Portas Abertas • 20 ago 2007
Um ano após ter lavado os pés de sua vítima como sinal de arrependimento, o ex-ministro do Interior da África do Sul, Adriaan Vlok, foi condenado na última sexta-feira (17) a dez anos de prisão por tentativa de homicídio do pastor Frank Chikane.
Vlok, de 69 anos, só será obrigado a cumprir pena na prisão caso cometa algum crime nos próximos cinco anos, já que a condenação ficou em suspenso durante este período graças a um acordo obtido entre a Promotoria e a defesa nas últimas horas para pôr fim a um dos julgamentos mais emblemáticos da África do Sul.
O ex-ministro compareceu ao Tribunal Superior de Pretória junto do ex-chefe policial Johan van der Merwe e outras três pessoas que trabalharam para a Polícia durante o regime do "apartheid" (1948-1989).
Todos eram acusados de tentar assassinar, em abril do 1989, o pastor protestante negro Frank Chikane, que estava à frente do Conselho Sul-Africano das Igrejas e agora é diretor-geral da Presidência.
Veneno
Os acusados, de acordo com a Promotoria, tentaram assassinar Frank Chikane impregnando veneno em suas roupas íntimas quando se preparava para viajar ao exterior. Nenhum deles recebeu a anistia concedida pela Comissão de Verdade e Reconciliação, que funcionou até 1999.
Adriaan Vlok e Van der Merwe foram condenados a dez anos de prisão, suspensa por cinco anos, e os outros três acusados receberam pena de cinco anos de prisão, com suspensão condicional.
Em agosto de 2006, o pastor recebeu Adriaan em seu escritório. O ex-ministro do Interior trazia duas toalhas e uma bacia e pretendia lavar os pés de Chikane em sinal de arrependimento.
O religioso ficou dois meses cogitando se receberia o ex-ministro ou não, mas, no final, aceitou, convencido de que estava lhe dando a oportunidade de se libertar "dos atos horríveis do passado", afirmou na época.
A maior parte dos crimes foi cometida na África do Sul durante os anos do "apartheid" (1948-1989), tanto pelo regime como pelos grupos armados que o combatiam, e foram anistiados após terminarem os trabalhos da Comissão de Verdade e Reconciliação.
Defesa e anistia
As pessoas que se declararam culpadas de assassinato, tortura e desaparecimentos compareceram perante esta instituição e receberam anistia. No entanto, os acusados julgados não se apresentaram na comissão, e, por isso, foram processados.
A audiência judicial realizada em Pretória, que foi falada em Afrikaans, idioma dos antigos imigrantes holandeses que chegaram à África do Sul no século XVII.
A discussão colocou em lados opostos os que querem sentenças mais rígidas e os que, assim como Adriaan Vlok e os demais que passaram pela Justiça, acreditam que deve ser feito o mesmo com os responsáveis dos grupos armados que lutaram contra o "apartheid".
Desde 1994, a África do Sul é dirigida pelo Congresso Nacional Africano (ANC), o partido de Nelson Mandela e do atual governante, Thabo Mbeki, e que teve um braço armado responsável por ataques e atos terroristas.
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