Nacionalistas acusam pastor de ‘traidor’

Portas Abertas • 25 jul 2006


Nacionalistas da cidade de Samsun, no norte da Turquia, deram continuidade a uma campanha de dois anos contra uma igreja protestante. Eles condenaram, na imprensa, o direito de existência dessa congregação, registrada legalmente.

Izzet Altunbas atacou publicamente a Igreja Protestante Ágape usando termos cruéis em meados de junho. Izzet é presidente da Associação de Turcos Balcânicos de Samsun e membro proeminente do Partido do Movimento Nacionalista Local.

Em 16 de junho, em discursos transmitidos em mais de três canais de televisão, Izzet declarou que o estabelecimento da igreja, oficialmente registrada como Associação Igreja Ágape, revelava "grande prejuízo" à nação, já que ela se esforçava para se cumprir as leis da União Européia (UE).

O líder nacionalista culpou a submissão da Turquia às normas legais da UE. Conforme ele, o país fortalecia "assimilação" perigosa, guiada pela "Europa Cristã" contra a etnia turca e o islã.

As acusações de Izzet, transmitidas na TV Klas, na TV Alfa e na Kanal S, foram publicadas nos jornais locais no dia seguinte.

"Eu acho essa Associação e suas atividades secretas um grande perigo para Samsun e para o islã", o jornal Halk cita Izzet. Ao jornal Haber, ele diz: "Essa é uma traição contra nossa identidade turca e muçulmana".

Influenciando um público volátil

Nas suas acusações transmitidas pela televisão, Izzet leu amplas seções da licença da associação da igreja, que foram arquivadas com a Diretoria Turca das Associações como parte de seu processo de registro legal finalizado no último novembro.

O pastor Orhan Picaklar, de 35 anos, disse que estava chocado quando viu Izzet lendo a licença da igreja, imaginando como ele poderia ter possivelmente obtido uma cópia.

"Os documentos nas mãos deste homem foram submetidos somente à Diretoria das Associações - para o governo!", contou o pastor Orhan à agência de notícias Compass. "Como o governo deu estes documentos para ele?"

Izzet reclamou que nenhum dos 16 cidadãos turcos nomeados como fundadores da associação eram originalmente de Samsun, mas nasceram em outras cidades espalhadas por toda a Turquia. "Como é possível iniciar e manter uma igreja em um lugar onde não há nenhum cristão?", questionou ele.

Na semana passada, o chefe da Delegação da Comissão Européia para a Turquia abertamente advertiu o governo para não fortalecer os círculos nacionalistas contra a UE dentro do país. Ele parecem estar influenciando com força a opinião pública.

"O governo deve superar o programa nacionalista para dar um melhor futuro aos seus cidadãos", disse Hansjoerg Kretschmer aos repórteres em 12 de julho. Notando que a opinião pública era volátil, Hansjoerg disse que ela poderia ser mudada através da "informação realística e positiva" da imprensa.

No fim de seus aparecimentos na TV, Izzet exigiu que a polícia de segurança e os civis mantivessem a igreja sob severa vigilância. Fazendo isso, a pastor Orhan disse "Ele nos exibiu como um alvo".

Convertidos iludidos

"Isto não é uma igreja", declarou Izzet ao jornal Haber, em 2 de novembro de 2004. "Este é um centro que apresenta atividades missionárias", disse. Ele declarou que aquela era uma tentativa para "dividir nosso povo e nosso governo ... A paixão, o sexo, e a prostituição acontecendo na Casa Ágape estão sendo associados com dinheiro, usado para enganar nossa juventude e muda-los de religião".

A congregação do pastor Orhan iniciou as reuniões em setembro de 2003, em um prédio comprado por um cristão coreano na província de Atakum, em Samsun. O prefeito da província prometeu que ele "nunca permitiria" a instalação de uma igreja naquele local. Mas, um ano mais tarde, a Turquia revisou suas leis que governam associações, permitindo que a congregação se registrasse oficialmente como Associação Igreja Ágape em 28 de novembro de 2005.

O pastor Orhan disse que ele recebia e-mails e telefonemas ameaçadores quase todos os dias. "Estas mensagens são cheias de ameaças e difamação", disse ele. Alguns amaldiçoaram seus sermões, outros exigiram que o prédio e o site da igreja fossem fechados.

O ataque de Izzet foi acompanhado de um ataque violento do colunista do jornal Ekip, Lutfi Keskin. Em 16 de março, ele chamou a ideologia de Igreja Ágape "pervertida e depravada".

