Portas Abertas • 15 ago 2005
O irmão Ning trabalha para a Portas Abertas na distribuição de literatura. Poucos anos atrás ele foi preso e sentenciado a 5 anos de confinamento em um campo de trabalhos forçados. Graças a Deus ele seria solto um ano antes por bom comportamento! Por causa do atraso "burocrático", ele finalmente juntou-se a sua esposa e os dois filhos quatro meses depois da data prevista para sua libertação. Nossos colaboradores exultaram por encontrá-lo não muito tempo depois e partilhamos com você alguns trechos extraídos desse período de comunhão e encorajamento.
"Inexplicavelmente, quando ouvia falar de dificuldades relacionadas à minha igreja, eu também me sentia afetado por elas. Com minha família, eu me preocupava com o desempenho dos meus dois filhos nos estudos. Uma notícia que me incentivou muito foi saber que minha esposa começou a pregar na igreja enquanto eu estava preso. Antes era eu que sempre pregava. Isso me trouxe algum conforto e aliviou meu fardo com relação à igreja. Escrevi a eles dizendo que, não obstante o que acontecesse, eles precisavam não abandonar Deus. Graças a Deus eles estavam bem.
Quando eu passava por desapontamentos, os enfrentava com o coração alegre, não com o coração conturbado. Havia muitos versículos que me ajudavam. Eu podia passar uma hora por dia lendo a Bíblia. A princípio, quando fui para a prisão, não tinha permissão para ter uma Bíblia, de modo que eu ansiava por isso diariamente. Mais tarde, minha esposa pôde trazer uma Bíblia para mim, para que eu finalmente pudesse ler a palavra de Deus.
Certo dia, meu supervisor confiscou minha Bíblia como forma de punição. Eu sabia que, se ela fosse confiscada, eu não a teria de volta. Tentei convencê-lo a me devolver, mas ele não ouvia. Implorei a ele: Faça qualquer coisa comigo, mas não me tire a Bíblia. É a minha vida. Desde o dia que me tornei cristão, ela nunca saiu do meu lado. Mas percebi que isso não o comovia nem um pouco. Naquela noite, eu chorei baixinho e orei ao Senhor na cela onde havia mais de 20 prisioneiros dormindo no chão. Meu supervisor me ouviu chorando e não conseguiu dormir. Depois de três dias, ele me devolveu a Bíblia mas me penalizou de outras maneiras.
Na prisão eu estava sendo bem tratado. Isso acontecia porque um dos oficiais da prisão era um parente distante. Isso fez com que os outros prisioneiros tivessem inveja de mim, apesar de eu achar que era tratado como qualquer outro, de modo que eles tentavam me criar problemas. Quatro deles tentaram provocar uma briga comigo para afetar meu bom comportamento, mas não conseguiram. Em seguida, eles foram transferidos para outra prisão. Eu não soube dessa conspiração até que, posteriormente, fui avisado por alguns outros prisioneiros.
Em outro incidente, outra pessoa também tentou me provocar para que eu perdesse a calma e partisse para briga, me obstruindo toda vez que eu tentava concluir uma tarefa. A intenção era me fazer entrar numa briga, de modo que eu fosse transferido para outro lugar. Mas eu não sou do tipo que perde a calma e eles se frustraram. Depois, ele também foi transferido para uma prisão no leste.
Eu não tinha conhecimento de nenhuma dessas conspirações para me desacreditar até que um dos prisioneiros me abriu os olhos. Ele disse: Velho Ning, você percebeu que todo mundo que tenta prejudicar você acaba sendo transferido? Então percebi a maravilhosa mão de Deus e como Ele era a minha proteção. Todos eles tinham intenções malignas mas nenhum deles conseguiu que eu fosse transferido.
O Senhor me deu uma oportunidade muito boa enquanto eu estava na prisão. Toda noite os prisioneiros tinham uma espécie de reunião. Eu tinha feito um acordo com o líder da cela de que se eu cumprisse todas as minhas obrigações ele permitiria que eu recebesse minha Bíblia. Fiz minha parte e ele cumpriu a palavra. Certa noite, o líder me disse: Queremos que você nos fale sobre Jesus nos nossos encontros noturnos; ninguém fará objeções. Respondi com alegria: Tudo bem! Eu pude compartilhar o evangelho toda noite, por meia hora, durante 15 dias, até que a chefia da prisão descobriu o que estava acontecendo. A pregação acabou, mas eu recebi apenas uma advertência. Durante aquele período, compartilhei com eles sobre Deus, a criação, Jesus, o pecado, a salvação etc.
Senti-me extremamente cansado depois da viagem de um dia inteiro para a casa. Senti que nada mudou desde que fui para a prisão. Claro que lá tínhamos a vida regrada e não podíamos fazer o que quiséssemos, quando quiséssemos. Por exemplo, havia uma determinação de que teríamos arroz nas refeições apenas quatro vezes por mês e tínhamos atividades fixas durante todo o dia. Agora, de volta para casa, eu tinha liberdade para fazer o que eu quisesse e a qualquer hora, e havia só três pessoas em casa, em vez de muitas outras à minha volta todo o tempo.
O maior incentivo eram as constantes orações por mim. Além disso, muitos irmãos vinham me visitar na prisão. Havia alguns, como algumas senhoras idosas, que empreendiam a árdua viagem para me visitar na prisão. Perdi minha mãe quando jovem, mas as visitas daquelas senhoras me faziam sentir como se eu não estivesse sem o amor materno. Os oficiais da prisão ficavam admirados de como eu podia ter tantos "parentes" de tão diferentes províncias. Sou realmente grato pelo apoio que os membros da minha igreja demonstraram durante minha prisão.
Estou muito, muito grato a todos os irmãos e irmãs porque desde que fui preso, oraram por mim continuamente. Vocês todos não só oraram por mim, mas também apoiaram e oraram por minha família tanto quanto apoiaram o meu ministério. Estou profundamente grato a Deus. Sempre que havia uma necessidade, a ajuda vinha prontamente, sem que fosse preciso dizer uma palavra. Apesar do meu trabalho ter sido interrompido nesses poucos anos, esse tipo de apoio não só me ajudou no ministério, mas também ajudou na obra de Deus em toda a China. Tanta literatura cristã, tantos colaboradores ajudando a edificar o ministério. Que Deus abençoe a todos por todo amor e apoio, apesar de nunca termos nos encontrado. Só o amor de Deus pode tornar isso possível.
As visitas dos meus irmãos e irmãs sempre me encorajavam grandemente. Sempre que eu estava me sentindo abatido e alguém vinha visitar-me, meu espírito imediatamente se erguia. Outro dia, um dos irmãos contou que, desde o dia em que fui para a prisão até o dia da minha libertação, os colegas não pararam de orar e jejuar por mim todos os meses.
Estou realmente tocado pelo amor que tantos irmãos e irmãs demonstram por mim, seja na China ou no exterior. Esse é na verdade o maravilhoso trabalho de Deus."
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