Portas Abertas • 4 mai 2024
A cristã Kimkim foi obrigada a fugir com o marido e os filhos para sobreviver em Manipur
Ontem, o conflito étnico-religioso em Manipur completou um ano. Desde maio de 2023 os cristãos locais lidam com os efeitos devastadores da disputa entre as comunidades kuki e meitei. A cristã Kimkim* é um testemunho de resiliência e fé nesse contexto. O trauma fez com que ela não conseguisse mais expressar a fé em Jesus cantando, como fazia antes.
A parceira local Nitya* relatou que a dor e a incerteza ainda são visíveis nos rostos das vítimas que se tornaram deslocadas internas em Manipur. O coração de Kimkim ainda sofre quando lembra dos terríveis ataques e de tudo que ela, o marido e as duas filhas tiveram que deixar para trás para sobreviver.
Como um casal interétnico – Kimkim faz parte da comunidade kuki e o marido da comunidade meitei –, a família não esperava que o conflito fosse durar tanto tempo. “Achamos que não seríamos prejudicados ou impactados. Enquanto outros fugiam, ficamos para trás, confiando que estaríamos seguros porque meu marido é um meitei. Mas a situação piorou, então tivemos que fugir”, conta a cristã.
“Nossos filhos estão traumatizados até hoje. Qualquer agrupamento de pessoas ou sons altos faz com que as crianças saiam correndo e perguntem: ‘Eles vão queimar nossas casas? Vieram nos matar?’”. Como professora, Kimkim os encoraja a orar por todos, incluindo aqueles que os perseguem, mas é muito difícil quando a filha de cinco anos acorda no meio da noite apavorada pelos pesadelos. “Não sabemos o que podemos fazer para apagar essa memória”, diz Kimkim.
As vítimas dos ataques em Manipur ainda enfrentam muitos traumas
A filha mais nova do casal, de três anos, ainda não entende o que está acontecendo. Todos os dias, ela ora para que Deus abra de novo a loja da família, que Kimkim e o marido foram obrigados a abandonar quando fugiram. A própria Kimkim ainda sofre com transtorno de estresse pós-traumático e ansiedade. Como muitos cristãos, vítimas dos ataques em Manipur, ela não consegue aceitar tudo que aconteceu, especialmente os abusos e os assassinatos.
“Muitos inocentes morreram em vão. Meninas inocentes foram abusadas sexualmente. Não sabia como orar ao assistir a todas essas coisas. Apenas fechava meus olhos e minha mente ficava completamente vazia.” Por muitos dias, Kimkim sentia raiva das pessoas e de Deus. O trauma da destruição causa ainda hoje grande impacto nos sobreviventes. Eles foram obrigados a viver mudanças enormes para sobreviver. Kimkim ainda se lembra do primeiro dia no acampamento de deslocados internos. Ela tinha medo de dar qualquer passo para fora do abrigo.
Abençoada com uma linda voz, Kimkim usava o dom de cantar para glorificar a Deus. “Eu costumava cantar, mas parei. Depois de passar por tudo isso, não conseguia mais louvar.” Além disso, as lembranças dos assassinatos, dos vandalismos e da violência ainda a assombra e gera dificuldades emocionais e psicológicas. “Tinha medo dos meus vizinhos. Passava a maior parte do tempo isolada com meus filhos.”
Mas, pelo bem dos filhos, ela e o marido começaram a participar dos cultos com outros cristãos locais. Antes, incapaz de adorar a Deus por causa do trauma e da dor, Kimkim aos poucos se reconciliou com Deus e percebeu o quanto ele havia protegido sua família em todo aquele período.
“Não sabia o que pedir ou dizer a Deus. Mas percebi que apenas Deus pode nos dar paz. E todas as vezes que louvo a Deus, posso sentir sua paz. Foi assim que voltei a cantar.” Hoje, Kimkim e o marido trabalham temporariamente em uma escola, onde as filhas estão estudando. Ainda longe da cidade natal, Kimkim lidera o grupo de louvor da igreja que eles começaram a participar. Ela agradece o apoio dos parceiros locais da Portas Abertas que ajudaram a família com cestas básicas e cobertores. “Viemos para cá sem nada. Obrigada por nos ajudar e nos encorajar nas visitas”, conclui a cristã.
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