Portas Abertas • 16 fev 2004
O Forum18 NewsService descobriu em uma visita feita no fim do mês de janeiro que Mesquitas na região sul do Cazaquistão conseguiram com êxito repelir a pressão do Estado em se submeter à jurisdição da Administração Espiritual dos Muçulmanos no país. Muitos imãs (clérigos) de etnia uzbeque protestam com o que eles classificam como Casaficação da comunidade local muçulmana, que tem sido tradicionalmente dominada pela minoria local uzbeque. Das 514 mesquitas registradas na região, 110 são registradas como sendo independentes não se submetendo portanto à autoridade da Administração Espiritual, disse ao Forum18 a chefe do departamento para a obra com organizações públicas da administração regional do sul do Cazaquistão, Marzhan Khalimbetova, no dia 22 de janeiro na capital regional de Shymkent.
Nós tentamos persuadir os imãs dessas mesquistas para fazer parte da estrutura da Administração Espiritual, relatou ela, mas na verdade nós estamos sem poder para fazer qualquer coisa já que pela lei as mesquitas têm o direito de registrar como organizações independentes. Khalimbetova admitiu que a maioria dessas mesquitas se localizavam nos vilarejos de etnia uzbeque.
As tentativas pelas autoridades de persuadir os imãs de mesquitas não registradas para se submeter às autoridades da Administração Espiritual claramente reflete o impacto de desenvolvimentos legislativos em 2002. Naquele ano, o parlamento tentou mudar a lei nas associações religiosas com a meta de nitidamente restringir os direitos dos fiéis. De acordo com a nova lei adotada pelo parlamento, o registro de associações islâmicas poderia acontecer somente com a recomendação da Administração Espiritual dos Muçulmanos. Entretanto, sob a pressão das organizações de direitos humanos tanto locais como internacionais, o Conselho Constitucional deu um parecer no dia 4 de abril de 2002 que a nova lei contradizia a constituição.
Hoje em dia, Khalimbetova relatou, somente um percentual negligente de mesquitas na região ainda não se registraram. Em 1992 no Cazaquistão foi anunciado que as organizações públicas poderiam se registrar sem nenhuma taxa, sendo que levamos vantagem disso e persuadimos a maioria das associações religiosas para obter o registro. Ela disse que essas mesquitas não registradas hoje em dia tendem a ficar em vilas remotas. A principal razão para a recusa pelas mesquitas para registrar é financeiro, disse ela ao Forum18. A taxa de registro é de .000,00 (cerca de USD 122,00) o que é um pouco caro para residentes nas vilas remotas.
Khalimbetova acredita que o registro de associações religiosas é requerida pela lei, e portanto as autoridades estão tentando persuadir os imãs para registrar suas mesquitas. Ao mesmo tempo, ela insistiu que as autoridades não estão tomando nenhuma medida repressiva contra os imãs de mesquitas registradas.
Vladimir Zharinov, o chefe especialista do departamento de trabalho, com as organizações públicas da administração regional do sul do país, confirmou a exigência de Khalimbetova. Um pouco antes o parlamento adotou a nova lei na religião, é verdade que a pressão foi posta nos imãs das mesquitas não registradas, disse ele ao Forum18 de Shymkent no dia 5 de fevereiro, mas uma vez a nova lei for rejeitada pelo Conselho Constitucional ninguém colocará as mãos nos fiéis.
A região sul do Cazaquistão, que faz fronteira com o Uzbequistão, é uma região distinta do Cazaquistão. Falando em particular ao Forum18, os oficiais do Cazaquistão têm freqüentemente enfatizado que essa região é a principal força do islamismo fundamentalista no país, e que as autoridades deveriam ter um ponto de vista compreensível. A região é o lar de uma densa população de cerca de 300.000 de etnia uzbeque. Cazaquis, que eram nômades até não muito tempo atrás, não são geralmente relacionados como fiéis fervorosos. O islã é praticado entre os cazaquis de uma forma superficial, no dia a dia o islamismo é entrelaçado com os rituais pagãos. A etnia do uzbequistão em sua maioria é muçulmana.
Em um papel entitulado o fator religião na vida política do Cazaquistão, apresentado em 2002 em uma mesa redonda da Instituição Eurasiana Internacional de Pesquisa Política e Econômica, os pesquisadores Vitali Ponomarev e Saltanat Jukeyeva observaram que em 1989 a maioria dos cazaquis imãs de mesquitas eram de outras nacionalidades.
