Portas Abertas • 4 dez 2017
Ester foi levada com um grupo de meninas por extremistas do Boko Haram
Até outubro de 2015, Ester* levava uma vida normal de uma menina de 17 anos em Gwoza, no estado de Borno, na Nigéria. Ela estudava e cuidava do pai viúvo. Mas tudo mudou quando o Boko Haram atacou sua cidade. Militantes cercaram sua casa e a levaram. A última cena que viu, antes de ser levada, foi como seu pai foi atingido e deixado morto no chão.
Os rebeldes levaram Ester e um grupo de meninas para um esconderijo na floresta de Sambisa e usaram todos os métodos para fazê-las renunciar à fé cristã e se converter ao islamismo. Primeiro, eles lhes ofereciam privilégios, mas quando não funcionava, eles partiam para ameaças e intimidações. Muitos deles queriam se casar com Ester, mas ela não cedeu.
Quando se lembra de como era continuamente abusada, ela não consegue segurar as lágrimas, ao dizer: “Eu não sei contar quantos homens me agrediam. Toda vez que eles voltavam dos ataques, eles abusavam de nós”. Ela continua: “Conforme os dias passavam, eu me odiava mais e mais. Às vezes eu achava que Deus tinha me abandonado e ficava com raiva. Mas mesmo assim não conseguia renunciá-lo. E depois lembrava que ele prometeu nunca me deixar nem abandonar”.
Em novembro de 2016, o exército nigeriano conseguiu localizar e resgatar Ester e as outras meninas. Mas quando chegaram em casa, foram recebidas com suspeita e zombaria, e chamadas de “mulheres do Boko Haram”. Quando voltou, Ester estava grávida e foi desprezada até mesmo por seus avós. “Eles me xingavam; mas o que mais partia meu coração é que eles se recusavam a chamar minha filha pelo nome, Rebeca, e se referiam a ela como ‘Boko’”, relembra a cristã.
Desde seu retorno, ela passa por aconselhamento pós-trauma com a ajuda da Portas Abertas, o que a tem ajudado a lidar com sua raiva, dor e vergonha. Ela diz que agora consegue perdoar seus inimigos. Mesmo já tendo passado um ano, as pessoas ainda têm dificuldade de aceitar Ester e Rebeca, mas eles também notaram mudanças na jovem mãe. Agora ela se sente bem consigo mesma e com a filha e, diante de tudo o que passou, admite que Rebeca é sua “alegria e riso em meio à tristeza”. Hoje mãe e filha vivem na casa dos avós de Ester. Ela não está estudando nem trabalhando oficialmente, mas trabalha numa fazenda. Portas Abertas também as ajuda com alimentação.
Desde que surgiu, em 2009, o Boko Haram tem usado de violência para obrigar as pessoas a se tornarem muçulmanas. Um relatório da Portas Abertas concluiu que os ataques do Boko Haram a comunidades cristãs não são aleatórios, mas parte uma campanha calculada para intimidar a população a se converter ao islamismo.
As ações do grupo são a maior causa de mortes e deslocamento na Nigéria, e já fez mais mortos que o Estado Islâmico. A ONU estima que 2,5 milhões de pessoas (incluindo 1,5 milhão de crianças) já foram deslocadas desde maio de 2013. Em julho, a UNICEF havia estimado que mais de 2,7 milhões de crianças atingidas pelos conflitos precisavam de apoio psicológico. A violência contra as mulheres também aumentou consideravelmente. Não se esqueça delas em suas orações. Clame também pela vida de Ester e Rebeca, que elas encontrem em Deus tudo o que precisam.
*Nome alterado por motivos de segurança.
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