Portas Abertas • 10 abr 2006
"Se você está me forçando a casar com um homem muçulmano só por causa da minha decisão de me tornar cristã, então vou preferir que você me mate do que aceitar casar com ele".
Essas foram as palavras amargas de Jamila Noma, agora com 16 anos, ao seu pai, Malam Noma. Elas foram ditas em uma corte islâmica há dois anos, na vila de Jimeri, estado de Bauchi, norte da Nigéria.
A garota foi detida pela polícia e levada a julgamento diante de uma corte islâmica por ordem de seu pai, quando ela se tornou cristã. Ela rejeitou a decisão de seu pai de casá-la com um muçulmano.
Esses dois anos a deixaram em uma situação incerta. O tribunal não decidiu o caso. Seu pai a renegou e a expulsou de casa. Ela está morando com seu advogado, Suleiman Wurno.
Jamila disse que seu pai é pagão. A família dele é composta por seis mulheres e 16 filhos. Ela é a caçula dos filhos de sua mãe.
Jamila decidiu se tornar cristã há dois anos, depois de ouvir a pregação do evangelho na igreja de sua vila. "O pastor na igreja havia pregado diversas vezes para nós", ela se lembra. "Eu sabia que era pecadora e decidi me tornar cristã."
Jamila sabia que haveria dificuldades. Dois de seus irmãos sofreram com seu pai quando eles decidiram se tornar cristãos.
Yohanna, um de seus irmãos também foi renegado e expulso de casa.
A ocasião de sua conversão aconteceu quando ela foi visitar seu tio materno, "o pastor Idi". "Meu tio compartilhou o evangelho comigo. Eu sabia que esse era o momento que eu estava esperando, o momento de receber Cristo como meu Senhor e Salvador. Então eu orei e aceitei Cristo", ela disse.
Tentativa de estupro
Isso foi em 2004. Quando ela voltou à sua vila, sua participação ativa nas atividades da igreja irritou seu pai. "Meu pai ficou bravo por eu ser cristã - ele sempre me ameaçava e me batia".
Jamila saiu do ensino fundamental, pois seu pai, em sua raiva, não queria que ela fosse à escola.
"Um dia, meu pai reuniu a família e anunciou que, já que eu tinha lhe desobedecido e me tornado cristã, ele não aceitaria mais que eu ficasse na mesma casa que ele. Ele disse que o único jeito de resolver esse problema era me casando."
Levaram um muçulmano à sua casa e levaram Jamila à força para a casa dele. "Eu fiquei confusa na casa dele", Jamila diz com choro. "Ele tentou me estuprar várias vezes, mas eu resisti."
Ao orar sobre essas tentativas de estupro, Jamila encontrou coragem para continuar a evitá-lo. Um dia ela escapou para a casa de sua tia, Murna Noma, na cidade de Nabardo.
Seu pai relatou sua fuga à polícia. Ela foi detida e acusada diante de uma corte islâmica. No tribunal, ordenaram que Jamila renunciasse sua fé cristã e voltasse à casa do muçulmano como mulher dele.
Foi nesse tribunal que a dura troca de palavras entre pai e filha aconteceu. Jamila rejeitou a sentença da corte.
"Foi lá que eu disse ao meu pai que, ao respeitá-lo como um pai, ele deveria permitir que eu escolhesse a fé que quisesse". Seu pai a renegou imediatamente e prometeu que nunca a deixaria voltar para sua casa.
Ao fugir da corte, Jamila correu para a vila de seu tio materno, Tsaka Dangiwa. Ele a levou para o advogado Suleiman. Por dois anos Suleiman lhe deu abrigo enquanto procurava meios legais de evitar que ela fosse processada. Ele também a inscreveu em um treinamento vocacional para se tornar costureira.
Sharia mal aplicada
A introdução da lei islâmica (sharia) no estado de Bauchi em 2001 deixou as garotas cristãs expostas a tais dificuldades.
Suleiman notou que a lei diz que só os muçulmanos devem ser julgados pela sharia. Mas, na prática, os cristãos também foram sujeitados a essas leis.
Suleiman confirmou os detalhes da história de Jamila. "Jamila se converteu do paganismo ao cristianismo. Seu pai, que é pagão, decidiu casá-la com um muçulmano. Ela se recusou e isso resultou em um sério problema".
Suleiman foi ameaçado por extremistas muçulmanos. Eles invadiram sua casa várias vezes por ter abrigado a adolescente.
Ele diz que a situação do caso de Jamila é incerto. "Não sabemos como lidar com esse caso. O pai continua a insistir que ela deve voltar à casa daquele muçulmano, como mulher dele."
Jamila insiste que, apesar de seu pai se opor ao fato de ela ter se tornado cristã, ela não vai negar sua fé. Ela diz: "A verdade é que meu pai não ouve ninguém. Apesar dos pedidos de várias pessoas, ele não quer mudar sua opinião sobre mim".
Na verdade, ela acrescentou, a maioria dos membros de sua família quer se tornar cristã. Mas seu pai tem se tornado um obstáculo para eles.
"Não tenho problemas em ser cristã", Jamila concluiu. "O Senhor me guiou por este caminho, e eu creio que o que aconteceu comigo está dentro de Sua vontade para mim."
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