Portas Abertas • 17 set 2024
Pastores locais compartilham como enfrentam a crise na Venezuela (foto representativa)
Nas últimas semanas, a Venezuela ganhou foco no cenário global por causa da crise política e social que afeta o país. A situação se intensificou após as eleições presidenciais, na qual Nicolás Maduro foi declarado vencedor. As dúvidas sobre a legitimidade dos resultados inflamaram a inquietação da população.
O principal opositor de Maduro, Edmundo González, tem dedicado esforços para comprovar suas alegações de fraude eleitoral, o que resultou em mandado de prisão contra ele e na necessidade de fugir do país. Apesar da distância, os questionamentos de Edmundo continuam a despertar protestos e mantêm a tensão na Venezuela.
Em uma aparente tentativa de retomar o controle do país e acalmar os ânimos, Maduro declarou que adiantará o Natal deste ano. Parceiros locais da Portas Abertas conversaram com pastores e líderes cristãos locais sobre a crise atual e como a fé deles tem respondido a esse momento de incertezas.
“A eleição foi uma grande decepção para os que tinham esperanças de mudanças para o país. O mandado de prisão de Edmundo Gonzáles é injusto, pois exigir a verdade e a transparência sobre os votos não é um crime”, afirma o pastor Raul*.
“Quanto à declaração de que o Natal será adiantado, não acredito que seja possível determinar quando celebraremos o nascimento de Jesus. Sob uma perspectiva econômica, parece uma estratégia para justificar um aumento dos salários e adiantar bônus tradicionais das festividades no fim do ano”, disse o pastor.
Outro líder cristão, o pastor Javier*, afirma que “havia um forte anseio por mudanças nessas eleições, ainda que não imediatamente, mas as pessoas queriam um novo governo. Elas querem fazer o que for necessário para melhorar a economia, especialmente para que familiares que foram procurar novas oportunidades no exterior possam voltar para a Venezuela”.
A tristeza ainda paira sobre o país, mas a resignação tem superado esse sentimento, mais do que a esperança que estava crescendo antes das eleições. A retaliação contra Edmundo González já era esperada, assim como a tentativa de prisão, para parar o que ele estava fazendo, assim como aconteceu a María Corina, outra candidata da oposição.
“Como muitos, acredito que adiantar o Natal é uma forma de distrair as pessoas do desapontamento causado pelas eleições e pelas mentiras que têm sido ditas. Para acalmar os ânimos e parecer que tudo voltou ao normal e o poder está mantido. Eles provavelmente farão decorações temáticas e entregas de presentes para as crianças como costumam fazer em dezembro”, acrescenta o pastor Javier.
"Hallacas", prato típico natalino venezuelano
Apesar das distrações, a realidade é que, mesmo nos anos anteriores, no Natal, as pessoas não têm dinheiro sequer para um dos pratos típicos mais simples, hallacas, quanto mais para outras tradições de Natal.
“Vejo as medidas como um ato de desespero do governo. O que aconteceu no dia 28 de julho está claro tanto para a Venezuela quanto para o mundo e não pode ser ignorado. É uma óbvia tentativa de dispersar a tensão”, conta o pastor Antonio*, outro líder cristão venezuelano.
“O sentimento geral é de que as pessoas estão atentas, esperando o próximo acontecimento. Mas somos um povo alegre, mesmo nas adversidades. É possível que as pessoas aceitem o feriado adiantado e saiam para as compras, mas outras pouparão seus recursos, tendo em visto que não sabemos o que acontecerá nos próximos meses.
“Como filhos de Deus, continuaremos a confiar no Senhor enquanto enfrentamos os desafios reais de nossa nação. Como venezuelanos, oramos pelo país, como a Bíblia diz, e pedimos a intervenção dos céus. Entendemos que tudo que está acontecendo em nosso país e em todo o mundo coopera para os propósitos de Deus. Ore conosco”, conclui Antonio.
*Nomes alterados por segurança.
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