Portas Abertas • 18 jun 2007
Sob o titulo Os cristãos esquecidos, a revista semanal Época, da editora Globo, traz uma reportagem relatando a situação crítica dos cristãos no Iraque, uma das mais antigas comunidades religiosas do mundo e que estaria prestes a desaparecer.
Os cristãos do Iraque estão abandonados à própria sorte. Vivem no meio da guerra civil e não têm uma milícia armada lutando a seu lado. São alvo tanto dos sunitas quanto dos xiitas que disputam a hegemonia hoje, diz o texto.
Êxodo
Por serem vítimas de atentados, de uma indústria de seqüestros, de pressão violenta para que abandonem seus lares e da cobrança ilegal do tradicional imposto que os governantes muçulmanos arrecadavam de seus súditos não-muçulmanos, os cristãos estão indo embora.
Às vésperas da invasão liderada pelos Estados Unidos, em 2003, eles eram cerca de 2 milhões, o equivalente a pouco menos de 4% da população do Iraque.
Hoje, calcula-se que restaram cerca de 500 mil. Em alguns lugares do país, os cristãos desapareceram completamente, preferindo se concentrar em regiões mais seguras como o norte, de maioria curda.
A guerra é uma cruzada
A simples presença dos americanos no Iraque complicou a situação já delicada dos cristãos, segundo a reportagem.
Na mentalidade da maioria dos muçulmanos, um homem não pode não ter religião, disse o patriarca Emmanuel III.
Nas palavras do patriarca, para eles, Bush é cristão e, assim, sua guerra é uma cruzada. Portanto, os cristãos do Iraque são agentes de Bush. E o pior é que ele nem sabe da existência desses cristãos!
A nova Constituição do Iraque, aprovada depois da derrubada de Saddam, garante a igualdade a todas as comunidades religiosas do país. No entanto, na prática, o governo não tem condições de garantir nem a segurança de seus próprios integrantes.
Os cristãos do Iraque oram na mesma língua que Jesus falava. Sobrevivem há 2 mil anos sem nunca ter sido súditos de um rei ou de um império cristão.
Diante de seus compatriotas muçulmanos e falantes de árabe, alegam que são os verdadeiros iraquianos: afinal, vivem no país e falam a língua local desde antes de Maomé fundar o islã e espalhar a influência árabe pelo mundo.
Nas cidades curdas de Erbil, Dahuk, Sulaymanyia e Ahmadyia, estão se juntando os cristãos que abandonam o centro do país.
Nas cercanias de Mosul, também em território curdo, fica o centro tradicional do cristianismo iraquiano. Ali, há igrejas e mosteiros com mais de mil anos.
Em algumas aldeias, a língua falada nas ruas é o sureth, um dialeto do aramaico, a língua falada por Jesus, ainda usada na liturgia.
Os cristãos iraquianos se dividem em várias confissões. Caldeus, sírios católicos e sírios ortodoxos, armênios católicos e ortodoxos, assírios do Oriente e greco-melquitas.
Fuga em massa
Com o bloqueio econômico que se seguiu à guerra e o conseqüente empobrecimento do Iraque, os cristãos passaram a emigrar em busca de oportunidades melhores nos EUA, na Europa e na Austrália.
Por enquanto, eles estão concentrados na Síria e, em menor número, na Jordânia, no Egito e no Líbano.
Pelos cálculos da ONU, que presta seus serviços de apoio aos refugiados iraquianos na Síria, eles já são 1 milhão.
O governo sírio acha que são mais que isso. E já pensa em medidas para diminuir o fluxo.
Vandalismo em igrejas históricas
As igrejas do Iraque têm sido alvos de atentados. Os radicais muçulmanos exigem que as cruzes sejam retiradas do topo e da fachada delas.
Alguns santuários foram destruídos. Padres foram seqüestrados e mortos. Centenas de leigos, obrigados a pagar resgate.
O Iraque corre o risco de ser dividido. Entre curdos e árabes. Entre xiitas e sunitas.
A reportagem termina com uma observação: Qualquer que seja o futuro do país, não parece haver mais lugar para os cristãos que lá viveram por dois mil anos.
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