Portas Abertas • 21 dez 2006
O presidente do Turcomenistão, Saparmurat Niyazov, morreu ontem (20), depois de 21 anos de um governo autoritário e repressivo que negou respeito a todos os direitos humanos. A causa oficial da morte do líder, que tinha 66 anos, foi "ataque cardíaco". No mês passado ele admitiu sofrer problemas no coração.
As notícias foram transmitidas pelo canal de televisão estatal que mostrou uma foto do presidente em moldura negra, enquanto o apresentador lia uma longa lista de suas realizações e méritos como chefe de estado.
Porém, aos olhos da comunidade internacional, Saparmurat Niyazov se destacou por ter instalado um dos mais repressivos regimes do mundo, com uma triste atuação no respeito à liberdade de imprensa e de religião e a outros direitos civis e políticos, além dá má reputação por corrupção.
Um país de maioria muçulmana sunita em uma população de 5,5 milhões de habitantes, fronteiriço ao Irã e ao Afeganistão, o Turcomenistão é rico em gás natural e é o segundo maior produtor entre os ex-estados da União Soviética.
Imagem reciclada
Niyazov ocupava a presidência desde 1990, quando o país proclamou sua independência da URSS. Como Putin, ele reciclou sua imagem. Nos anos 80, ele era o chefe de governo e o primeiro secretário do Partido Comunista Turcomano, além de ser membro do Comitê Central do Partido Comunista em Moscou.
Uma vez no poder, Niyazov revelou sua identidade muçulmana e construiu na vila de Kypchak, onde nasceu, a maior mesquita da Ásia Central. Ele também instalou um regime ditatorial definido por seu exasperante "culto pessoal". A propaganda pública o glorificava como um "profeta", seu livro "Ruhnama" (chamado de "santo") tornou-se parte obrigatória do currículo escolar. O presidente era lembrado e agradecido no "prefácio de todas as orações".
Ele chegou a trocar os nomes dos meses e dos dias da semana e decretou que seu reino fosse chamado de "a era de ouro". Ele se autodenominou de "turkmenbashi", isto é, pai e líder de todos os turcomanos.
Fontes de informação independentes e oposição política não existem no país, onde uma suposta tentativa de assassinato contra Niyazov em 2002 serviu como pretexto para livrar-se dos opositores remanescentes que tinham sobrevivido ao seu regime opressivo.
Corrupção e nepotismo
O Turcomenistão de Niyazov ficou tristemente conhecido pela corrupção e pelo nepotismo. Depois de se auto-proclamar presidente vitalício (em 1999), seu filho Murat alcançou acesso privilegiado ao comércio mundial e se tornou responsável pelo controle de toda exportação do gás natural do país.
Os rendimentos - segundo o que se diz em Ashghabat, a capital do país - são depositados em bancos internacionais no Chipre. Murat é suspeito de aceitar "suborno" de companhias estrangeiras interessadas na exploração e extração de gás. Todo o montante obtido com a venda de álcool e cigarros é gerenciado por Murat.
As agências internacionais de notícias em Ashghabat disseram que a cidade estava tranqüila, mas que operários estavam retirando a decoração de Ano Novo das ruas. O governo irá realizar uma reunião de emergência no final da tarde. Um comitê especial será montado para organizar o funeral do líder.
Analistas dizem que a morte de Niyazov deixou incerto o futuro do país, já que não há um sucessor designando. Entretanto muitos acreditam que Murat se tornará o novo presidente.
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