Portas Abertas • 20 fev 2004
Mas duvidam que as recentes concessões sinalizem uma mudança fundamental em direção à verdadeira liberdade religiosa. Nos últimos meses, os protestantes do Vietnã viram uma intensa atividade na batalha pelos direitos religiosos envolvendo as igrejas domésticas do país, a rede mundial de cristãos evangélicos, diplomatas ocidentais, organizações de direitos humanos e jornalistas.
Os ativistas podem apontar vários exemplos de concessão do governo. Uns poucos observadores vêem soprar ventos de mudança, mas a maioria permanece céptica. Quatro incidentes parecem ter tido um final positivo.
Desculpas pelo maltrato
Numa petição de setembro de 2003 às autoridades centrais da Cidade de Ho Chi Minh, o líder da igreja doméstica Batista, Huynh Tan Tai, da província de Binh Duong, documentou uma série de maus tratos que havia sofrido. No mês passado, antes do Ano Novo Lunar (Tet), as autoridades locais pediram-lhe desculpas e devolveram Bíblias e outros materiais que haviam confiscado. Entretanto, eles não estavam preparados para documentar o pedido de desculpas por escrito, como solicitado pela igreja doméstica.
Comenta-se que a província de Binh Duong esteja cortejando vigorosamente investimentos estrangeiros.
Documentos de residência
Em outubro de 2003, ativistas dos direitos humanos publicaram a saga de seis anos de perseguição do líder cristão da minoria Hre, Dinh Van Hoang e sua família na província de Quang Ngai, no Vietnã central. A história continha a cópia do original do pedido de Hoang para os documentos oficiais de residência. As autoridades locais devolveram o pedido, assinado e carimbado, e contendo uma mensagem que eles somente levariam em consideração o seu pedido se ele abandonasse a religião cristã. Um oficial americano mostrou a autoridades vietnamitas graduadas o documento e a história que o acompanha, durante uma visita em outubro de 2003.
Dentro de um mês, as autoridades provinciais chamaram Hoang e sugeriram que ele poderia ter se queixado a eles pelas dificuldades tidas com os administradores locais. (Hoang havia se queixado, porém sem sucesso). Eles também lhe perguntaram como ele conseguira dar os documentos para estrangeiros.
Conforme informações, as autoridades locais envolvidos na emissão da recusa de residência foram transferidos. Os líderes cristãos locais acreditam que isso não tenha acontecido por eles terem violado os direitos de Hoang, mas porque foram ingênuos demais a ponto de registrar no documento que retratar-se da religião era um pré-requisito para aquisição de residência legal.
Relatos indicam que as novas autoridades locais sejam mais brandas. Hoang retomou as reuniões com uma pequena congregação em sua casa simples, mas ainda não recebeu seus documentos de residência oficial.
Jovens soltos
Na cidade de Ho Chi Minh, cerca de 20 jovens foram detidos por volta do dia 9 de dezembro por distribuírem literatura cristã durante os Jogos do Sudeste Asiático. O ativista, pastor Nguyen Hong Quang, reagiu liderando cerca de 30 cristãos num protesto barulhento e uma vigília de oração na delegacia de polícia.
A polícia apelou aos líderes da Associação Evangélica do Vietnã para ajudar a terminar com o impasse. Em troca da interrupção dos protestos, os líderes da igreja doméstica da Associação garantiram a libertação de todos os detidos e a devolução de todos os seus pertences pessoais, junto com um pedido de desculpas da polícia.
Surpreendentemente, a polícia também agradeceu sinceramente pela intervenção dos líderes da igreja. Com os Jogos do Sudeste Asiáticos em andamento e repórteres estrangeiros, alertas e bisbilhotando por ali, as autoridades ficaram sem saber como resolver a crise.
Até o momento, as pessoas envolvidas na distribuição de literatura e os que participaram do protesto não sofreram represálias.
Pastor espancado
Em janeiro, Portas Abertas publicou vários relatórios sobre o julgamento do Rev. Bui Van Ba. A polícia invadiu uma reunião de oração na casa de Ba, na cidade de Ho Chi Minh em agosto último e espancou o Rev. Ba por tentar conseguir tratamento médico para a esposa, que havia desmaiado durante uma discussão. As autoridades levaram Ba a uma delegacia de polícia local, amarraram-no e o detiveram numa cela sem comida, água e roupa durante 36 horas antes de liberá-lo para prisão domiciliar.
Para surpresa de Ba, ele foi acusado em dezembro último de resistir a um oficial no exercício de sua função e foi levado a julgamento por crime no dia 13 de janeiro.
Seus colegas de igreja doméstica protestaram energicamente junto às autoridades locais, pedindo também ajuda internacional. Jornalistas e diplomatas manifestaram grande interesse. Só 48 horas antes de começar o julgamento programado, o Rev. Ba recebeu o aviso de adiamento. No momento, os lideres da igreja doméstica estão pedindo que as acusações contra Ba sejam retiradas e, ao invés, a polícia seja acusada.
