Sobrevivência e fé - os desafios da Igreja eritreia (parte 1)

Portas Abertas • 2 mar 2010


Em entrevista exclusiva, diretor da Portas Abertas na África comenta sobre a situação atual da Igreja na Eritreia. Esta é a primeira parte de uma série de dois  blocos.

Quando começou a haver restrições religiosas na Eritreia?
Em 1997 o governo eritreu emitiu um decreto ordenando o registro de todos os grupos religiosos que operam fora da Igreja Ortodoxa Eritreia, Igreja Católica Romana, Igreja Luterana Evangélica e do islamismo. Para obter o registro no Departamento de Assuntos Religiosos era necessário entregar o rol de membros da igreja e o endereço de cada um, dados bancários da congregação e os dados dos ministros titulares.

As igrejas obedeceram a essas ordens?
A maioria dos grupos evangélicos se recusou a entregar os documentos porque sentiam que seus membros correriam risco com a exposição. Porém, quatro grupos cederam – a Igreja Presbiteriana, a Igreja Metodista, os Adventistas do Sétimo Dia e a seita baha"i. Para alguns deles, o governo conseguiria a informação que desejava mesmo se a igreja não a entregasse.

Essas igrejas receberam o registro?
O governo não cumpriu nenhuma promessa feita em 1997 em relação ao registro. No entanto, a obediência ou a recusa trouxeram consequências. Em 2002, o Estado fechou todas as igrejas que não solicitaram a licença. Os que haviam solicitados foram considerados "complacentes", e isso lhes garantiu alguns privilégios. Durante algum tempo, eles puderam continuar com seus cultos de domingo, mas à medida que mais pessoas participavam dessas reuniões, o governo suspendeu todos os cultos públicos.

Isso quer dizer que os grupos licenciados pelo Estado foram poupados da perseguição?
Eles foram poupados a princípio, mas hoje essas igrejas experimentam certo grau de perseguição. Quando digo que há “perseguição”, quero dizer que o governo controla o grupo completamente. A Igreja ortodoxa, em especial, é forçada a entregar ao governo os dízimos e doações que recebe. O ex-patriarca que conduzia a Igreja foi deposto, e o seu substituto é um político, ele era embaixador em Israel. Além disso, essas igrejas também foram obrigadas a submeter relatórios de todas as suas atividades a cada seis meses. Se tais relatórios indicarem que uma nova igreja ou foi plantada, ou que começaram um trabalho em algum lugar, é aberto um inquérito sobre isso.

Por que o governo exigiu o registro das igrejas?
Os cristãos da Eritreia são da opinião que a ordem de registro foi um pretexto para fechar igrejas e acabar com as atividades cristãs. Para eles, está claro que o governo não quer que a Igreja dissemine o evangelho na comunidade.

Mas qual é o verdadeiro motivo por atrás dessas medidas contra a Igreja?
A perseguição tem de ser vista considerando-se que o governo segue uma ideologia comunista. Dessa forma, veem o mundo todo como ameaça. Empresários são uma ameaça, professores universitários são uma ameaça, a Igreja é uma ameaça... Suspeitam de todos.

Além disso, os cristãos são acusados de colaborar com a CIA (órgão de inteligência dos EUA) para derrubar o governo eritreu, de serem desleais ao governo, e de não ser uma religião natural do país. Um cristão eritreu falou: "É óbvio o governo odeia o evangelho. Eles não querem nenhuma atividade religiosa na Eritreia além da Igreja Ortodoxa. Mas mesmo essa igreja só existe para contribuir com os interesses do governo".

Quanto cristãos estão em prisões atualmente?
Fontes locais nos informaram de que há 2.221 cristãos no momento.

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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