Portas Abertas • 21 ago 2017
Esther estava em um grupo de 47 meninas que conseguiram fugir do cativeiro
[Atualizada em 27 de março de 2020]
O caso do sequestro das meninas de Chibok, que ganhou notoriedade internacional depois da campanha nas redes sociais com a hashtag #BringBackOurGirls, teve um novo desdobramento com a revelação do diário secreto das meninas de Chibok.
O sequestro de mais de 200 estudantes do vilarejo de Chibok, na Nigéria, foi o resultado acidental de um roubo malsucedido. É o que dizem duas das meninas que foram mantidas em cativeiro por três anos. A revelação foi possível por meio de diários secretos que foram obtidos pela Thomson Reuters Foundation.
Quando relembra a noite do sequestro, em 14 de abril de 2014, Naomi Adamu diz que os extremistas não foram atrás das meninas, mas queriam assaltar o lugar e levar maquinário de construção. Como não encontraram o que estavam procurando, não souberam o que fazer com as meninas. “Um deles dizia que deviam nos queimar, outros sugeriram que fôssemos levadas a Sambisa (floresta onde fica a base do grupo islâmico extremista Boko Haram). Eles falaram que Shekau, o líder, saberia o que fazer conosco”, escreveu Naomi.
Ela estava entre as 82 meninas libertadas em maio deste ano. Outras 21 já haviam sido libertadas em outubro de 2016. Elas ficaram em um local secreto em Abuja, capital da Nigéria, para participar do que o governo do país chama de “processo de restauração”. Estima-se que ainda há cerca de 112 garotas em poder do Boko Haram.
Yana Gana é mãe de Rifkatu, que ainda é mantida cativa pelo Boko Haram
Espírito de coragem, amor e equilíbrio
A autenticidade dos diários escritos por Naomi e a amiga, Sarah Samuel, não pode ser verificada ou usada como arma de negociação. Porém, as páginas escritas mostram o horror que as meninas de Chibok passaram enquanto estavam sequestradas. Mais importante, mostram também a certeza de que um dia voltariam para casa.
Os diários começaram a ser escritos durante as aulas sobre o Alcorão, para a qual recebiam um caderno. Para escondê-los, elas os enterravam ou os escondiam debaixo da roupa. “Escrevemos juntas. Quando uma cansava, a outra continuava”, desabafou Naomi, de 24 anos, direto do local onde o governo mantém as garotas libertadas.
“Se me perseguiram, também perseguirão vocês”
A vida sob o domínio do Boko Haram incluía agressões, ensinos sobre o Alcorão, pressão para se casar com extremistas e se converter ao islamismo. As meninas mantiveram a personalidade, pois o diário mostra que usavam apelidos engraçados e humilhantes para os extremistas. Ainda assim, a crueldade era sempre citada.
Em certa ocasião, os extremistas reuniram garotas que se recusaram a abraçar o islamismo, trouxeram galões de gasolina e ameaçaram queimá-las vivas. “Eles diziam: ‘Você quer morrer? Se não quer ser muçulmana, vamos queimá-la’”, diz uma passagem do diário. Porém, os galões só tinham água e os extremistas do Boko Haram riram da brincadeira.
Seis anos depois do sequestro, 112 meninas continuam em cativeiro e os pais ainda esperam recebê-las vivas
Apesar de estar livre, Naomi se preocupa com sua grande amiga Sarah, que ainda está com o grupo e foi obrigada a casar com um deles. “Ela casou porque estava sem comida e água. Nem todos conseguem sobreviver nessa situação. Eu estou triste, muito triste. Penso nelas o tempo todo”, compartilha Naomi.
Pedidos de oração pelas meninas de Chibok
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