O Vietnã é um dos cinco países no mundo ainda governado por um partido comunista. O governo monitora a atividade cristã e exerce um alto nível de pressão sobre todos os seguidores de Jesus.
As comunidades cristãs históricas, como as igrejas católicas romanas, desfrutam de certa liberdade desde que não sejam politicamente ativas, o que pode levar à prisão, ou estejam envolvidas em casos de grilagem de terras. As congregações evangélicas e pentecostais, que costumam se reunir em igrejas domésticas, são monitoradas de perto e enfrentam discriminação tanto do governo como da sociedade.
Os convertidos de origem budista ou étnico-animista enfrentam a perseguição mais severa, não apenas das autoridades, mas também de suas famílias, amigos e vizinhos. Como a maioria deles pertence a minorias étnicas como os hmong, as autoridades comunistas suspeitam deles. Às vezes, suas casas são destruídas e eles são forçados a deixar suas aldeias.
Nguyen Van Quan (pseudônimo), pastor vietnamita e parceiro da Portas Abertas
Embora a situação para os cristãos em geral permaneça inalterada, está ficando difícil receber informações das províncias rurais do Planalto Central, onde a maioria dos cristãos hmong vive. As autoridades locais e nacionais estão fazendo de tudo para impedir quaisquer informações vindas de lá. A situação desses cristãos pode ser ainda mais grave do que sabemos.
O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra os cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos no Vietnã são: opressão comunista e pós-comunista, paranoia ditatorial, opressão do clã, corrupção e crime organizado.
Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores das hostilidades, violentos ou não violentos, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos no Vietnã são: partidos políticos, oficiais do governo, parentes, líderes de grupos étnicos, cidadãos e quadrilhas.
A pressão sobre os cristãos e a violência contra eles é mais grave entre as minorias étnicas nas terras altas do Centro e do Noroeste.
Os convertidos de origens budistas ou étnico-animistas enfrentam a perseguição mais forte, não apenas das autoridades, mas também da família e da comunidade. Muitos vietnamitas seguem antigas tradições de adoração a ancestrais e espíritos, especialmente em áreas rurais. Quem decide não aderir a essas tradições se coloca fora da família e da comunidade e, portanto, será fortemente pressionado para retornar à antiga fé.
O Vietnã tem um dos maiores números de mulheres trabalhadoras. No entanto, apesar dos ideais de igualdade, os valores confucionistas permanecem arraigados na sociedade, incorporados em ditados como “um menino é algo, dez meninas não são nada”. Abortos seletivos dependendo do sexo do bebê são uma prática comum, por isso há uma proporção desigual de nascimentos de meninos.
Nesse contexto, as mulheres cristãs enfrentam pressão tanto por sua fé quanto por seu gênero. Algumas, especialmente as convertidas e as que vivem em culturas tribais, podem ser pressionadas em casa por membros da família. Quando a esposa ou filha de uma família se converte a Cristo, é expulsa de casa e deserdada.
As seguidoras de Jesus também são vulneráveis a agressão sexual e casamento forçado. As mulheres da tribo hmong, no Norte, são sequestradas e vendidas como escravas para se tornarem esposas de homens na China.
Homens cristãos podem enfrentar discriminação e assédio no trabalho, e alguns perdem o emprego por causa da fé. Funcionários do governo monitoraram e interferiram no trabalho dos seguidores de Jesus que tornaram a crença pública.
Como os homens são os principais provedores no Vietnã, a perseguição no mercado de trabalho paralisa toda a família economicamente e enfraquece seu lugar na sociedade. Se eles são líderes de igreja, suas congregações são atingidas e podem até ser fechadas.
Homens cristãos são alvos de prisão e sequestro, e isso impulsiona a fuga deles de suas aldeias. Os cristãos detidos enfrentam tratamento severo, agressão física e são pressionados a renunciar à fé em Jesus. Eles também podem sofrer violência física de sua comunidade ou das autoridades, até com casos de morte.
