Portas Abertas • 19 jan 2004
Líderes da comunidade cristã do Estado de Jigawa, norte da Nigéria, informam que extremistas muçulmanos incendiaram dez igrejas e mais de cem propriedades em novembro durante ataques sem motivo contra os cristãos da cidade de Kazaure.
O Rev. Umaru Dutse, presidente do capítulo do Estado de Jigawa da Associação Cristã da Nigéria (ACN), disse a Portas Abertas que morreu também um número não determinado de cristãos nos ataques.
De acordo com Dutse, os fanáticos muçulmanos justificaram os ataques alegando que um cristão de Kazaure havia blasfemado contra o profeta do islamismo, Maomé. Mas o presidente da ACN acredita que a acusação foi um mero pretexto.
O ataque (é parte) de uma perseguição premeditada e contínua à comunidade cristã daqui, disse Dutse. Enfrentamos estes ataques há anos, e a situação está se tornando mais difícil para nós praticarmos nossa fé cristã.
Muitos cristãos locais daqui foram forçados a se mudar para outras partes da Nigéria com medo de serem mortos, acrescentou ele.
De acordo com Dutse, o governo do Estado de Gigawa nomeou uma comissão muçulmana após a crise para investigar suas causas, mas ele duvida de sua eficácia.
O governo está tentando ser danoso, disse ele. Como eles podem nomear uma comissão formada somente por muçulmanos e dizer-nos para esperar por justiça?
Dutse acredita que a polícia conspirou com os extremistas nos ataques contra os cristãos. De acordo com ele, os oficiais de polícia foram totalmente informados sobre os planos dos muçulmanos, mas não fez nada para detê-los.
Ao contrário, o governo do Estado de Plateau, centro da Nigéria, ordenou no mês passado que uma equipe do exército, força aérea e da polícia fizesse uma batida preventiva contra os militantes muçulmanos para impedir ataques aos cristãos durante os feriados de Natal. Depois o governo baniu um grupo islâmico que se acreditava estar financiando incessante agressão contra os cristãos há dois anos.
Em um programa de rádio e televisão em 31 de dezembro de 2003, o governador do Estado de Plateau, Joshua Dariye, acusou o Conselho de Ulemás (clérigos muçulmanos) de realizar atividades inimigas à coexistência pacífica de muçulmanos e cristãos no Estado.
Dariye disse que o seu governo tem a responsabilidade de proteger vidas e propriedades de todos os cidadãos e não renegaria seu dever ao permitir que líderes muçulmanos fundamentalistas dessem apoio tácito ao terrorismo religioso.
O governo não permitirá mais que uns poucos elementos desviados interrompam a paz agora existente no país, disse o governador. O serviço de segurança foi direcionado a tomar todas as medidas necessárias para garantir que os desordeiros sejam presos e tratados com todo o rigor da lei.
Logo depois que as forças de segurança atacaram uma fortaleza de militantes muçulmanos para frustrar um ataque no Natal, o Conselho de Ulemás deu uma entrevista à imprensa e queixou-se que o governo não o consultou antes de dar a batida que resultou na morte de quatro muçulmanos e na prisão de outros 150. Os membros do conselho disseram que a ação do governo teve um mau efeito sobre o islamismo e foi uma injustiça aos muçulmanos do país.
O comissário de informação do Estado de Plateau, Alhaji Dauda Lamba, ele mesmo um muçulmano, não concorda. Em uma entrevista dada a Portas Abertas, Lamba defendeu a ação do governo contra os militantes e disse que o grupo islâmico tinha o potencial de ameaçar a paz inter-religiosa e a harmonia no Estado.
Enquanto isso, a Comissão Nacional para Refugiados da Nigéria anunciou que os últimos quatro anos de conflito muçulmano-cristão desalojou mais de 800 mil cristãos de suas casas e vilarejos de origem.
O professor Igna Gabriel mostrou a estatística enquanto falava a Portas Abertas no dia 6 de janeiro em Abuja, a capital federal. De acordo com o comissário de refugiados, este número não inclui vários milhares de refugiados não-cristãos desalojados pelo endêmico conflito religioso.
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