Portas Abertas • 26 nov 2019
Apesar da expulsão, Rosário não guarda rancor no coração e vive nova vida em outra cidade
A certeza de ser filha do rei Jesus manteve Rosario Pérez Martinez firme até quando perdia a casa onde morava, no estado de Chiapas, México. Em agosto de 2017, um grupo de moradores da comunidade de Yatzil Tres Lagunas destruiu o encanamento e as instalações elétricas da casa do irmão dela, Brígido. Mais tarde, a mesma coisa foi feita na residência da cristã. Mas ela não ficou aflita pelas perdas materiais, e sim pela segurança dos filhos. Para alívio de Rosario, eles foram levados para outro lugar e estavam protegidos.
No dia seguinte, a cristã estava com o coração angustiado. "Eu disse aos meus filhos que iria fazer algumas compras, mas me senti obrigada a dizer-lhes que, se algo acontecesse comigo, eles deveriam pegar algum dinheiro e ir até a tia Hortensia, esposa do meu irmão Brígido, e ficar lá", conta.
Então, após andar alguns metros, Rosario foi agarrada pelos braços e levada por um grupo de mulheres até as autoridades municipais. Ela ficou em um local sujo e repleto de fezes de morcego, desde as 6h da manhã até o dia seguinte. “Pedi a Deus por paciência e autocontrole. Foi muito difícil. Não pude conversar com meus filhos por várias horas. Estava muito frio e eu ainda usava as mesmas roupas. Finalmente, meu filho mais velho veio e me trouxe uma camisola”, lembra.
Enquanto a cristã estava detida, os pais dela cuidavam dos filhos. O primogênito foi a Comitán procurar ajuda para soltar a mãe, mas não encontrou. Ele resolveu fazer uma denúncia no jornal local, então os policiais prenderam o garoto também, por dois dias. A mãe e o filho foram libertados após assinarem um documento concordando em deixar a comunidade e ter a casa incendiada. “Assinei o documento porque meus pais vieram com muitas pessoas de outra comunidade próxima que estavam dispostas a nos ajudar. Não pude voltar para minha casa, não aguentava vê-la sendo destruída”, explica.
Novas perspectivas de vida
Rosario foi cercada pelos moradores e todas as estradas também foram bloqueadas por eles. Mas o pastor da igreja que ela frequentava a ajudou a deixar o local, levando-a para a rodoviária. Finalmente, a cristã se estabeleceu em Villa de Las Rosas, cidade próxima a Comitán. O marido dela trabalha em outro estado por causa de melhores oportunidades de emprego e salário.
Além de cuidar dos cinco filhos, a cristã administra uma fazenda de porcos, criada com microcrédito fornecido pela Portas Abertas. Dessa maneira, ela tem uma fonte de renda para sustentar a família. “Eu odiava todas essas pessoas, mas percebi que o ódio não é bom. Estamos começando uma nova vida, tentando curar e esquecer completamente. Meus filhos ainda estão ressentidos. Eles me dizem que nunca desejam voltar a nossa cidade natal”, completa.
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