O serviço militar é obrigatório para todos os homens e a evasão é punida com pena de prisão. Embora os cristãos sejam forçados a se alistar, eles geralmente enfrentam discriminação dentro das forças armadas.
A Portas Abertas trabalha por meio de parceiros locais fornecendo socorro imediato nas necessidades básicas, apoio jurídico para defesa legal, treinamento de liderança e discipulado e projetos de desenvolvimento socioeconômico.
Além de orar por eles, você pode ajudar de forma prática doando para os projetos da Portas Abertas de apoio aos cristãos perseguidos. Doando para esta campanha, sua ajuda vai para locais onde a perseguição é extrema e a necessidade é mais urgente.
Deus pai, obrigado pelo testemunho de seus filhos no Vietnã. Que eles sejam conhecidos por seu amor e bondade, apesar das pressões que enfrentam. Toque nos corações dos vietnamitas para que a violência e a discriminação contra os cristãos e outras minorias religiosas sejam erradicadas. Fortaleça seu povo para permanecer firme e corajoso em tempos de dificuldade. Abençoe nossos irmãos com empregos e recursos para sustento de suas famílias. Amém.
HISTÓRIA DO VIETNÃ
Relativamente pouco se sabe sobre as origens dos vietnamitas. A primeira vez que eles aparecem na história é com os denominados povos ‘Lac’, que viviam na região Delta do Rio Vermelho, no que agora é o Norte do Vietnã. A lenda sobre o primeiro governante do Vietnã, que recebeu sua forma literária apenas depois de 1200, descreve em termos míticos a fusão, os conflitos, e a separação das pessoas do Norte e Sul e das pessoas das montanhas e das planícies costeiras.
De acordo com a lenda, a dinastia Hung teve 18 reis, sendo que cada um deles governou por cerca de 150 anos. A organização social dos primeiros vietnamitas, antes do governo chinês, era hierárquica, formando um tipo de sociedade feudal que existiu até o meio do século 20 entre as populações de minoria Tai e Muong do Norte do Vietnã.
Quando a China estendeu seu governo sobre o Vietnã, as pessoas no Delta do Rio Vermelho estavam em transição da Era do Bronze para a do Ferro, embora alguns utensílios de pedra ainda estivessem em uso. Esses ancestrais dos vietnamitas já tinham experiência no cultivo de arroz. Os vietnamitas ficaram mais de um milênio sob o domínio chinês. O governo chinês, embora desafiado diversas vezes, permaneceu seguro tanto quanto a própria China foi efetivamente controlada por seus próprios imperadores. Quando a dinastia T’ang (618-907) entraou em declínio, no começo do século 10, uma série de revoltas começaram no Vietnã, o que levou, em 639, à restauração da independência vietnamita.
No início do século 11, a província vietnamita foi finalmente unificada sob uma administração centralizada de Ly Thai To, o fundador da dinastia Ly (1009-1225). Nos séculos 12 e 13, o novo reino, chamado de Dai Viet, lutou em diversas guerras contra os islâmicos, o reino indiano de Champa na costa central. Na época desse conflito, a dinastia Ly já estava em declínio. Ela foi sucedida, após um período de guerra civil, por uma nova dinastia chamada de Tran, que reinou de 1225 a 1400.
O governante Tran deposto apelou à China para que o ajudasse a reconquistar o trono. A China, então governada pelos imperadores da dinastia Ming (1368-1644), aproveitou essa oportunidade para invadir Dai Viet novamente em 1407. No início do século 15, qualquer tentativa de forçar o povo vietnamita a se tornar chinês só serviu para fortalecer sentimentos nacionalistas e sua determinação de acabar com a opressão chinesa.
Le Loi, um rico dono de terras na província de Thanh Hoa, localizado ao sul do Delta do Rio Vermelho, iniciou um movimento de resistência nacional em 1418. Após dez anos de luta, os chineses foram forçados a se retirarem. Le Loi, que pouco depois se declarou imperador com o nome de Le Thai To, se tornou o fundador da terceira grande dinastia vietnamita, a Later Le. Embora os governantes da Later Le não tenham permanecido no poder após 1600, eles comandaram o reino nominalmente até 1788.