Lutfi escreveu que, apesar de gastar dinheiro e usar métodos imorais, a igreja não obteve sucesso em suas atividades missionárias. "Aparentemente eles se beneficiaram de uma brecha legal, usando as Leis da Associação para iniciar um grupo que promovesse atividades missionárias ilegais."

Ao escrever sobre o mesmo tópico em novembro de 2004, Lutfi declarou que os visitantes da igreja receberam notas de 100 dólares. "Sob o nome de conversão religiosa, eles estão ordenando todo o tipo de atividade divisória e destrutiva em Samsun, incluindo espionagem."

Pastor seqüestrado

Em uma tentativa de intimidar o pastor Orhan, dois homens não-identificados tocaram a campainha da casa dele às 2h da madrugada, em 3 de abril. Os homens fizeram-se de policiais, e exigiam que Orhan fosse com eles para dar uma explicação sobre uma queixa registrada contra ele.

"Eu pensei comigo, Talvez alguém tenha jogado pedras na igreja novamente. Como meu telefone não está funcionando, então a polícia veio me informar.", disse o pastor Orhan. "Eu acordei muito rápido, então eu não pensei em pedir para eles suas identificações policiais."

Apenas depois que os homens se apressaram em sair do conjunto residencial, dirigindo um micro-ônibus com janelas escurecidas, o pastor percebeu que tinha sido seqüestrado. Quando ele tentou perguntar onde eles o estavam levando, os homens começaram a amaldiçoá-lo e agredi-lo verbalmente. "Fique quieto, sua escória imunda!", disse um deles.

Finalmente, os homens o tiraram do micro-ônibus e o levaram a um apartamento no segundo andar de um prédio. Eles começaram a insultar o pastor, chamando-o de traidor da Turquia. "Você é um turco! Pare com isso. Os missionários estão enganando você e outros com dinheiro!"

Quando ele tentou explicar que não era verdade, eles o amaldiçoaram e o ameaçaram por aproximadamente 20 minutos, disse ele.

"Eles disseram que eu tinha falado contra Maomé no meu último sermão, e que eles mesmos tinham escutado isso", disse o pastor Orhan.

"Se, depois disso, você fizer propaganda cristã novamente, mataremos você", advertiram eles. Então, eles jogaram o pastor no porta-malas do micro-ônibus e o deixaram em uma rua, a quase dois quilômetros de sua casa. O pastor não pôde ver a placa do carro, nem pode identificar a qual distrito da cidade ele foi levado.

"Eu registrei uma queixa na polícia logo que amanheceu", disse o pastor Orhan, que não conseguia identificar seus seqüestradores ou dar crédito a qualquer prova do incidente.

Parentes perseguidos

Em maio do último ano, em Gaziantep, sudeste da Turquia, policiais à paisana visitaram e interrogaram os parentes do pastor Orhan sobre suas crenças religiosas.

"Eles estavam pressionando minha mãe, minha irmã e outros, perguntando se eles sabiam que eu havia me tornado um cristão e estava fazendo propaganda cristã", disse o pastor. Orhan é ex-muçulmano e se tornou cristão há 11 anos. Quando ele telefonou para um dos policiais, exigindo uma explicação legal para esta investigação, o funcionário pediu desculpas e prometeu não incomodar mais sua família.

Mas, em janeiro de 2006, a polícia aparentemente investigava todos os listados como fundadores da Associação da Igreja Ágape. Assim, ela também visitou o vilarejo da esposa do pastor Orhan, próximo à Gaziantep. Incapaz de localizar seus pais, que não vivem mais no vilarejo, a polícia rastreou o tio dela, informando-o que ela havia se tornado membro de uma organização armênia. Em um contexto ultranacionalista turca, um rótulo armênio implicaria em um grupo cristão étnico com objetivos políticos.

No início deste mês, a congregação protestante foi desencorajada. O padre Pierre Brunissen foi esfaqueado em um ataque. Pierre é francês, o padre da Igreja Mater Dolorosa em Samsun. O agressor reivindicou que o clérigo católico tentava persuadir a ele e a outros turcos muçulmanos a se converterem ao cristianismo. Isso se tornou manchete na mídia turca depois do assassinato de 2 de julho.

"O Senhor nos disse para estarmos prontos para todo este tipo de oposição, por isso prosseguiremos", disse o pastor Orhan.

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