Como Ponomarev e Jukeyea notam, até a formação em 1990 da independente Administração Espiritual dos Muçulmanos, por quase 40 anos - desde a era Stalin - as comunidade islâmicas no Cazaquistão estiveram sob jurisdição da Administração Espiritual e do Cazaquistão que tinha sua matriz na capital do Uzbequistão.
Depois da Administração Espiritual independente no Cazaquistão, começou a desocupação deliberada dos uzbeques de suas posições como imãs nas mesquitas. Como Ponomarev e Jukeyeva relatram, no final de 1992, Shukurolla Mukhamejanov de etnia uzbeque foi expulso de seu emprego como chefe imam da região de Shymkent, e em maio de 1994 ele foi ordenado a se aposentar. Muitos fiéis, especialmente de etnia uzbeque que eram maioria na região, estavam insatisfeitos com as atitudes da Administração Espiritual. Muitos desses fiéis fizeram piquetes na principal mesquita de Shymkent por um mês, recusando a ter acesso aos líderes da Administração Espiritual. Depois da intervenção pela polícia, muitos fiéis desistiram de ir à essa mesquita.
Durante a sua visita em janeiro à região sul do Cazaquistão, o Forum18 estabeleceu que praticamente todos os imãs da mesquita na região atualmente são de etnia local. Por exemplo, os imãs tanto da principal mesquita da cidade de Shymkent como da região são originalmente do Cazaquistão. Os únicos imãs de etnia uzbeque remanescentes se encontram em locais em que quase todos os residentes são originalmente do Uzbequistão. Naturalmente, isso não agrada os residentes locais. Muitos do Uzbequistão em Shymkent que preferiram não serem identificados reclamaram com o Forum18 que eles tiveram que ir para vilarejos do Uzbequistão para as orações de sexta feira pois na opinião deles os uzbeques possuem uma educação teológica muito mais profunda dos que os cazaquis. Essa casaquificação das mesquitas tem levado à uma recusa de muitos imãs de mesquitas de etnia do Uzbequistão a ficarem sujeitos à Administração Espiritual do Cazaquistão.
Essa indisposição da parte dos imãs de etinia uzbeque de se sujeitarem à Administração Espiritual é praticamente o único exemplo de resistência pelos muçulmanos dessa mesma etnia ao governo do Cazaquistão. Enquanto que a organização internacional islâmica Hizb-ut-Tahrir, que convoca muçulmanos no mundo todo para se unirem sob um único califá, relativamente ativo na região do sul do Cazaquistão, os de etnia uzbeque perecem têr pouco papel importante nisso.
A ação de maior importância dos membros da Hizb-ur-Tahrir em Shykment ultimamente aconteceu em novembro de 2003, quando doze pessoas participaram de uma reunião em apoio aos muçulmanos prisioneiros no Uzbequistão.
O problema é que o Cazaquistão é a única república da Ásia Central onde a Hizb-ut-Tahrir não é oficialmente proibida, disse ao Forum18 um oficial do Serviço de Segurança Nacional (ex KGB) que preferiu não ser identificado. Isso dificulta o nosso combate contra essa organização. Nós prendemos as pessoas que distribuem panfletos da Hizb-ut-Tahrir, mas depois de interrogá-los temos que liberá-los. O oficial ainda acrescentou que quase todos os membros dessa organização na região sul do país são de etnia casaqui.
Isso contrasta com a situação do Quirquijistão, aonde quase todos membros da Hizb são de etnia uzbeque. O fato é que praticamente todos os membros da Hizb nesse país serem de etnia uzbeque pode ser explicado pelo nível mais alto da atividade religiosa entre os uzbeques se comparado com a população do Quirquijistão.
Seguindo essa lógica, pode-se prever que a maioria dos cazaquis que fazem parte da Hizb-ut-Tahrir seriam de etnia uzbeque. Os uzbeques no Cazaquistão possuem uma vida bem melhor do que na terra natal deles, disse ao Forum18 Igor Savin, diretor da ong local Dialogue no dia 24 de janeiro. Portanto, nossos uzbeques não estão interessados em buscar um confronto direto com as autoridades.
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