Celebração religiosa desencadeia perseguição na Etiópia

Portas Abertas • 22 out 2006


A Igreja Ortodoxa Etíope (EOC, sigla em inglês) celebrou a véspera do  Meskel no dia 26 de setembro, quando eclodiu uma onda de violência entre muçulmanos e membros da EOC, no sudoeste da Etiópia.

Todo ano, no dia 27 de setembro, a EOC celebra o festival do Meskel (a descoberta da Verdadeira Cruz) e a véspera do Meskel, que é quando membros da EOC se reúnem em volta de uma fogueira enorme para cantar e comemorar o que eles acreditam que seja a descoberta da cruz em que Jesus Cristo foi crucificado.

A EOC acredita que os judeus enterraram a cruz em que Jesus Cristo foi crucificado e que ela permaneceu enterrada por muitos séculos. Acredita-se também que ela foi escavada após Helena de Constantinopla, mãe de Constantino o Grande, sonhar com seu paradeiro durante o século IV.

Líderes da igreja da cidade de Denbi afirmaram a um colaborador da Portas Abertas que os muçulmanos pretendiam parar essa celebração da véspera do Meskel, que acontece durante o jejum muçulmano do Ramadã. 

Segundo informações, muçulmanos reclamaram que a fumaça e o fogo da celebração perturbavam suas orações em uma mesquita próxima ao local, e pediram aos líderes da EOC que fossem comemorar em outro lugar. A recusa da EOC provocou uma onda de violência na noite de 26 de setembro, quando os dois lados começaram a atirar pedras uns contra os outros.

Durante o apedrejamento, um membro da EOC foi atingido na cabeça. Assim que ele caiu no chão, seu filho correu para sua casa e apareceu com uma arma. Ele mirou e atirou contra a multidão muçulmana, matando, supostamente, cinco muçulmanos e ferindo muitos outros. Após o tiroteio, ele se entregou à polícia.

Vingança

Desde 27 de setembro, muçulmanos têm se vingado tanto contra membros da EOC quanto contra cristãos evangélicos em toda cidade de Jima. Os cristãos evangélicos não estariam envolvidos na celebração da véspera do Meskel, nem no apedrejamento, mas muçulmanos os atacaram devido sua fé em Jesus Cristo.

O ataque, supostamente, resultou em cerca de cinco a oito decapitações de membros da EOC e de cristãos evangélicos. Mais de 300 cabanas foram queimadas, quatro igrejas da EOC e duas igrejas evangélicas foram destruídas, e seis igrejas foram confiscadas e transformadas em mesquitas. Além disso, membros da EOC e cristãos evangélicos foram forçados a negar sua fé em Jesus Cristo e exaltar a fé islâmica.

Um coordenador da Igreja Kale Hiwot de Jima disse estar entristecido pelos conhecidos que negaram sua fé: "Alguns deles eram meus pais espirituais, mas soube que eles foram forçados a negar sua fé em Jesus Cristo enquanto um facão era apontado contra seus pescoços. O que posso fazer? As estradas para as vilas estão fechadas. Não pude ir lá e incentivá-los a manterem firme sua fé. Por favor, orem para nos mantermos fiéis à nossa crença de que Jesus já pagou pelos nossos pecados".

A situação ainda está tensa. Forças de defesa local foram transferidas para Jima e foi decretado um toque de recolher. Pelo menos, 2.000 pessoas foram deslocadas do local. Relatos não-confirmados mencionam que aconteceram incidentes parecidos em outras vilas.

Mais violência

Jovens muçulmanos insultaram membros da EOC enquanto eles voltavam das celebrações da véspera do Meskel na cidade de Yebu, situada a 375 quilômetros da capital, Addis Ababa, e isso resultou em outra manifestação de violência.

"Todos os anos a EOC comemora a véspera da descoberta da Verdadeira Cruz e devotos voltam para casa cantando e dançando. Ninguém costumava reclamar disso", disse um evangélico da Igreja Misgana em Yebu.

"Jovens muçulmanos interromperam as pessoas que estavam comemorando naquela noite dirigindo carros e motocicletas, passando entre a multidão da EOC. Geralmente, quando membros da EOC estão fazendo uma passeata nas ruas em comemoração ao Meskel, a polícia pára o trânsito até o fim da programação do evento. Os membros da EOC foram provocados a responder ao comportamento dos muçulmanos e, imediatamente, a situação se transformou em apedrejamento de ambas as partes. A polícia tentou parar o conflito, mas a situação estava fora de controle".

No dia 27 de setembro, o coordenador da área da EOC em Yebu apelou às autoridades para que fosse apurado quem foram os responsáveis pelo ataque. O coordenador da EOC também relatou o incidente à diocese local e ao patriarca da instituição. A polícia prendeu alguns dos muçulmanos suspeitos na cidade de Yebu, fato que aborreceu mais ainda os muçulmanos.

Na sexta feira, dia 29 de setembro, após a oração do meio-dia, muçulmanos se reuniram na delegacia exigindo que os suspeitos fossem liberados. Quando a polícia se recusou a soltá-los, os muçulmanos jogaram pedras na polícia e ameaçaram libertar os prisioneiros à força. A polícia respondeu atirando contra a multidão hostil, matando três muçulmanos.

O evangélico da Igreja Misgana disse a um representante da Portas Abertas que os muçulmanos estão em um processo de reinvidincar a região para eles, em nome do islã, porque a violência contínua, que começou no dia 26 de setembro, já aconteceu antes em Jima.

Muçulmanos teriam distribuído folhetos recrutando para a Jihad e incentivando o ataque e a erradicação de cristãos em Jima.

Cerca de 80% da população de Jima é muçulmana e, acredita-se que cerca de 60% a 70 % da população em alguns distritos de Illubabor seja muçulmana.  A EOC fica em segundo lugar e o número de cristãos evangélicos parece ser cada vez mais crescente.

A Portas Abertas está envolvida em vários programas de treinamento, fornecendo materiais, Bíblias e bicicletas nessas áreas.

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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