Portas Abertas • 3 jan 2015
Ele puxou conversa. Pediu-lhe água, mas o jarro estava vazio. Então o homem ofereceu-lhe uma água diferente, que só ele possuía. Ela quis aceitar, mas logo se lembrou de sua própria história, o porquê de estar no poço àquela hora do dia, e retrocedeu. Quis saber mais sobre ele. Havia ouvido falar a respeito de alguém parecido, mas não o conhecia. O homem lhe revelou sua identidade, e essa verdade fez com que a mulher descobrisse quem ela mesma era. A oferta dele significava a restauração que ela não imaginava ser possível (texto baseado em João 4).
Fazeela* também puxou conversa. Aquela era uma de suas primeiras alunas, uma adolescente de 12 anos, cujos olhos haviam, há muito tempo, perdido a inocência. Filha de uma cabelereira e de um fabricante de bebidas alcoólicas, aquela menina fora gerada para trazer lucro à família por meio da prostituição. Seu nome não poderia ser mais sugestivo: Dalila.
Fazeela se mudara com sua pequena família para a cidade paquistanesa de Shahtootnagr com o objetivo de alfabetizar os cristãos da cidade, extremamente carentes. Quando conheceu Dalila, a professora percebeu que o analfabetismo era apenas uma das limitações daquela comunidade. A muito custo, ela entendeu que, devido à perseguição e à discriminação, os cristãos foram forçados a executar trabalhos braçais, como o de varrer ruas. Seus filhos não podiam frequentar a escola, e suas filhas eram repetidamente molestadas e abusadas pelos homens que as empregavam. Assim, decidiram: “Em vez de deixar nossas mulheres serem estupradas, vamos fazer disso um negócio”. Duas gerações depois, mulheres como Dalila e sua mãe acreditavam que eram parte dessa classe de prostitutas e varredores de ruas.
“Eu achava que meu papel nesta vida era o de garantir uma renda fácil para meus pais. Para mim, era uma honra voltar para casa na manhã seguinte levando dinheiro para minha família”, explicou Dalila à professora. Ela ainda admitiu: “Não via nada de diferente em relação às moças que eram protegidas pelos parentes, frequentavam a escola e a igreja, e se casavam. Elas haviam nascido com aquela honra; nós, com essa”.
Adoradora
Fazeela compreendeu que Deus a levara a Shahtootnagr para restaurar a honra e a dignidade de seus filhos. Assim, além de ensinar as mulheres a ler, escrever e fazer contas, ela passou longas horas aconselhando-as e intercedendo por sua libertação.
As mudanças vieram aos poucos. Para mulheres como a mãe de Dalila tem sido difícil se libertar de um estilo de vida estabelecido há décadas. Mas sua filha já deixou claro que não vai seguir os passos da família. Cedo pela manhã, ela vai à igreja e lê sua Bíblia, um presente que recebeu ao passar nas provas da escola de alfabetização. Como a mulher samaritana, Dalila encontrou respeito ao conhecer o Jesus sobre quem apenas ouvira falar. “Quero viver uma vida de adoradora”, diz a adolescente, agora com um brilho diferente no olhar.
Amanhã, confira o último texto dessa série e leia o relato de Zohra*, de Bangladesh.
*Nome e foto alterados por motivos de segurança.
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