Portas Abertas • 3 dez 2018
Mulher iraniana (foto representativa)
A prisão desnecessária e extraordinariamente violenta como a do pastor Yousef Nadarkhani é apenas um dos indicadores da intensificação da caça aos cristãos na República Islâmica. “O regime iraniano continua a violar a lei internacional sobre a liberdade de religião ou crença. Nos últimos quatro meses, cerca de 20 cristãos iranianos foram presos ou condenados à prisão. Há mais casos do que publicamos, pois alguns precisam ser mantidos em segredo para garantir a segurança da pessoa envolvida”, diz Kia Aalipour da Article 18, uma organização que advoga em favor dos cristãos iranianos.
A Article 18 observou que as sentenças de prisão dadas são altas. Amin Afshar Naderi, que se converteu do islamismo ao cristianismo, recebeu uma sentença de não menos de 15 anos. “O processo judiciário é mais longo e geralmente acontece com ameaças para coagi-los a deixar o país. Aqueles que recebem sentenças altas são cristãos que se recusam a ser intimidados e a deixar o país após suas primeiras detenções. No entanto, há sinais de que agora sentenças de prisão de 5 anos ou mais também são comuns para pessoas presas pela primeira vez”, diz Kia.
Kia explica por que ele acha que o governo está aumentando a pressão sob os cristãos: “O número de cristãos convertidos aumentou, e isso tem alarmado as autoridades iranianas; portanto, eles começaram a impor mais restrições às igrejas, especialmente àquelas frequentadas por cristãos de origem muçulmana. O governo também continua sua política de empobrecer ativamente os cristãos pedindo fianças exageradamente altas. ”
Sara, da Portas Abertas, diz que a situação atual é muito prejudicial para a igreja secreta no país: “O encarceramento afeta muito os cristãos. Eu encontrei cristãos cuja vontade de compartilhar o evangelho quase desapareceu após a sua prisão. Eles pareciam ter pouco ‘espaço na mente’ para qualquer coisa que não fosse o trauma que enfrentaram. Eles precisam lidar com o trauma antes de poderem dar os próximos passos, o que pode levar anos”.
Kia diz que o que os prisioneiros realmente precisam é dar sentido a sua experiência e encontrar um significado para seu sofrimento. “Alguns são considerados heróis por um dia ou dois e depois a solidão se instaura. Somente aqueles que encontraram um significado para o seu sofrimento e o veem como uma pequena parte da maior obra-prima de Deus sobrevivem e prosperam”.
Outro problema que Sara e seus colegas veem é o dos líderes cristãos locais: “O governo identifica líderes influentes, pressiona-os e, direta ou indiretamente, obriga-os a deixar o país. Se eles não saem do país, a chance de serem presos e levados para a prisão aumenta. As longas sentenças de prisão dadas recentemente aumentam essa pressão. Um resultado do êxodo de líderes experientes é que muitos jovens cristãos acabam em posições de liderança, também, cedo demais”.
A pressão sobre cristãos locais também é alta. Uma líder da igreja no Irã compartilhou: “Muitos cristãos no Irã estão feridos e cansados, sem consolo. Eles precisam ser renovados em sua fé. E, devido à situação econômica ruim em nosso país, muitos estão emigrando”.
Os que permanecem no país muitas vezes vivem isolados, com medo de se reunirem nas igrejas domésticas. “Isso é problemático, pois sabemos que os cristãos secretos veem a comunhão como um dos aspectos mais importantes de sua vida cristã, e dizem que precisam do apoio uns dos outros para ajudá-los a crescer”, diz Kia.
Contínuo crescimento, apesar das perseguições
Isso significa que a igreja secreta está morrendo lentamente e o regime é eficaz em sua abordagem? “Não” é a resposta firme de uma líder cristã. “Depois das prisões, a maioria dos membros da nossa igreja começou a falar às suas famílias com mais ousadia sobre Cristo, e muitos novos convertidos se juntaram a nós. E, apesar do que aconteceu, ainda nos encontramos e saímos em viagens de evangelização. Apesar de nossas fraquezas, Deus tem nos usado como suas mãos”.
“Embora nem todos os cristãos sejam tão corajosos quanto este evangelista, nós realmente recebemos indicadores do número de cristãos no Irã crescendo, apesar da situação. Mas o crescimento é frágil, especialmente nessa situação. A questão é, como esses novos cristãos crescerão sem a ajuda de uma igreja doméstica ou, se estiverem em uma igreja doméstica, com um líder inexperiente?”, diz Sara.
Apesar dos riscos, líderes da igreja secreta no país não perdem a esperança e continuam a lutar. “Sou grato por poder servir a Deus no Irã. Apesar de todos os problemas e dificuldades, a misericórdia e a graça de Deus estão sempre conosco. E nós somos gratos por aqueles de fora do Irã que nos apoiam - Deus tocou seus corações”, compartilhou um deles.
Outra líder confirma que a igreja secreta iraniana, mais do que nunca, precisa da igreja livre ao lado dela: “Em primeiro lugar, graças a Deus, que fortalece e protege seu corpo. E graças a Deus pelos corações que batem pelas outras partes do corpo; pelos “Arãos” e “Hurs” que Deus colocou além de Moisés (Ex 24); e para aqueles que estendem suas mãos a Deus para orar por um despertar espiritual”.
A Portas Abertas defende aqueles que estão presos por sua fé cristã no Irã e organiza seminários pós-trauma para ex-prisioneiros que agora, permanente ou temporariamente, vivem na Turquia.
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