Portas Abertas • 9 out 2023
Mesmo após ser perseguido pelo pai por uma década, Sang, um jovem no Vietnã, se manteve fiel a Cristo e, após terminar o seminário, passou a evangelizar vilas que nunca ouviram falar de Jesus
Sang (pseudônimo) foi o primeiro a se tornar cristão em sua família no Vietnã. Quando foi para a igreja ainda jovem, o pai o perseguiu. Ele é da tribo hmong, tradicionalmente animista, que acredita que seres vivos e objetos inanimados são possuídos por espíritos distintos e podem ajudar ou prejudicar seres humanos. Deixar essa crença significa traição a seu próprio povo e leva à perseguição. Foi o que aconteceu com Sang. Apesar disso, ele continuou buscando a Jesus.
“Na época, eu era muito jovem. Meu pai estava bravo com minha conversão e me impediu de ir à igreja aos domingos”, compartilhou. Apesar do medo, Sang encontrou formas de continuar participando dos cultos. Entretanto, se o pai estivesse em casa, não tinha escolha a não ser ficar em casa também. Vendo que ele não abandonaria a fé, o pai planejou colocar Sang na escola militar, mas isso não aconteceu.
“Então ele me bateu. Eu disse que iria para escola, mas não desistiria da minha fé, que não podia fazer isso”, contou. As autoridades locais informaram que não aceitavam cristãos na escola militar, então o pai o pressionou muito. Sang se manteve firme, então o pai mudou a tática e se voltou contra a esposa.
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“Como não recuei, meu pai passou a perseguir minha mãe. Ele lhe batia repetidamente. Usava uma vara para bater nela até o corpo ficar machucado e inchado. Meu irmão e eu tentamos impedi-lo, mas ele continuava insultando-a: ‘Você é inútil! Eu disse para você impedir seu filho de ir à igreja, mas ainda assim você me desobedeceu’. Meu pai sabia que minha mãe apoiava o fato de eu ser cristão. Ela mesma queria se converter, mas estava com medo dele”, compartilhou.
Uma vez, o pai dele usou uma arma para intimidá-los. “Ele disse que mataria todos. Meu irmão pegou a arma e a destruiu. Meu pai ficou bravo e fez uma bagunça em nossa casa, destruindo as paredes.” O sofrimento de Sang e da mãe continuou com a crueldade do pai. “Como não entrei na escola militar, fui para outra cidade em busca de um curso médico. A primeira coisa que procurei quando cheguei foi uma igreja onde pudesse crescer espiritualmente. Toda semana, o pastor reservava algumas horas para me discipular e ensinar a palavra de Deus. Quando me formei na faculdade, disse ao pastor que desejava servir ao Senhor em tempo integral. Ele me apresentou um seminário bíblico secreto para igrejas domésticas no Norte do Vietnã, com aulas transmitidas via satélite em áreas montanhosas”, fala.
“Quando contei para meu pai sobre isso, ele ficou furioso. Usou uma cadeira para atingir minha mãe e exigiu que ela pedisse para eu voltar para casa. Se eu não voltasse, ele mataria a si mesmo, a ela ou a mim. Ele me ligou e me ameaçou muito”, disse. Mesmo assim, Sang passou a frequentar o seminário. “Eu sou parte do primeiro grupo de alunos do seminário bíblico em que me graduei. Nós fomos treinados para sermos evangelistas e plantadores de igrejas. Nossos professores nos ensinaram como servir a Deus de maneira efetiva em vários ministérios. Aprendemos a discernir o chamado de Deus para nós e colocá-lo em prática.”
Sang passou a viajar e evangelizar diferentes áreas no Vietnã
Após completar o curso teológico, em 2016, Sang passou a servir a Deus. Começou em sua vila, liderando adolescentes em uma igreja perto de sua casa. Ele também começou a viajar para evangelizar áreas diferentes. “Agora lidero dez pessoas, que discipulo e encorajo por meio da palavra de Deus. Sou um evangelista local também. Vou a diferentes vilas em nossa província onde sei que o evangelho nunca foi pregado. Eu os encorajo a participar da igreja mais próxima, afinal não posso visitá-los com frequência”, compartilha.
Para evitar ser perseguido por moradores das vilas ou autoridades locais, ele geralmente não declara o propósito de sua viagem. “Quando viajo para compartilhar o evangelho, não digo para ninguém que sou evangelista. Só falo que vou visitar meus parentes e amigos. Quando encontro as pessoas, passo tempo conversando com elas e compartilho a palavra de Deus.” Ele explica: “Não é ilegal pregar o evangelho em nosso país, embora as autoridades locais digam para obtermos uma permissão da comunidade que visitaremos para compartilhar o evangelho. Mas caso saibam, tentarão nos impedir de muitas formas. O documento de permissão é quase impossível de conseguir. Então eu apenas vou compartilhar o evangelho discretamente, mesmo sem esse documento”.
Sang acredita que apesar dos desafios e da perseguição, o risco das jornadas valem a pena e continuará avançando o Reino de Deus. “Eu acho que o evangelismo é muito importante porque Deus ama esse povo, mas eles não sabem disso. E eu os amo, então compartilho o evangelho com eles. Minha principal motivação ao fazer isso é o amor.”
Por dez anos, Sang e sua mãe enfrentaram violência do pai. Porém, em 2021, a família, principalmente o pai, experimentou uma revolução, um milagre, como Sang chama. “Meu pai foi meu maior perseguidor, mas também meu maior milagre. Por dez anos, meu pai não parou de pressionar a mim e a minha mãe para deixar a fé. Mas, em 2021, tanto ele como minha mãe se tornaram cristãos. Meu pai disse ter visto uma grande transformação em mim depois que me graduei e voltei do seminário. Ele ficou maravilhado e disse que minha vida mudou para melhor. Meu pai compartilhou: ‘Eu sei que Deus é bom, pois ele trabalhou em você’. Foi quando decidiu se tornar cristão. Eu testemunhei que nada é impossível para Deus. Deus pode mudar o coração mesmo daqueles que perseguem ferozmente os cristãos, para que se tornem seguidores dele, assim como meu pai. Isso me fez confiar ainda mais no Senhor.”
Cada vez mais, o monitoramento e as restrições de autoridades locais fazem com que cristãos no Sudeste Asiático se sintam sozinhos e isolados em sua fé. Com uma doação, aqueles que vivem em vilarejos remotos são treinados para enfrentar a perseguição de acordo com a Bíblia, usando material apropriado a sua cultura e idioma.
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