março, que não iria permitir que os pacientes no hospital, e as 2.500 crianças do orfanato de Kota sofressem devido às tensões. O Lar Esperança Emmanuel, em Kota, é financiado pela Hopegivers International.
Em 2 de fevereiro, uma multidão de extremistas hindus atacou um orfanato da EMI em Tindole, resultando na morte de uma criança e no apedrejamento e espancamento de funcionários e crianças atendidas pela instituição.. Em 10 de fevereiro, em Ramganjmandi, uma multidão hindu queimou totalmente a escola e o orfanato da EMI. De acordo com os líderes da missão, a polícia advertiu ao líder da escola e do orfanato da EMI que a violência não cessaria.
Também, em 10 de fevereiro, a polícia em Kota notificou o Seminário Emmanuel que eles não forneceriam segurança à cerimônia de graduação de 10.250 alunos e aconselhou o arcebispo Thomas a cancelar ou adiar o evento. Mais de 8.100 alunos transferiram suas cerimônias de graduação para cidades no sul da Índia.
Depois da licença do orfanato da EMI em Kota ter sido revogada, um posto de gasolina parou de fornecer combustível a preços subsidiados. O administrador do Hospital Emmanuel disse que o coletor da região de Kota, assegurou a ele que o suprimento de gasolina para o orfanato seria fornecido a preço mais baixo como anteriormente.
Em 25 de fevereiro, os extremistas hindus exigiram que advogados não dessem mais ajuda legal às crianças e nem que os comerciantes vendessem alimentos para elas. Os líderes da EMI disseram que, em 27 de fevereiro, inspetores do prédio foram recrutados para descobrir problemas nos orfanatos, nas escolas e nos prédios da igreja a fim de condená-los e demoli-los, e então substituí-los por centros de ioga e templos hindus.
As tensões iniciaram em 25 de janeiro, quando o arcebispo Thomas e seu filho receberam ameaças anônimas. Eles foram avisados para não realizar a cerimônia de formatura para as centenas de órfãos e alunos cristãos dalits, marcada para 25 de fevereiro. A cerimônia foi cancelada depois das ameaças e ataques.
Em 20 de fevereiro, V.S. Thomas, encarregado do orfanato Centro de Esperança em Raipura, e R.S. Nair, líder de operação da missão, foram detidos sem acusações. Durante as detenções, a polícia ficou parada enquanto um acusador agrediu um dos homens, de acordo com o Hopegivers.
O Hopegivers ainda disse que, em 22 de fevereiro, em Sanganer, extremistas destruíram uma escola da missão, fechando-a. Isso fez com que os alunos do primeiro grau fossem correndo, em prantos, para casa. Dois dias mais tarde, em Jaipur, extremistas hindus violaram e destruíram a escola de ensino médio Jhotwara Emmanuel e o prédio da igreja.
Campanha Sistemática
A EMI pode voltar a ter suas contas bancárias da depois da visita de uma delegação composta por membros parlamentares do Partido Comunista da Índia (Marxista). No dia 13 de março, o Ministro do Interior da União, Shivraj Patil, garantiu à delegação que tomaria medidas para restaurar as contas bancárias da EMI, congeladas pelo governo de Rajasthan.
Neste ínterim, o arcebispo Thomas e seu filho se esconderam depois de uma ordem de prisão dada contra eles. Eles foram condenados por distribuir um livro chamado "Haqeeqat" (A Verdade ou Realidade) que, segundo o grupo hindu, denigre as suas divindades e religião.
De acordo com a lei indiana, os sentimentos religiosos, de qualquer comunidade, que sejam prejudiciais, é uma ofensa digna de punição. Além disso, de acordo com a lei da Suprema Corte, a honestidade não é uma defesa segundo esta lei, Seção 153(a) do Código Penal da Índia.
O advogado do arcebispo Thomas, Mohammad Akram, contou à Compass que a EMI não tinha nada a ver com o livro polêmico, escrito pelo advogado M.J. Matthew, de Kerala. "Alguns livros foram mantidos no centro da Missão Emmanuel em Kota para serem vendidos. Ninguém havia lido o livro - caso contrário, eles não o teriam guardado no centro", disse Akram.
Segundo Suresh Kurup, líder da delegação parlamentar, disse que o Sangh Parivar, um conjunto de organizações afiliadas ao grupo extremista Rashtriya Swayamsevak Sangh, está usando o livro polêmico como um pretexto para realizar uma campanha sistemática contra os grupos minoritários.
Suresh disse que os ataques pareciam ser "uma operação planejada", já que o Partido Bharatiya Janata e o Sangh Parivar tinham o objetivo de fechar permanentemente as instituições da EMI.
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