Portas Abertas • 9 dez 2003
Terroristas acusados são libertados mediante fiançaApós nove meses na cadeia, dois acusados do ataque mortal na noite de Natal do ano passado contra a igreja de um vilarejo paquistanês, foram libertados sob fiança por ordem da Alta Corte de Lahore pelo período de duração do julgamento deles.
Por ordem da Alta Corte de Lahore, o clérigo muçulmano Mohammed Afzal e um jovem identificado pelo primeiro nome, Dildar, foram libertados no dia 2 de outubro. Sabe-se que foi exigido o pagamento de 100.000 rupias (1.667 dólares) de cada um deles como fiança.
Livres da prisão, os dois homens foram diretamente para Chianwali, um vilarejo remoto perto de Daska, cerca de 64 quilômetros distante de Lahore. Lá, em uma pequena capela Presbiteriana, três moças foram mortas e outros 13 cristãos ficaram feridos num ataque a granadas contra um programa de Natal de crianças em 25 de dezembro último.
Assim que os dois suspeitos soltos chegaram a Chianwali, os correligionários do clérigo muçulmano local comemoraram dando tiros para o ar e distribuindo doces pela comunidade.
Eles gritaram slogans, dizendo que iriam dar uma lição nos cristãos, relatou uma fonte da igreja.
Desde então, várias dentre as 20 famílias cristãs do vilarejo vem sendo pressionadas cada vez mais para chegarem a um acordo e retirarem a queixa contra os réus muçulmanos.
Eles estão recebendo ameaças verbais, até de algumas pessoas respeitáveis do vilarejo, disse um dos advogados que representa Aslam Pervaiz Masih, 40, o reclamante que fez as acusações legais contra Afzal e dois outros homens.
Eles estão dizendo aos cristãos: Vocês têm de chegar a um acordo, depois do que aconteceu, ou irão enfrentar as conseqüências , disse o advogado. Eles dizem que os cristãos não conseguirão viver mais na mesma sociedade, no mesmo vilarejo, a menos que concordem.
O próprio Masih perdeu um olho no ataque, e seu irmão mais novo ficou cego de ambos os olhos.
Dildar e um terceiro suspeito chamado Rashid, que ainda tem de comparecer perante o tribunal, são acusados de terem praticado o ataque em Chianwali. A polícia local alega que Rashid conseguiu escapar da detenção, apesar de fontes da igreja acreditarem que as autoridades o estão mantendo protegido sob custódia.
Afzal, descrito como um homem baixo e atarracado de cerca de 60 anos, foi acusado de instigar a violência pelo ódio contra os cristãos em seus sermões na mesquita em Daska. O clérigo barbudo dirigia uma escola islâmica próxima à pequena capela que foi atacada, e era um adepto declarado do grupo militante Jaish-e-Mohammed (Exército de Maomé), proibido no Paquistão.
Ironicamente, o processo está sendo julgado em Gujranwala pelas Cortes Anti Terroristas, supostamente organizados para realizarem julgamentos rápidos contra suspeitos envolvidos em atos de terrorismo. Apesar dos julgamentos terem começado na última primavera, bem pouco progresso foi feito até agora, disse à Portas Abertas em Lahore o advogado do CALC.
Os dois advogados de defesa, um dos quais é juiz aposentado da Corte Anti Terrorista de Gujranwala, têm usado uma variedade de táticas de procrastinação das audiências, disseram os advogados do CALC. Com freqüência, um ou os dois não comparecem à audiência programada, fazendo com que o juiz adie a sessão por mais várias semanas.
Várias vezes a defesa adiou os procedimentos solicitando liberdade sob fiança a seus clientes, apesar disso ter sido recusado cada uma das vezes pelo juiz especial Mirza Fari ul-Din.
O juiz Mirza Rafi está fazendo tudo corretamente, comentou um advogado do CALC, mas ele está um tanto pressionado por causa daquele advogado que era juiz no mesmo tribunal.
Com várias testemunhas ainda por depor perante a corte, seguido de procedimentos de verificação, espera-se que o julgamento leve outros dois meses ou mais, disse um advogado.
Na última audiência no dia 3 de dezembro, um dos médicos que atendeu, registrou os certificados médicos que havia emitido sobre 10 dos feridos. Mas ele será ouvido na próxima semana, no dia 10, disse o advogado, e não estamos esperando muito então, porque um dos advogados de defesa diz que não vai poder comparecer naquele dia.
Enquanto isso, os advogados do CALC estão preparando declarações juramentadas dos moradores cristãos de Chianwali que têm sido ameaçados diretamente nos dois últimos meses pelo clérigo solto, para poder entrar com uma petição perante a Alta Corte de Lahore para cancelar sua liberdade sob fiança.
Temos prova de que esse maulvi (clérigo) tem usado de forma errada sua liberdade sob fiança concedida pelo tribunal, declarou um advogado do CALC. Por isso estamos entrado com uma petição para que essa fiança seja cancelada nos próximos dias.
Enquanto isso, o presidente Pervez Musharraf reiterou nesta semana que o seu governo estava comprometido em por um fim no extremismo religioso no Paquistão. Em um discurso em 3 de dezembro, Musharraf afirmou que a maior parte dos paquistaneses era de muçulmanos moderados. Portanto, não se pode permitir que um punhado de extremistas dissemine sua visão do islamismo na sociedade, declarou o presidente.
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