Portas Abertas • 6 out 2007
Algumas ONGs foram acusadas de proselitismo cristão, desperdício e de atender às demandas dos Estados Unidos. "O povo paquistanês desaprova as organizações não-governamentais", disse Sannaullah, que trabalha em uma delas na localidade de Swat. "Esta atitude está guiada pelo ódio contra os Estados Unidos", acrescentou.
Moradores do povoado de Allai, no distrito de Mansehra, em junho obrigaram a ONG da localidade a paralisar suas atividades argumentando que seus integrantes realizavam conversões forçadas ao cristianismo.
O proselitismo religioso é um crime sério no Paquistão, país de maioria muçulmana, e os acusados podem ser condenados à prisão perpétua.
Uma multidão de mais de mil pessoas incendiou em julho passado um veículo da organização Relief International em Mansehra, distrito devastado por um terremoto em outubro de 2005. O fizeram porque, segundo afirmaram, seus membros não ajudaram as vítimas.
No dia 8 de abril também incendiaram o escritório do Programa Nacional de Apoio Rural, e, ainda, duas motocicletas estacionadas nas proximidades.
"Nenhuma das organizações cumpriu em nossa área suas promessas de reconstruir obras de infra-estrutura destruídas pelo terremoto, como escolas e centros de saúde", disse Roman Ali, um dos manifestantes em Mansehra.
Jihad contra ONGs
O mufti Khalid Shah, um até então desconhecido graduado universitário em educação islâmica e ciências políticas, ditou no dia 22 de dezembro passado uma fatwa (decreto religioso) convocando a jihad (guerra santa) contra as ONGs.
Sua exortação, que incluía propostas de ataques contra organizações de direitos humanos e agências da ONU, se espalhou no povoado de Darra Adamkhel, a 35 quilômetros ao sul de Peshawar, capital da província.
Khalid Shah em sua fatwa pediu urgência em atacar trabalhadores, escritórios e veículos de organizações não-governamentais que promoveram "a agenda dos judeus e cristãos".
Residentes de Darra Adamkhel disseram não saber muito sobre Shah, mas afirmaram que algumas cópias da fatwa foram distribuídas em mesquitas e mercados do povoado.
A localidade, então, se converteu em um campo de batalha. Na semana passada, organizações afinadas com o Talibã (movimento islâmico que governou o Afeganistão entre 1996 e 2001) se lançaram a "limpá-la de elementos anti-sociais".
Em 18 de julho, uma falsa bomba foi colocada do lado de fora de uma clínica que presta serviços de planejamento familiar. Uma nota manuscrita em mal urdu advertia o pessoal do centro médico a fechar "seus negócios não islâmicos".
Esta "é sua última advertência. Agora colocamos a imitação de uma bomba fora da clínica. Da próxima vez será uma bomba real, capaz de destruir um prédio inteiro. Ponham fim ao seu programa em uma semana", dizia a nota.
"Um dia antes, recebemos um telefonema anônimo de alguém nos chamando de títeres dos Estados Unidos e exigindo que parássemos nossas atividades", disse à IPS Nayyar Syed, empregado da clínica.
As ameaças levaram ao fechamento de três clinicas da ONG Sociedade Marie Stopes que prestavam serviços de saúde reprodutiva a refugiadas afegãs em Peshawar, informou Tariq Khan, da Comissão independente de Direitos Humanos do Paquistão.
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