‘O Coração deles não mudou’

Portas Abertas • 7 jan 2004


Em outubro de 2003, Portas Abertas reuniu-se com um pequeno grupo de líderes da igreja doméstica do Laos e perguntou como a advocacia internacional tem afetado a liberdade religiosa em sua nação. Os nomes da entrevista a seguir são omitidos, mas as respostas fornecem um intrigante rápido olhar para a situação atual da liberdade religiosa no Laos.

Portas Abertas: Ouvimos falar de muitos relatos de maus tratos a cristãos no Laos. Quais áreas sãos as mais restringidas?

Pastores do Laos: Os cristãos da cidade podem enfrentar alguma intimidação - supõem-se que eles adorem na igreja oficial - mas à parte disto, as coisas não são tão difíceis nas cidades. O problema começa na zona rural. Nas cidades pequenas ou vilarejos, todos conhecem uns aos outros. É impossível que uma pessoa esconda suas atividades.

Portas Abertas: É possível ou aconselhável aos cristãos estrangeiros visitar áreas rurais no Laos?

Pastores do Laos: Depende do chefe do vilarejo. Se ele não for simpático, então os moradores cristãos não podem fazer nada. Se o governador for negativo nessa atitude, ele não aceitará qualquer ajuda de estrangeiros, mesmo sob a forma de cuidados médicos ou sociais.

Portas Abertas: Como podemos ajudar os cristãos a quem são negados alimento e água, ou expulsos de seus vilarejos?

Pastores do Laos: A única forma de fazer isso é canalizar fundos através da igreja local. Por exemplo, no caso dos cristãos brus que foram expulsos de seus vilarejos, a igreja local esteve por trás deles para dar o máximo de apoio possível. Mas nós demos alimento e roupas em pequenas quantidades, para que o governo não percebesse que era muito. Quando eles reconstruíram suas casas, nós demos a eles apenas o suficiente para comprar sapé para a cobertura do teto. Demos apenas um pouco de arroz de cada vez.

Portas Abertas: E quanto aos prisioneiros? É possível visitá-los?

Pastores do Laos: Houve recentemente dois prisioneiros em Udom Xhai acusados injustamente. As famílias deles conseguiram visitá-los e apelaram ao governo, mas não teria sido bom ter visitantes estrangeiros. É também muito difícil aos estrangeiros conseguir permissão para visitá-los.

A situação está mudando no Laos. O governo sabe que tudo é informado ao exterior, por isso as detenções estão diminuindo e as pessoas ficam detidas por um curto período. Mas na realidade, o cristianismo não é permitido no Laos. O coração e a mente do governo não mudaram.

Portas Abertas: Vários grupos internacionais têm pressionado o governo do Laos a suspender as restrições religiosas. Isso tem ajudado a situação?

Pastores do Laos: Foi útil recentemente em Attapoeu, onde o governo devolveu o templo de uma igreja que havia sido confiscado no início deste ano. O governo fez algumas mudanças em sua abordagem devido à pressão de fora, mas o coração deles ainda não mudou.

A intervenção deve ocorrer do governo central para os níveis inferiores de governo e isso nem sempre acontece. Às vezes o governo diz sim e concorda em fazer mudanças, mas eles não fazem nada. Por isso dizemos que o parafuso deve ser apertado. No passado quando vinham os defensores dos direitos humanos, o governo congelava por uns tempos e depois renovava a perseguição quando a pressão era suspensa. Por isso os defensores precisam fazer pressão sistemática, sem desviar a atenção.

Portas Abertas: Mas a advocacia estrangeira alimenta a crença de que o cristianismo é uma religião estrangeira e que a igreja é um instrumento do Ocidente?

Pastores do Laos: É pior se vocês não estiverem envolvidos. Há duas coisas que vocês podem fazer para nos ajudar.
Primeiro, mandem informação às igrejas ao redor do mundo para que orem por nós. Orem pelos cristãos e pelo governo para que aceite e facilite a igreja.

Segundo, assim que vocês receberem notícias a respeito da perseguição, intervenham imediatamente. A pressão ajuda a situação mesmo havendo a ponderação negativa da ligação com os estrangeiros. Não é possível afrouxar o envolvimento de vocês, porque o governo ficará novamente mais impertinente. Eles ainda vêem a igreja como instrumento dos estrangeiros quando, de fato, isto não é verdade. Todos os missionários estrangeiros saíram do Laos em 1975, mas a igreja continuou a crescer.

Portas Abertas: Como vocês, na qualidade de cristãos laocianos, constróem elos de compreensão com os não-cristãos de sua comunidade?

Pastores do Laos: Os relacionamentos são muito importantes para nós. Nas áreas tribais, os cristãos novos são imediatamente vistos como diferentes pelas autoridades, porque eles não participam nas cerimônias espirituais de costume do vilarejo. Isso chama a atenção e mais perseguição.

Alguns cristãos separam-se completamente do restante do vilarejo, mas isso não é bom. É diferente com os budistas que se convertem ao cristianismo. Mesmo antes de se tornarem cristãos, eles não freqüentam as cerimônias espíritas, por isso as pessoas não notam a mudança em suas vidas imediatamente.

Nós tentamos encontrar um terreno comum que nos permita fazer parte da comunidade sem comprometer a nossa fé. Por exemplo, em uma cerimônia de casamento, nós limpamos a casa, servimos comida e abençoamos o casal com um presente de amor. Mas evitamos as partes religiosas da cerimônia. Outros vizinhos vêm desfrutar da comida e da cerimônia, mas nós damos mais um passo e mostramos o nosso amor por eles.

Em alguns lugares, os cristãos são aceitos e deixados que pratiquem sua fé em paz. Em outros lugares, eles têm de sair do vilarejo.

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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