Portas Abertas • 27 mar 2004
Pelo menos trinta igrejas e monastérios ortodoxas sérvios e kôsovos foram incendiados e destruídos durante o choque entre a multidão albanesa e a minoria da população sérvia. Relatos dizem que vinte e oito pessoas foram mortas e cerca de mil foram feridas, mas esses dados ainda não representam os números finais.
A diocésia culpa a UMNIK, administração das Nações Unidas, de não proteger seus locais sagrados no período antes da última violência. Além das preparações diretas do crime, não só nos últimos dias mas durante o curso dos últimos cinco anos pós guerra, nenhum dos criminosos foram levados à justiça e ninguém assume a responsabilidade das últimas explosões e assassinatos., reclamou a diocésia ortodoxa no dia 22 de março. A diocésia tem diariamente emitido uma lista atualizada de locais cristãos que foram danificados ou destruídos em Kosovo.
Antes das últimas ondas de violência, 112 igrejas ortodoxas tinham sido destruídas desde de que as Nações Unidas junto com a OTAN passaram a administrar Kosovo em 1999. Ninguém que participou desses ataques até agora foi preso pela UMNIK, KFOR, ou principalmente pelo Serviço de Proteção Albanês e Kosovo.
O silêncio do mundo especialista em relação à destruição em Kosovo é de doer, disse ao Forum18 no dia 24, Mrijanma Menkovic, presidente da Mneomsyne, organização com sede em Belgrado que é formada por especialistas no campo da herança e proteção cultural e espiritual. Eu fico imaginando o que aconteceu com o código de ética se a orientação profissional passa a tomar outra direção. Ela relatou que eles tinham tentado iniciar uma conferência internacional na defesa e proteção da herança em Kosovo, mas ainda estão para receber uma resposta satisfatória.
Nós na Sérvia precisamos coordenar todos os nossos esforços e conhecimentos, tanto do governo como de especialistas, na tentativa de salvar o que ainda resta, insistiu Mrijanma. Existem convenções internacionais em relação à esses locais sagrados, mas eles não estão protegidos. Precisamos falar aos nossos colegas albaneses no que se refere a uma responsabilidade compartilhada e também sobre um respeito consistente para os regulamentos em vigor.
O Conselho Mundial de Igrejas e a Conferência Européia de Igrejas declararam no dia 19 de março que as igrejas e comunidades religiosas devem rejeitar qualquer tentativa, de qualquer tipo para usar a religião como fator motivador para o conflito e devem levantar a voz para confrontar a nova onda de intolerância, violenta e de extremismo.
A tese das igrejas políticas em Kosovo foram frustradas, disse o Frei Sava, deputado do monastério Decani, ao Forum18 no dia 24 de março. A idéia de que os sérvios, sob o comando de Miroslav Milosevic, construíram igrejas para expulsar os albaneses não tem base, pois existem inúmeras igrejas e monastérios destruídos que são dos séculos XIV, XVI, XVIII e XIX. Estamos tratando sim da destruição sistemática de locais sagrados ortodoxos em Kosovo e Mtohija.
Vandalismo organizado
Enquanto isso, na Sérvia, as autoridades agiram em resposta aos incêndios criminosos nas mesquitas em Belgrado. Em Nis, as autoridades acusaram dez pessoas sob o código criminal com vandalismo organizado por terem incendiado uma mesquita durante a madrugada de 17 para 18 de março. Os vândalos arrombaram a porta de entrada, demoliram o interior e atearam fogo na mesquita, destruindo-a por completo. Se forem condenados, enfrentarão sentenças de até cinco anos de prisão.
Em Belgrado, cento e dez pessoas foram presas pelo incêndio na mesquita de Bajrakli, mas ainda não se sabe se serão acusados por ofensas criminosas. Devido à reação passiva da polícia aos ataques, o ministro do interior da Sérvia, Dragan Jocic demitiu no dia 22 de março o chefe da polícia e o deputado da cidade em Belgrado.
Todos os partidos políticos, figuras públicas e do governo, se aliaram para condenar os ataques às duas mesquitas na Sérvia. Oficiais de Belgrado prometeram à comunidade islâmica que a cidade vai arcar com a reforma das mesquitas, que sobreviveram às duas Grandes Guerras Mundiais e a outros ataques nos últimos séculos.
A condenação aos incêndios nas mesquitas também tem o apoio das freiras dos conventos de Pecka e Patrijarsija em Kosovo. O bispo Joanikije de Budimlje e Niksic, que esteve no convento durante os ataques, citou uma freira declarando: os ataques à essas mesquitas que foram queimadas em Belgrado não farão bem para Kosovo.
Entretanto, entre os dias 18 a 20 de março, muitos outros incidentes aconteceram na Sérvia, Montenegro, Bósnia e Macedônia, provavelmente como um eco dos trágicos eventos em Kosovo.
Na Sérvia, na noite de 18 de março, um Centro Cultural Bíblico Protestante em Nis foi incendiado por coquetéis Molotov atirados por uma multidão de cerca de trinta pessoas, um dia após aos ataques nas mesquitas na mesma cidade. Esse ato terrorista tem causado temor e ansiedade não só em nós que administramos esse centro, mas também em todos que, de alguma forma, estão ligados à nós, incluindo a vizinhança, disse ao Forum18 Obrad Nilolic, ministro da Igreja de Deus em Nis. O centro possuía uma pequena livraria e uma parte de áudio e vídeo e locais para palestras teológicas e para exibição de filmes cristãos.
A mesquita em Oraovica, perto de Presevo, sul da Sérvia, foi incendiada no dia 19 de março, mas o fogo foi apagado e um criminoso preso, que mais tarde explicou ser um albanês local com alguns problemas mentais. O dano nesse caso foi menor, com apenas poucos livros queimados.
A comunidade islâmica em Novi Pazar relatou que a mesquita em Mali Zvornik foi apedrejada, tendo suas janelas quebradas, enquanto que os muçulmanos em Loznica não estavam se sentindo seguros depois de ter recebido ameaças. Eles pediram proteção do governo.
Em Montenegro, a agência de notícias sérvia Tanjug, relatou que cinco menores foram detidos na cidade de Porgorica por ameaçar atear fogo à mesquita municipal e por estarem cantando músicas anti-albanesas. A polícia entrevistou os menores e seus pais antes de liberá-los.
Na Bósnia, o ministro do interior Mevludin Halilovic condenou os ataques às igrejas ortodoxas sérvias da Sagrada Mãe de Deus em Bugojno, região central do país. Ele demonstrou sua gratidão aos oficiais da cidade que reagiram prontamente aos incidentes. A polícia prendeu várias pessoas relacionadas aos incêndios, mas nenhum nome foi divulgado.
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