No Egito, cristãos e muçulmanos vivem equilíbrio delicado

Portas Abertas • 17 abr 2006


As relações entre cristãos coptas e muçulmanos no Egito são normalmente pacíficas, mas episódios como o ataque a três igrejas em Alexandria nesta sexta-feira mostra que há tensões entre as duas comunidades.

Os cristão foram simultaneamente atacados por homens armados com facas em três templos - um agressor em cada igreja -, quando saiam dos locais. Uma pessoa morreu e pelo menos dez ficaram feridas.

A minoria copta - uma das denominações mais antigas do cristianismo - forma algo entre 5% e 10% dos egípcios - quase todo o restante da população é muçulmana.

Problemas entre as duas religiões começaram a se manifestar mais claramente a partir de 1980, quando o então presidente Anwar al-Saddat fez uma emenda à Constituição que definiu formalmente o Egito como um país islâmico e impôs algumas limitações sobre os coptas.

"O governo está agora modificando algumas destas leis, e acredito que isto está provocando reações contrárias de alguns grupos islâmicos. Em geral, as relações entre as comunidades são pacíficas, mas é inegável que haja alguns pontos de tensão", diz o editor do semanário cristão Watany, Yussuf Sidhom.

As leis que mais incomodam os coptas - e que o governo promete mudar - são as que limitam a construção de igrejas, a posse de terra por cristãos e o números de coptas em postos na administração pública.

Radicalização

O cientista político da Universidade do Cairo Mustafa Kamal Al-Sayed acredita que o aumento na tensão entre as comunidades se deve à intensificação de sentimentos religiosos nos dois lados.

"Há uma tendência atualmente no Oriente Médio de mais radicalização religiosa e isto certamente afeta as relações entre as diferentes comunidades", avalia.

Al Sayed observa que além de propor mudanças na legislação, o governo vem tentando tomar algumas medidas para ampliar a presença dos coptas na sociedade. Entre as novas iniciativas estão apresentar famílias cristãs nas novelas trasmitidas pela TV estatal e nomear um governador cristão para uma importante província do Sul do Egito.

"O ministro das Finanças, Yussuf Bouthros Ghali, é cristão", completa.

Mas Al-Sayed admite que os coptas ainda são muito sub-represantados na política egípcia, principalmente porque não tem um partido forte que possa defender seus interesses.

Direitos

O jornalista Yusuf Sidhom concorda que o governo está atentendo aos poucos diversas das reivindicações mais importantes dos coptas, mas diz que os cristãos ainda são cidadãos de segunda classe no país.

"No dia-a-dia, as relações podem ser normalmente pacíficas, mas a comunidade cristã sofre com um grande grau de desigualdade aqui no Egito", diz.

Sidhom afirma que não tem problemas específicos com a Irmandade Islâmica - o movimento muçulmano que é o principal grupo de oposição do país. Mas acrescenta que o princípio ideológico do grupo de criar um Estado muçulmano não é aceito pela comunidade.

"A Irmandade Islâmica quer um Estado islâmico e nós queremos um Estado secular para todos os cidadãos. A Irmandade tem um discurso respeitoso em relação aos cristãos, mas nos sentimos desconfortáveis com as ideologias que eles pregam ", explica.

Fatos isolados

Apesar disso, Sidhom não acredita em uma escalada na violência. O editor comenta que os fatos mais recentes foram incidentes isolados decorrentes da tensão entre as duas comunidades.

"O problema não é generalizado entre as pessoas nas ruas. São grupos ou indivíduos radicais que acabam tomando atitudes como essas", disse.

Em outubro do ano passado, três pessoas morreram em Alexandria quando manifestantes muçulmanos atacaram uma igreja depois que o DVD de uma polêmica peça teatral foi colocado à venda.

Com o título Eu Já Fui Cego Mas Agora Eu Vejo, o espetáculo contava a história de um jovem copta que se aproxima de militantes islâmicos, que depois tentam assassiná-lo.

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