Portas Abertas • 30 jun 2006
Depois de ajudar as vítimas do terremoto a sobreviverem a um rigoroso inverno, a Portas Abertas, através de organizações parceiras, deseja realizar projetos de longo-prazo. O objetivo é assistir a recuperação da região da Caxemira controlada pelo Paquistão conhecida como Azad Caxemira.
Em colaboração com os muçulmanos locais, organizações cristãs não-governamentais (ONGs) planejam abrir um hospital e escolas em Azad Caxemira. As ONGs antecipam que suas atividades ajudarão a reconstruir a comunidade e a erradicar os estereótipos comuns que imaginam os cristãos sob uma perspectiva negativa.
Azad Caxemira é governada por extremistas muçulmanos e, tradicionalmente, tem sido fechada aos cristãos. Os missionários cristãos foram expulsos na década de 1970, e nos últimos anos vários cristãos foram martirizados. Impossibilitada de adquirir propriedades ou construir igrejas, a comunidade cristã da área foi forçada a manter-se em silêncio, para não chamar atenção.
O terremoto do ano passado deu aos cristãos paquistaneses uma oportunidade de entrar na região e de ajudar as vítimas a reconstruir suas vidas. O líder de uma ONG cristã nos disse como, desde o começo do trabalho, sua organização deixou transparentes as intenções em ajudar, tanto para o governo como para as comunidades.
Socorro e reconstrução
"Bem no começo, fomos aos principais líderes do governo, para dizer a eles que a nossa ida até a Caxemira era porque aquela era uma tragédia nacional", contou o líder da ONG. "Dissemos a eles: Não importa que não haja uma igreja forte na Caxemira. Nossos irmãos que são muçulmanos foram afetados por essa tragédia terrível e ficaremos com vocês nessa hora."
"Fomos aos líderes das comunidades na Caxemira e lhes dissemos que queríamos vir com um plano a longo-prazo, para ajudar a reconstruir a vida das pessoas", o líder cristão continuou. "Eles nos receberam abertamente e nos deram liberdade desde o primeiro momento para entrarmos livremente na Caxemira."
Na ocasião do terremoto de 8 de outubro, que deixou 88 mil mortos e mais de 100 mil feridos, temia-se que o inverno montanhoso trouxesse uma nova onda de mortes àqueles que estavam sem o abrigo adequado. Por meio de seus parceiros cristãos do sul da Ásia, a Portas Abertas forneceu 26 caminhões carregados com comida e suprimentos, a fim de ajudar as vítimas do terremoto a sobreviverem ao inverno.
A ajuda incluiu centenas de tendas, e também folhas de aço, que cerca de 100 famílias usaram para construir novas casas.
Com os hospitais públicos em ruínas, as ONGs cristãs estabeleceram também um hospital provisório, que tratou no início 100 pacientes por dia. Conforme um médico voluntário, esse foi o único hospital da área a atender pelo menos 80 mil pessoas.
Em maio, os voluntários cristãos paquistaneses ajudaram a levantar um hospital pré-fabricado, a prova de abalos, que ficou no lugar do hospital provisório. Esse hospital provisório sofreu durante o inverno rigoroso. Ventos fortes rasgaram a tenda onde ficava a farmácia, e os quartos dos médicos desmoronaram três vezes sob o peso da neve acumulada.
Espera-se que as novas alas para homens e mulheres, com capacidade para abrigar 20 pacientes, e a nova sala de cirurgia, farmácia e ambulatórios sejam inaugurados em setembro.
Investimento em educação
Suprindo as necessidades emergenciais, os parceiros da Portas Abertas planejam agora construir quatro escolas nas áreas afetadas pelo terremoto. Mais de 65% das escolas públicas em Azad Caxemira foram destruídas no terremoto de 7.6 pontos na escala Richter.
"A maior carência de nossa comunidade agora é a educação", comentou um professor muçulmano da comunidade. "Mas precisamos mais do que escolas novas: precisamos também de uma qualidade melhor de educação."
As ONGs cristãs esperam atender a essa necessidade, estabelecendo quatro escolas de ensino fundamental e médio. Em meados de junho, líderes de uma ONG começaram a discutir com as comunidades em Azad Caxemira sobre a fundação de duas das escolas.
Em uma escola de ensino fundamental, na semana passada, voluntários cristãos distribuíram mochilas e materiais escolares para 70 crianças com idades entre cinco e 11 anos. As ONGs cristãs também prometeram construir duas salas para a escola, substituindo a abafada tenda na qual os alunos se reuniam desde que o prédio da escola desmoronou no terremoto.
As crianças que receberam novas mochilas e lápis de cor estavam quietas e apáticas, com um ou outro sorriso escapando de seus olhos entristecidos.
"Quase todas elas perderam algum parente próximo", um professor explicou. Mas, um voluntário que visitou a mesma escola no outono passado disse que os alunos estavam muito mais animados agora do que logo após o terremoto.
Tolerância religiosa
Novas escolas vão suprir inicialmente a demanda de educação na região, enquanto dá às crianças segurança e apoio para superarem o trauma do terremoto.
As ONGs cristãs acreditam que, mais cedo ou mais tarde, os formandos de suas escolas reinvistam nos esforços de melhorar a comunidade. Elas também acham que as escolas ajudaram a gerar tolerância entre as religiões.
"As escolas trarão uma harmonia inter-religiosa e removerão a suspeita e a dúvida que são espalhadas pelo extremismo", um cristão comentou. "Esperamos que, quando os muçulmanos começarem a conviver lado a lado com os cristãos, eles entendam quem os cristãos são. E que os cristãos, da mesma maneira, sejam capazes de compartilhar, com sua presença, o amor e a compaixão de Cristo."
As atividades inter-religiosas carregam uma importância crescente, já que as organizações de socorro dirigidas por muçulmanos extremistas tendem a radicalizar a Caxemira novamente. Monitores internacionais se preocupam com o grande número de organizações terroristas ilegais que participam nas ações de socorro do terremoto. Muitas dessas organizações pretendiam construir escolas religiosas islâmicas e são contra ONGs não-muçulmanas abrirem escolas nas área.
Os muçulmanos da região, entretanto, acreditam que os trabalhadores cristãos têm tido sucesso em quebrar os estereótipos negativos entre as religiões. Ao dividir uma refeição com uma equipe voluntária no novo prédio do hospital, um professor muçulmano expressou a mudança que tem acontecido em sua comunidade:
"Esta é a primeira vez que temos cristãos nesta parte da Caxemira. É maravilhoso ver que eles não são tão diferentes de nós. Sendo você um cristão ou um muçulmano, você continua sendo ser humano."
"O importante em ser humano é ter compaixão, sentir a dor dos outros quando eles estão feridos", o professor acrescentou, citando de forma livre o poeta e filósofo paquistanês Allam Mohammed Iqbal. "Elesvieram aqui e sentiram a nossa dor. Se, Deus me livre!, alguma coisa acontecer com eles, nós estenderemos a mão e os ajudaremos de volta."
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