Intensifica-se o debate sobre os prisioneiros de Acteal

Portas Abertas • 9 abr 2004


Setores das igrejas Católica Romana e Protestante do México estão envolvidos numa disputa sobre o destino de 74 lavradores tzotzils presos pelo massacre de Acteal, cometido em dezembro de 1997. Entre eles estão 34 cristãos evangélicos das igrejas Presbiteriana, Assembléia de Deus e Pentecostal de Chiapas.

Em meados de março, cerca de quinhentos cristãos tzotzil das províncias de Chenalho, Zinacantan e San Juan Chamula, do Estado sulista de Chiapas, realizaram uma marcha pacífica na Cidade do México, pedindo às autoridades do governo que fizessem uma revisão judicial do processo contra os réus de Acteal. De acordo com uma reportagem de 20 de março do jornal de Chiapas, o Cuarto Poder, os manifestantes cantaram hinos e coros cristãos durante a marcha ao longo da Avenida Central do Palácio do Estado aos escritórios do Judiciário Federal.

Após manifestações evangélicas similares em dezembro último, o Ministério do Interior lançou uma força-tarefa para examinar as condenações dos prisioneiros acusados de assassinato e posse ilegal de armas.

Manuel Perez Arias, pastor da Igreja Presbiteriana Nacional do México, falou aos manifestantes que existe forte evidência que prova a inocência da maior parte dos prisioneiros de Acteal. Cinco pessoas já confessaram ter participado do tiroteio, junto com quatro cúmplices que estão foragidos. Entretanto, disse Manuel, devido a violações do processo competente durante o julgamento deles, os prisioneiros de Acteal permanecem encarcerados na penitenciária de Cerro Hueco em Tuxtla Gutierrez há mais de seis anos.

Em resposta, Samuel Ruiz Garcia, bispo emérito da Diocese Católica Romana de San Cristobal de las Casas, criticou os evangélicos por insinuarem que pessoas inocentes haviam sido presas injustamente devido ao crime. Ele afirmou que os que estão pedindo a reabertura do caso estão convertendo-o numa questão religiosa e indiretamente alimentam a cumplicidade no múltiplohomicídio.

Eles alimentam, de maneira indireta, a cumplicidade ao dizerem que é necessário resolver esta questão e não levar à justiça os que são responsáveis, disse o bispo aposentado ao Cuarto Poder.Samuel, conhecido por seu comprometimento com a Teologia da Libertação, inspirou vários movimentos de base de lavradores durante o seu mandato como bispo. O grupo da comunidade católica conhecido como Las Abejas estava envolvido em disputas de terras com cristãos evangélicos e membros do partido governante do México, o Partido Revolucionário Institucional, o PRI, na região de Acteal durante os meses anteriores ao massacre de 1997.

De acordo com as acusações oficiais, os 74 lavradores agora presos, supostamente participaram de um ataque paramilitar contra os membros do Las Abejas no convento católico no vilarejo de Acteal no dia 22 de dezembro de 1997. Seis homens, 21 mulheres e 18 crianças morreram no ataque.

Agindo basicamente com base nas acusações de informantes dos Las Abejas, a polícia deteve mais de noventa suspeitos entre dezembro de 1997 e março de 1998. Os réus foram julgados sumariamente, condenados e sentenciados a longos períodos de prisão.

Manuel Perez, que trabalha como diretor da Sociedade Bíblica do México, diz que os investigadores policiais não apresentaram evidência confiável para condenar os réus.

Por exemplo, armas supostamente usadas no ataque não tinham as impressões digitais dos acusados; nem as cápsulas de balas encontradas no local do crime eram compatíveis com as armas que a polícia depois apresentou como evidência. Testemunhas oculares afirmaram que vários homens acusados passaram o dia todo do tiroteio a quilômetros de distância de Acteal.

Numa entrevista à imprensa no início de março, Manuel disse que diversas irregularidades nos depoimentos das testemunhas, bem como evidência física devem levar a maior parte dos prisioneiros de Acteal à liberdade, assim que a força-tarefa terminar sua revisão.

Ele então fez um apelo fraterno ao Las Abejas para que cooperassem inteiramente com a força-tarefa judicial para buscar a completa elucidação dos fatos. Poucas são as chances de que os Las Abejas aceitem a oferta de Manuel. O grupo publicou uma declaração em seguida à manifestação na Cidade do México que dizia, em parte: Comenta-se que os nossos irmãos Presbiterianos de Chenalho e outras partes da República mexicana permitem que sua dignidade cristã seja manchada com essa mentira.

O Las Abejas insinuaram que ativistas evangélicos estivessem tentando manipular a religião para encobrir os verdadeiros culpados pelo massacre de Acteal.

Não estamos pedindo vingança, dizia a declaração, estamos pedindo justiça, para que um massacre como o de Acteal nunca mais se repita.

O porta-voz evangélico, Rev. Adoniram Gaxiola lamentou a recusa dos Las Abejas em cooperar com a revisão judicial, e questionou a dedução de que a justiça em favor dos mortos de Acteal se traduza na prisão de pessoas inocentes.

Isto se constituiria no triunfo da corrupção daqueles que não somente foram os autores do confronto de 22 de dezembro de 1997, mas também fugiram da responsabilidade pelo ato criando bodes expiatórios, disse Adoniram.

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