A unidade foi reestabelecida apenas após um período de 30 anos de revolução, caos político e guerra civil (1772-1802). Nguyen Anh, um membro da família real do Sul, ganhou o controle de todo o reino após uma série de campanhas que duraram 14 anos. Ele se declarou imperador, com o nome de Gia Long, de todo o território, que ele renomeou como Vietnã. O governo dele e seus sucessores durou até a conquista do Vietnã pela França, no final do século 19.
O Vietnã experimentou um período prolongado de guerra em meados do século 20, e uma divisão (1954-1975), primeiro militar e depois política. O país tem uma longa história de afiliação com a civilização dominante e de se adaptar às ideias implantadas. Desde os anos 1980, esse padrão se tornou a força motora por trás da aceitação da integração e liberalização econômica do Partido Comunista Vietnamita à economia mundial.
O país voltou a tornar-se um Estado unificado no final da Guerra dos Estados Unidos-Vietnã, em 1975, e permaneceu um dos poucos Estados comunistas remanescentes até hoje. Todo o poder reside no Partido Comunista e, desde 2010, o executivo e os decisores do Politburo (união de vários partidos) começaram a dialogar com a Assembleia Nacional, que foi eleita, mas não em condições livres e justas. Devido à grande população e posição geográfica do Vietnã, a economia está se desenvolvendo rapidamente. O desenvolvimento político é lento em comparação ao econômico.
Mais importante do que a Assembleia Nacional são as decisões que o Partido tomará no futuro. Uma nova liderança foi escolhida no 13º Congresso Nacional do Partido Comunista, em janeiro de 2021, garantindo a Nguyen Phu Trong um terceiro mandato sem precedentes como secretário-geral do Partido Comunista. Os delegados sem dúvida queriam passar um sinal de continuidade, principalmente em tempos inseguros de uma pandemia mundial; isso também indica que a abordagem econômica comparativamente liberal do governo seja mantida em um limite por rigoroso controle político. Os direitos civis ou a liberdade de religião ainda serão evasivos, especialmente com a nova lei religiosa imposta.
Provavelmente devido à idade do presidente (Trong fez 77 anos em 2021) e sua relatada saúde frágil, o atual primeiro-ministro, Nguyen Xuan Phuc, foi indicado para substituí-lo como presidente em abril de 2021. Já que essa é uma posição amplamente cerimonial, Trong manteve sua posição desde a inesperada morte do presidente anterior, em 2018. Pham Minh Chinn foi eleito para atuar como primeiro-ministro, para que o Vietnã de fato volte à “estratégia dos quatro pilares” (com o chefe da Assembleia Nacional incluso), distribuindo a carga de trabalho, promovendo carreiras e balanceando considerações regionais.
HISTÓRIA DA IGREJA NO VIETNÃ
O cristianismo chegou ao Vietnã nos séculos 16 e 17 e foi introduzido por comerciantes holandeses e portugueses. Quando a França se tornou o poder colonial da Indochina (1859-1954), missionários franceses chegaram para fortalecer a Igreja Católica Romana, que ainda é representada de forma proeminente por grandes catedrais nas principais cidades. O protestantismo chegou em 1911 com a Aliança Cristã e Missionária e foi posteriormente fortalecido por vários missionários ocidentais. Algumas igrejas de Montagnard foram fundadas durante a Guerra do Vietnã através das transmissões de rádio.
CONTEXTO DO VIETNÃ
O censo oficial do governo, de 2019, declara o seguinte com relação a religião: “Até 1 de abril de 2019, havia 16 religiões praticadas no Vietnã. Um total de 13,2 milhões de pessoas foram identificadas como religiosas, 13,7% da população. O catolicismo foi a religião mais comum, praticada por 5,9 milhões de pessoas, o que representa 44,6% do número total de seguidores de religiões e 6,1% do total da população do país. A segunda religião mais comum foi o budismo, com 4,6 milhões de pessoas, o que engloba 35% de seguidores de religiões e 4,8% da população nacional. As demais religiões todas têm uma proporção relativamente pequena de seguidores”.