O fato das autoridades terem aparentemente recuado de maltratar os cristãos é um fenômeno novo. Fontes do país acreditam que as ações delas sejam motivadas pela grande preocupação do Vietnã com sua imagem internacional. Outra razão pode ser que a recém descoberta da união e decisão entre as igrejas domésticas divididas do Vietnã, com a rápida reação da comunidade cristã ao redor do mundo, tenha pego as autoridades vietnamitas desprevenidas.
Os líderes da Igreja demonstram crescente confiança em sua luta pela liberdade. Entretanto, nenhum dos participantes da luta sugere que esteja chegando um mudança fundamental. A evidência de uma inexorável e impiedosa perseguição das minorias cristãs do Vietnã do planalto central e do noroeste confirmam este ponto de vista.
Permissão negada
Apesar das garantias, os líderes cristãos ainda enfrentam restrições.
Mais uma vez, o mundo tem a oportunidade de ver claramente que o que o governo do Vietnã faz com relação à liberdade é completamente contrário ao que ele diz. Uma fonte de Portas Abertas no Vietnã manifestou recentemente essa conclusão depois que as autoridades recusaram a dar permissão para que dois cristãos vietnamitas bem conhecidos entrassem no país para visitarem a família.
O Rev. Ho Hieu Ha, pastor de uma congregação de vietnamitas étnicos de Seatle, Washington, Estados Unidos, teve a entrada negada no aeroporto Tan Son Nhat, da cidade de Ho Chi Minh, no dia 7 de fevereiro, 14 anos depois de ser exilado.
O pastor e a Sra. Ha receberam vistos para retornarem ao Vietnã para visitar a mãe de Ha, de 89 anos e doente. Era seu intenso desejo que ela visse o rosto do seu filho mais velho uma vez mais antes de morrer. O irmão mais novo de Ha, importante líder da igreja doméstica, Rev. Ho Tan Khoa, havia preenchido os documentos pertinentes junto às autoridades do governo central para organizar a sua visita.
A improvável explicação que a polícia de segurança pública do Vietnã deu para impedir a entrada de Ha no Vietnã foi razões de segurança nacional. Ha então pediu às autoridades permitissem que sua mãe fosse levada até o aeroporto para vê-lo, mas o pedido foi rejeitado.
Duas semanas antes, outro conhecido pastor vietnamita, Paul Tran Dinh Ai, que fora exilado em 2001 mas ainda tem o passaporte vietnamita, foi barrado no aeroporto e teve a entrada recusada no Vietnã ao tentar fazer uma visita à família no Ano Novo Lunar.
Citando também razões de segurança nacional, a polícia informou o Rev. Ai que ele não teria permissão para ficar nem mesmo uma hora. Entretanto, ele resistiu à pressão para comprar um novo bilhete até o último vôo do dia, e a polícia não teve escolha senão mantê-lo sob guarda num hotel próximo.
Ai recusou-se a submeter-se a interrogatório na manhã seguinte, e a polícia finalmente o colocou num vôo da Vietnam Airlines para Cingapura.
No caso de Ha, o ex-evangelista e missionário junto à minoria Mnong ficou detido durante três horas no Aeroporto Tan Son Nhat antes de ser colocado num avião para Taiwan.
Ha foi pastor da igreja Tran Cao Van no Distrito 1 da cidade de Ho Chi Minh de 1975 a 1983. Mais de 5.000 pessoas, a maioria jovens, se converteram a Cristo em seu ministério, inclusive Pham Thi Kim Phuc, a famosa garota do napalm. Irritada com as atividades de Ha, as autoridades prenderam o bem sucedido pastor e confiscaram o edifício da Tran Cao Van.
Ele e dois colegas ficaram na prisão até 1988, quando a forte defesa internacional, incluindo a intervenção do vice-presidente dos Estados Unidos, George Bush, convenceram as autoridades vietnamitas a libertá-los. Eles se prontificaram em faze-lo com a condição de que o trio deixasse o país imediatamente.
Os três prisioneiros recusaram essa condição, dizendo que eram vietnamitas e queriam permanecer em seu país. Levou outro ano inteiro para convencer os homens a saírem do Vietnã, com o que eles concordaram em janeiro de 1990.
Ainda afetuosamente lembrado por milhares de vietnamitas, Ha prega amplamente a eles nos Estados Unidos.
A recusa das autoridades em permitir que o pastor Ha visite sua mãe idosa e doente é uma evidência clara e forte da contínua violação dos direitos humanos e do maltrato dispensado aos líderes espirituais e religiosos pelas autoridades comunistas vietnamitas, concluiu uma fonte do Vietnã.
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