Apesar de o World Christian Database (WCD) dizer que quase metade da população segue o budismo e apenas 10% as religiões étnicas, o Pew Forum tem as seguintes estimativas em relatório do Cenário Religioso Global 2010: 45,3% religiões tradicionais, 16,4% budismo e 8,2% cristãos. Independentemente de qual número reflita melhor a realidade, o budismo e as religiões étnicas se sobrepõem e o último tem uma influência mais forte do que os números podem dizer. Cristãos podem esperar ser tolerados desde que não desafiem a ordem existente. Entretanto, como muitos cristãos protestantes pertencem a minorias étnicas, que historicamente lutaram no lado americano na Guerra do Vietnã, eles rapidamente são vistos como possíveis causadores de problemas.
Em menor medida, isso também é verdade para o grupo muito maior de cristãos católicos, já que eles têm um aspecto colonial e são vistos como conectados a uma potência estrangeira, o Vaticano. Assim, os cristãos estão sempre no radar das autoridades locais ou nacionais. Quase 81% de todos os cristãos são católicos.
As comunidades cristãs históricas, como os católicos romanos, geralmente têm mais espaço para se mover, a menos que se tornem politicamente ativos, podendo ser presos. A Igreja Católica ainda é vista como remanescente dos dias coloniais franceses. Estereótipos como “católicos são franceses e protestantes são americanos” continuam prevalecendo, especialmente nas áreas rurais.
Congregações católicas que possuem grandes lotes de terra ao redor de conventos, escolas e hospitais, às vezes, são confiscadas pelo Estado com propósito de desenvolvimento. Como o objetivo predominante das autoridades comunistas é manter todos os grupos e organizações sob controle para preservar seu poder, nenhuma grande mudança pode ser esperada. Organizar igrejas cristãs e registrá-las será bem complicado e testemunhar da fé cristã continuará sendo perigoso, especialmente para cristãos de minorias étnicas que permanecem sob vigilância próxima das autoridades.
Os convertidos das religiões indígenas e os protestantes não tradicionais são perseguidos de forma mais intensa, especialmente se eles se concentram nas áreas rurais e remotas do Vietnã. A maioria pertence às minorias étnicas do país, como os hmong, e enfrenta todas as formas de perseguição, exclusão social, assédio, discriminação e ataques, que deixam as casas destruídas e os forçam a sair da vila.
Com as minorias étnicas que compõem entre 13% e 16,5% da população, o Vietnã é uma das sociedades mais etnicamente heterogêneas da região Ásia-Pacífico. A ideologia comunista conseguiu sufocar muitas diferenças étnicas, religiosas e sociais, mas essas diferenças surgiram novamente e encontraram sua expressão predominantemente em protestos locais. Os movimentos de protesto cívico são, na sua maioria, limitados a nível local, organizados espontaneamente e dirigidos contra a discriminação socioeconômica, étnica e geral, mas eles ainda não foram capazes de desafiar o regime político. Tópicos comuns de protestos são contra a apropriação de terras ou desastres ecológicos e como autoridades locais e nacionais lidam com isso. Claro, isso não significa que o governo não se sinta desafiado, especialmente porque alguns grupos tribais ainda estão buscando criar o próprio estado autônomo. Muitas vezes cristãos (e especialmente católicos) estão entre as figuras principais de tais protestos e dissidentes.
Crianças cristãs de minoria étnica são discriminadas na escola e não recebem a mesma atenção das outras; suas necessidades médicas também são negligenciadas com frequência. Algumas não têm permissão nem mesmo de frequentar escolas por causa da fé cristã. Quando alunos tribais nas regiões montanhosas centrais se convertem ao cristianismo, o diretor da escola os ameaça com expulsão. Professores também desencorajam alunos cristãos, dizendo que ninguém os empregará depois de se formarem, então é melhor já desistirem da fé.
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